sexta-feira, 28 de junho de 2013

Crónica de um sequestro não anunciado


Ontem fiz greve!

Ontem fui à manifestação do Rossio a São Bento convocada pela CGTP.

Ontem fui sequestrada pela polícia:

Cerca das não sei bem que horas, talvez 16:30, indo a subir a Rua de São. Bento, em Lisboa, começou a passar uma manifestação, tanto quanto sei hoje, espontânea. Encontrei vários amigos e juntei-me. Chegados ao Largo do Rato, os acessos à esquerda e à direita estavam cortados pela polícia. Não houve  qualquer ordem de dispersão ou qualquer aviso de que a dita manifestação não poderia continuar. Ao contrário, a polícia indicou o caminho em frente.

E o caminho foi a Rua Dom João V. Tal como anteriormente, todos os acessos à esquerda ou à direita estavam cortados pela polícia.

Passando a zona das Amoreiras, apercebi-me que o único acesso disponível seria o acesso à autoestrada. A certa altura, comecei a ouvir a palavra de ordem "a ponte é nossa". Ora, face a estas duas circunstâncias, e como não estou interessada em cortar o trânsito na ponte 25 de abril, em qualquer circunstância, resolvi abandonar a manifestação. Mas, extraordinariamente, fui impedida: o Sr.agente à minha direita impediu-me e disse: a Srª não pode sair, já para dentro! Isto é, não sou livre de sair de uma manifestação e circular.

O percurso continuou até chegar debaixo do viaduto Duarte Pacheco. À nossa espera estavam cerca de 30 polícias de choque com cães; ao nosso lado, posicionaram-se, à esquerda e à direita, não sei quantos; atrás a mesma coisa. Estava sequestrada!

Após cerca de 1 hora de espera (nem vale a pena falar da aflição de muita gente), tivemos ordem de voltar para trás. Sempre com o mesmo quadrado de agentes à nossa volta.

Antes da bomba de gasolina da Galp, enfiaram-nos para o "curral" onde estivemos até às 2 horas da manhã. Entretanto, todos foram identificados, revistados e apalpados. Não havia casa de banho e quem quisesse utilizava o WC das "hortas". Água... só com muito custo... finalmente alguns amigos conseguiram convencer um polícia a aceitar a entrada dessa perigosa substância. Advogado (a)? Foram precisos cerca de 20 minutos para que, esse direito essencial fosse compreendido pelas forças de segurança, e uma advogada pudesse lá entrar e falar com os detidos (estava em causa a assinatura de documentação de que ninguém sabia do que se tratava).

Finalmente, 30 a 40 agentes, nas piores condições de trabalho, foram obrigados a preencher 3 impressos por pessoa, em pé e sem luz (a minha homenagem a estes trabalhadores).

Conclusão: 226 pessoas tiveram que comparecer hoje no tribunal às 10h00.

O que se passou aí fica para outra crónica.

Finalmente, uma pequena opinião sobre a posição da CGTP sobre este acontecimento:

Tal como para o PCP, para a CGTP manifestações e acontecimentos de que não sejam o líder são "contrários" aos interesses dos trabalhadores. Para a CGTP, o direito de manifestação em dia de Greve Geral é só dela. Lamentável!

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