quinta-feira, 29 de junho de 2017

"Un air de Murmures"



Un air de Murmures est une histoire de bienveillance entre deux grands-mères malades au sein d'un hopital.

A Whisper's sound is a kindness story between two sicks grandmas in an hospital.


Un air de Murmures from Cheyenne CW on Vimeo.

Lettre de Guillaume Apollinaire à Lou


Guillaume Apollinaire (26 août 1880 – 9 novembre 1918) était un grand poète, mais aussi un soldat : en 1914, il s’engage volontairement pour l’armée française, à Nice. Lorsqu’il écrit la lettre suivante, il ne connaît Louise de Coligny-Châtillon, dite Lou, que depuis trois mois. Cependant, il l’aime déjà follement et n’hésite pas à se montrer explicite, au milieu de poèmes et de déclarations moins audacieuses. C’est encore à Lou qu’Apollinaire pense quand il passe Noël loin d’elle, avec ses camarades de l’armée — dans une atmosphère pour le moins virile et enflammée, elle aussi. La preuve dans cette lettre !

24 décembre 1914

Lou adore, je suis triste cette veille de Noël car voici le 3e jour que je ne reçois pas de lettre de toi. Tu m’oublieras terriblement. Et dans ce cas je ne sais s’il faut me désoler ou t’en vouloir. Il y a des moments où je t’en veux de m’oublier ainsi, et j’ai envie de te cravacher. J’ai essayé aujourd’hui un martinet et un fouet conducteur, les deux vont bien et je crois que tu y goûteras si tu ne tiens pas tes promesses.

Pourquoi n’écris-tu pas ? C’est insensé de me laisser ainsi sans nouvelles. J’en ai les nerfs malades.

Finalement j’aurai ma permission pour Nice et elle sera de 48 heures sur lesquelles beaucoup seront consacrées au voyage. Je te télégraphierai tout à l’heure.

[…]

Mais toi, Lou, écris-moi, dis-moi ce qu’il y a, ce qui se passe, ne me laisse pas inquiet. J’ai reçu des nouvelles d’Albert, mon frère.

Il y avait ce soir au courrier 42 lettres pour moi. J’ai paraît-il battu le record de tous les régiments de Nîmes où se trouvent en ce moment 17 000 hommes. Mais parmi ces 42 lettres pas une de mon Lou, mon Lou m’oublie. Mon Lou ne songe pas qu’il me rend malheureux et que s’il doit me rendre malheureux, il eût mieux valu qu’il ne vînt pas me faire de promesses, puisque j’étais parti sans espoir, maintenant qu’il a lui comme une certitude, s’il s’éteignait il faudrait rudement serrer les dents pour se reprendre.

Écris-moi, je t’adore mais je suis furieux. Écris-moi, Lou !

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Drones - para que servem?


O Drone é um Veículo aéreo não tripulado.

Para além de servir para matar pessoas, serve para um novo negócio de fotografia, filmes, etc. E também para poder provocar desastres aéreos. Quem compra um drone não necessita de estar registado, pelo que é quase impossível detetar os inconscientes que os lançam a mais dos 120 metros autorizados. No último mês, houve vários a 900 metros ou mais que, graças aos pilotos, não conseguiram atingir os aviões da TAP, por exemplo.

Não sou contra a tecnologia. Pelo contrário. Mas espero que a legislação e a inspeção não seja o costume: casa roubada, trancas à porta.

"The Most Influential Images of All Time" - 13: Lewis Hine


Cotton Mill Girl - Lewis Hine

Working as an investigative photographer for the National Child Labor Committee, Lewis Hine believed that images of child labor would force citizens to demand change. The muckraker conned his way into mills and factories from Massachusetts to South Carolina by posing as a Bible seller, insurance agent or industrial photographer in order to tell the plight of nearly 2 million children. Carting around a large-format camera and jotting down information in a hidden notebook, Hine recorded children laboring in meatpacking houses, coal mines and canneries, and in November 1908 he came upon Sadie Pfeifer, who embodied the world he exposed. A 48-inch-tall wisp of a girl, she was “one of the many small children at work” manning a gargantuan cotton-­spinning machine in ­Lancaster, S.C. Since Hine often had to lie to get his shots, he made “double-sure that my photo data was 100% pure—no retouching or fakery of any kind.” His images of children as young as 8 dwarfed by the cogs of a cold, mechanized universe squarely set the horrors of child labor before the public, leading to regulatory legislation and cutting the number of child laborers nearly in half from 1910 to 1920.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Dia Mundial do dador de sangue - 14 de junho



Durante muitos anos dei sangue, plasma, tudo o que pudesse. Infelizmente, uma doença impediu-me, até à idade limite, de não o poder fazer mais. Foi um grande desgosto, pois estes eram os dias em que mais útil me sentia face à sociedade.

Dê sangue! Não custa nada.

Salvatore Quasimodo - m. 14/06/1968


Sei ancora quello della pietra e della fionda,
uomo del mio tempo. Eri nella carlinga,
con le ali maligne, le meridiane di morte,
t’ho visto – dentro il carro di fuoco, alle forche,
alle ruote di tortura. T’ho visto: eri tu,
con la tua scienza esatta persuasa allo sterminio,
senza amore, senza Cristo. Hai ucciso ancora,
come sempre, come uccisero i padri, come uccisero
gli animali che ti videro per la prima volta.
E questo sangue odora come nel giorno
Quando il fratello disse all’altro fratello:
«Andiamo ai campi». E quell’eco fredda, tenace,
è giunta fino a te, dentro la tua giornata.
Dimenticate, o figli, le nuvole di sangue
Salite dalla terra, dimenticate i padri:
le loro tombe affondano nella cenere,
gli uccelli neri, il vento, coprono il loro cuore.

terça-feira, 13 de junho de 2017

Fernando Pessoa - 13/06/1888



Não Digas Nada!

Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender —
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

"Segurança na reforma começa no emprego" - Sandra Monteiro



Os debates em torno do sistema de Segurança Social oscilam muitas vezes entre um discurso demasiado técnico e pormenorizado, que acaba por não ser acompanhado por todos, e um discurso quase escatológico, cheio de ameaças sobre um futuro próximo no qual supostas inevitabilidades demográficas e económicas ditariam o fim da segurança na reforma. Se o primeiro discurso tem estado ao serviço do distanciamento dos cidadãos em relação à compreensão deste subsistema, o segundo tem actuado no sentido de favorecer a sua privatização ou, pelo menos, de que lhe sejam aplicadas complexas engenharias neoliberais.

Hoje, com a Segurança Social a registar saldos positivos em Portugal, e depois da experiência acumulada com as falências de fundos de pensões e com a crise financeira, não é fácil convencer os cidadãos a desistirem de um sistema de previdência público e assente na solidariedade inter-geracional entre trabalhadores e pensionistas. Mas, depois de revertidos os cortes nas prestações e de serem resolvidas situações de evidente injustiça social, como as que penalizam as carreiras contributivas mais longas, há ainda muito a reflectir e a fazer para tornar o sistema mais justo e mais sustentável. É aqui que as evoluções na Segurança Social e no campo do emprego são determinantes, e interagem umas sobre as outras.

Na sequência do trabalho em curso na maioria que sustenta o governo sobre a Segurança Social e as novas regras para as pensões antecipadas (acesso, penalizações e bonificações), multiplicaram-se no mês de Maio notícias que vieram lembrar uma norma em vigor: a idade legal da reforma sobe todos os anos, em virtude de ter sido indexada ao aumento da esperança de vida, através de uma fórmula que define também o montante das penalizações que se aplicam em caso de ser accionada a reforma antecipada. Esta alteração não é nova. Foi a Lei n.º4/2007, de 16 de Janeiro, que aprovou as bases gerais do sistema de Segurança Social, que introduziu (artigo 64ª) esta indexação, por via do chamado «factor de sustentabilidade». Passados dez anos, quando a idade da reforma está já nos 66 anos e 3 meses, e quando é previsível um aumento de um a dois meses, a cada ano que passa, para que um trabalhador atinja a idade legal de se aposentar, o que mudou talvez foi o olhar que os cidadãos têm sobre esta construção social. Com efeito, esta construção envolve muito mais do que a Segurança Social e induz a que se pense toda a organização social.

A primeira interrogação prende-se com o rumo de uma sociedade em que as escolhas políticas parecem ser crescentemente substituídas por decisões técnicas. Num passado ainda recente, os trabalhadores e os seus movimentos sociais tinham bandeiras claras como a diminuição da idade da reforma, traduzível num número redondo que era facilmente comunicável. Agora, a complexidade técnica da medida – desta como doutras – parece desenhada para a ocultação da realidade e para a dificuldade de a transformar. Mas há mais: de repente, parece que, sem proposta nem conflito dignos desses nomes numa sociedade democrática, uma «indexação» decidiu que todos os ganhos em tempo de vida colectivamente conseguidos pela sociedade – e que não são fáceis nem adquiridos para sempre, como se vê pelas regiões do planeta em que a esperança média de vida está a regredir –, ganhos esses que se medem em avanços científicos, na melhoria do saneamento básico ou do Serviço Nacional de Saúde, têm de ser entregues, de bandeja, ao tempo de trabalho. É como se o combate pela repartição dos ganhos de produtividade que ocorrem na esfera laboral tivesse dado mais um salto, surdo, em prejuízo dos trabalhadores. Achamos mesmo que o tempo de vida colectivamente arrancado à morte deve ser gasto a trabalhar?

A questão torna-se hoje particularmente pertinente, quando surge a jusante de uma paisagem social que, a montante, padece do desequilíbrio oposto. A sociedade que obriga os mais velhos a trabalharem até cada vez mais tarde é exactamente a mesma que obriga os mais novos (e muitos já não assim tão novos) a terem carreiras contributivas marcadas por períodos de trabalho e períodos de inactividade, bem como por descontos tendencialmente baixos, quando não mesmo inexistentes durante longos anos. Para os mais velhos, o período da reforma já é tantas vezes vivido como um tempo de redução dos rendimentos, e portanto de maior risco de pobreza, que não podem verdadeiramente colocar a hipótese da antecipação e consequentes penalizações. Indexar a idade da reforma à esperança média de vida é, em países de baixos salários como Portugal, impor um aumento da idade da reforma; não é proporcionar a escolha da reforma antecipada – e sê-lo-á cada vez menos para os futuros pensionistas. Para os mais novos, pensar no momento da reforma assemelha-se cada vez mais a imaginar um futuro de pobreza, risco que aumentará se se afrouxar a vinculação das pensões a um direito formado a partir do trabalho e garantido de forma incondicional aos trabalhadores, rumo que depressa levaria a derivas assistencialistas.

Apetece dizer que não há racionalidade nesta contradição entre fazer trabalhar demais e durante demasiado tempo uns, por um lado, e fazer com que outros sejam sistematicamente arredados de empregos com direitos, com rendimentos estáveis e ritmos de trabalho razoáveis, reproduzindo do mundo do trabalho até à formação das pensões as situações de desigualdade e de pobreza que continuam a marcar dramaticamente a sociedade portuguesa. Mas, em rigor, alguma racionalidade existe: trata-se é da racionalidade neoliberal e não da que orienta objectivos de justiça social. E o que une a condição imposta a todas as gerações envolvidas é a fabricação de modos de degradar o seu rendimento disponível e as suas condições de vida.

As formas de solidariedade que importa pensar se queremos defender uma maior justiça e sustentabilidade na Segurança Social passam, por isso, por articulações entre o que se passa no seu interior e o que ocorre no mundo do trabalho. Não é possível fazer muito mais do que remendos no sistema de Segurança Social sem regressar a objectivos de pleno emprego e sem colocar no centro das políticas de emprego o combate a um sistema que continua a estar assente em baixos salários, em trabalho sem direitos, em carreiras contributivas interrompidas, em baixos descontos, em sindicatos frágeis e em ataques à negociação colectiva. Não é este o retrato que continua a caracterizar o país quando, mesmo no actual contexto de aumento do emprego, olhamos para o tipo de emprego criado e vemos salários a aproximarem-se do salário mínimo, contratos precários, etc.? Ou quando olhamos para um desemprego que baixa, é certo, mas continua próximo dos 10%, mesmo com o quadro de emigração maciça que conhecemos nos últimos anos?

A vinculação da segurança na reforma à segurança no trabalho, com a correspondente articulação de políticas públicas nas duas áreas, vai sem dúvida continuar a suscitar a oposição de instituições europeias e internacionais, marcadamente neoliberais. Mas sem essa vinculação a orientar as escolhas políticas depressa se resvala para a substituição do Estado social por um regime assistencialista. Um regime que começa por trocar o direito ao trabalho digno, e para todos, pela exploração crescente de um exército de desempregados, precários e trabalhadores pobres, para acabar a gerir uma sociedade com cada vez mais pobres, quando em vez disso devia ter sido travado, logo no emprego, um combate tenaz às desigualdades.

quarta-feira 7 de Junho de 2017

"Os anos loucos" - Serge Halimi

Aos olhos deles, a tempestade passou, a eleição de Donald Trump e o Brexit quase estão esconjurados. A ampla vitória de Emmanuel Macron entusiasmou os meios dirigentes da União Europeia. Um dos seus comentadores ajuramentados, ronronando de felicidade, considerou mesmo que se tratava do «primeiro golpe decisivo contra a vaga populista». Aproveitar o momento para fazer passar em força o programa neoliberal da Comissão Europeia entusiasma, portanto, os novos governantes franceses, que têm em mira o Código do Trabalho. Uma orientação política idêntica será agora representada em Paris por um homem mais jovem, mais culto e menos radicalmente desprovido de imaginação e de carisma do que o seu antecessor. Os milagres da comunicação e do «voto útil» permitem travestir esta ligeira mudança e apresentá-la como uma viragem histórica que abre caminho a toda a audácia. O apagamento da clivagem entre os dois campos, de que se faz chantre uma comunicação social ocidental à beira de desfalecer perante o seu mais recente prodígio, é também uma fantasia. Com efeito, desde 1983 que a esquerda e a direita francesas aplicam, à vez, a mesma política. Doravante, sectores de uma e de outra vão encontrar-se num mesmo governo. No futuro encontrar-se-ão numa mesma maioria parlamentar. Ganha-se em clareza, mas não mais do que isso.

A incrustação no poder de uma direita espanhola corrupta, a vitória dos liberais nos Países Baixos, e o novo contrato governamental prometido, talvez de forma imprudente, aos conservadores britânicos e alemães sugerem que o tempo das cóleras que marcou o ano passado pode ter perdido fôlego, por falta de saídas políticas. A eleição de Macron, tendo como pano de fundo a bandeira azul e dourada e a sua visita imediata a Berlim, assinalam em todo o caso que as grandes orientações europeias defendidas pela chanceler Angela Merkel serão vigorosamente reconduzidas. Para os gregos, essas orientações acabam de conduzir a um corte de 9% das suas pensões de reforma; os peritos já só discordam no momento de determinar se se trata do décimo terceiro ou do décimo quarto corte do género. Quanto a Donald Trump, que tem tido alguns arrebatamentos e fanfarronices capazes de preocupar por alguns momentos as diplomacias ocidentais, diga-se que a normalização da sua presidência está bastante avançada; em caso de necessidade, o seu impedimento (impeachement) está também organizado. Para garantir a completa serenidade dos timoneiros do velho mundo já só falta um regresso ao poder de Matteo Renzi, em Itália, nos próximos meses.

Durante a década de 1920, constatando que depois de uma era de greves e de revoluções a maior parte dos Estados europeus – em particular o Reino Unido e a Alemanha – haviam recuperado a sua velocidade de cruzeiro, a Internacional Comunista teve de admitir a «estabilização do capitalismo». Ainda assim, empenhada em não desarmar, em Setembro de 1928 a organização anunciou que a acalmia seria «parcial, temporária e precária». O anúncio pareceu mecânico, senão mesmo um palavreado inútil. Vivia-se a euforia dos possidentes, os Anos Loucos. A «quinta-feira negra» de Wall Street rebentou passado um ano.

quarta-feira 7 de Junho de 2017