segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Cigarra e Poesia

Uma Cigarra

De coração puro e sedento,
Toda a noite em vão cantaste -
A última nota exalada,
Entre árvores verdes, indiferentes.
Arrastado como um destroço
Deixei que as ervas ocupassem o jardim.
A ti, cantora, agradeço o conselho
De uma vida pobre e honesta.

Li Shang-Yin


O enterro da cigarra

As formigas levavam-na… Chovia…

Era o fim… Triste outono fumarento!
Perto, uma fonte, em suave movimento,
cantigas de água trémula carpia.
Quando eu a conheci, ela trazia
na voz um triste e doloroso acento.
Era a cigarra de maior talento,
mais cantadeira, desta freguesia.
Passa o cortejo entre árvores amigas…
Que tristeza nas folhas… que tristeza!
Que alegria nos olhos das formigas!…
Pobre cigarra! Quando te levavam,
enquanto chorava a Natureza,
tuas irmãs e tua mãe cantavam…

Olegário Mariano

Sem comentários: