quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

"Independência"

Amanhã celebrar-se-á pela última vez, tanto quanto está previsto, o feriado da restauração da independência de Portugal. E é sintomático que o Governo tenha sacrificado o feriado da independência nacional como um simbólico penhor da subordinação do País ao jugo dos agiotas.

Um país que é forçado por outros a pedir emprestado, pagando de juros 50 por cento do valor concedido, é um país ocupado pela usura. Nunca Portugal foi tão dependente. Durante a maior parte da ocupação dos Filipes, à qual a revolução de 1 de Dezembro de 1640 pôs fim, Portugal podia, pelo menos, cunhar moeda e governar-se em autonomia política e administrativa. E quando deixou de ser assim e passou a depender, como agora, de um poder centralizado pelos burocratas estrangeiros, que em tudo metem o bedelho e sobre tudo dão ordens e aplicam sanções, os portugueses de bem revoltaram-se e expulsaram o ocupante e respectivos colaboracionistas. O mais desprezível dos colaboracionistas foi expulso pela janela.

A Europa deixou de ser uma União, como antes deixara de ser uma Comunidade, para ser um continente ocupado por agiotas. A próxima etapa desta deformada União, gizada no papel, é a divisão da Europa num subcontinente de pobres que alimenta o clube dos ricos. O lugar de Portugal, país dependente, sem voto na matéria, é obviamente no subcontinente dos Zé Ninguém.

Sucede que os acontecimentos podem prever-se e determinadas causas podem produzir previsíveis efeitos. Mas a História escreve-se depois dos acontecimentos e à distância. E quem sabe se o abolido feriado da independência nacional passa a ser toque de rebate por um País soberano, livre e justo, em incessante busca de "um dia inicial inteiro e limpo". (Sophia de Mello Breyner Andresen).

Um texto de João Paulo Guerra, publicado no Diário Económico a 30/11

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