domingo, 31 de janeiro de 2010

"Sobre um 'povo' como espécie em vias de extinção"


A propósito de um artigo de João César das Neves no DN, António Guerreiro, no seu Ao Pé da Letra, no Expresso, publicou um artigo que, pela sua importância, transcrevo:

Comentando os últimos dados da taxa de fertilidade, João César das Neves proclamava, esta semana, no "DN": "Somos um povo em vias de extinção."
A que entidade se refere o cronista? Que povo é este que falta às regras da procriação e se extingue sem glória? Não é o povo como sujeito político e soberano. Não sendo este corpo político unitário (que, de resto, não se reproduz nem se extingue, pode é ser aniquilado no seu direito), também não é uma outra realidade que a palavra "povo" designa: a arrai-miúda, o "menu peuple", a classe que ocupa a parte inferior da pirâmide social (que é, dizem os sociólogos, cada vez mais numerosa). E também não é a entidade com a qual identificamos uma forma de enraizamento popular. O "povo" de J.C.N. é um tipo singular ("em vias de extinção", como dizemos das espécies).
E tal coisa existe? Se entendermos que alguém que se naturalize português continua a não fazer parte da espécie; daí a exortação de J.C.N. à procriação. A espécie só existe como construção, figuração mítica poderosa que, na melhor das hipóteses, é "Kitsch" e, na pior, serve fins sinistros. Quem não ouviu falar do "Volk" alemão?

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