domingo, 24 de junho de 2012

"A questão da especulação financeira" - um artigo de Fernando Belo


Fernando Belo é Professor jubilado de Filosofia da Linguagem da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Este artigo foi publicado no Expresso de ontem.

1.
Para se entender o que se chama ‘especulação financeira’, termo mais correto do que designar as bolsas por ‘mercados’, será necessário fazer o contraponto entre as duas principais correntes de teoria económica do século XX, entre Keynes e Friedman. Não é necessário ser economista para se saber que a economia política que o primeiro propôs teve efeitos muito benéficos nos trinta anos que se seguiram à última grande guerra, efeitos de construção social e económica que evitaram a oposição entre estas duas dimensões da habitação humana. O objetivo ‘política’ que se opõe à sua teoria económica ao serviço do social, isto é, da habitação dos humanos, consistiu em fomentar a solidariedade com o crescimento económico e a respetiva liberdade de salários crescentes também: tratou-se da coisa democrática em termos de economia, esta correlativa no campo jurídico com a afirmação de contratos de trabalho dignos, que respondiam à grande tradição liberal clássica que contestara a conceção aristocrática e hierárquica de sociedade colocando o eixo social no contrato entre duas vontades livres e responsáveis, numa sociedade de contratos entre cidadãos. Foi a isto que na Europa do século XX se chamou social-democracia, em que a economia é apenas ciência dos mercados e não de toda a sociedade, é apenas ciência do que se joga entre instituições que vendem e compram, entre elas e famílias, mas não é ciência da educação, nem da saúde, nem da segurança pública, nem da justiça ou da administração do Estado como regulador social imprescindível. Ciência dos mercados é aquela que sabe da redução que a moeda, operadora de trocas, efetua de tudo o que não é mercado e que por isso tem de ter necessariamente em conta as outras dimensões sociais que lhe escapam. É, aliás, este o ponto de vista de quem governa no lugar do Estado ou dos municípios: nessa época keynesiana dos chamados trinta gloriosos anos, ainda estas instituições eminentemente políticas tinham poder de intervenção junto das grandes empresas que se estavam alçando à globalização neocolonial.


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