Many people are held back from taking a stand on the issue of Palestine/Israel by the common misconception that it is “complicated." Here, we explain the steady continuation of the more than 100 year old settler colonial project that is Zionism. Palestine 101: Not That Complicated can help folks both familiar and unfamiliar with the issue understand the ongoing process of Israel’s ethnic cleansing of Palestine, and the legacy of Palestinian resistance to the colonization of their homeland.
Ideia: representação mental; representação abstrata e geral de um objeto ou relação; conceito; juízo; noção; imagem; opinião; maneira de ver; visão; visão aproximada; plano; projeto; intenção; invenção; expediente; lembrança. Dicionário de Língua Portuguesa da Texto Editora
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
"Palestine 101: Not That Complicated"
Many people are held back from taking a stand on the issue of Palestine/Israel by the common misconception that it is “complicated." Here, we explain the steady continuation of the more than 100 year old settler colonial project that is Zionism. Palestine 101: Not That Complicated can help folks both familiar and unfamiliar with the issue understand the ongoing process of Israel’s ethnic cleansing of Palestine, and the legacy of Palestinian resistance to the colonization of their homeland.
"Remembering women killed fighting for human rights in 2017"
segunda-feira, 27 de novembro de 2017
"The Most Influential Images of All Time" - 21: Robert Capa
The Falling Soldier - Robert Capa
Robert Capa made his seminal photograph of the Spanish Civil War without ever looking through his viewfinder. Widely considered one of the best combat photographs ever made, and the first to show battlefield death in action, Capa said in a 1947 radio interview that he was in the trenches with Republican militiamen. The men would pop aboveground to charge and fire old rifles at a machine gun manned by troops loyal to Francisco Franco. Each time, the militiamen would get gunned down. During one charge, Capa held his camera above his head and clicked the shutter. The result is an image that is full of drama and movement as the shot soldier tumbles backward.
In the 1970s, decades after it was published in the French magazine Vu and LIFE, a South African journalist named O.D. Gallagher claimed that Capa had told him the image was staged. But no confirmation was ever presented, and most believe that Capa’s is a genuine candid photograph of a Spanish militiaman being shot. Capa’s image elevated war photography to a new level long before journalists were formally embedded with combat troops, showing how crucial, if dangerous, it is for photographers to be in the middle of the action.
"Incêndios, territórios e fragilidade económica e social: Pensar o país inteiro "
Este texto constitui o contributo de um conjunto de investigadores de várias disciplinas que se dedicam a estudar a sociedade portuguesa dando especial atenção às questões dos territórios, da floresta, da agricultura familiar, do desenvolvimento dos espaços rurais, da administração pública e da responsabilidade social e política. Ele resulta de uma mesa-redonda pública realizada na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra no dia 3 de novembro de 2017.
O que motivou esta reflexão foi a convicção de que os incêndios que têm flagelado o país (em particular os deste ano de 2017) exigem uma tomada de consciência clara da ligação entre a tragédia e a crescente fragilização e deslaçamento de grande parte do espaço nacional, dos seus modos de vida e das economias que aí existem. Estamos perante um fenómeno complexo, multidimensional, revelador de diversos problemas: das economias agrícolas, da floresta, dos espaços rurais, da paisagem, dos territórios não-urbanos, dos próprios territórios dos núcleos urbanos fragilizados.
As propostas que aqui se apresentam reclamam uma ação integrada e estrutural centrada nos meios rurais e na floresta, na agricultura,na paisagem e no robustecimento das próprias economias de pequena e média escala urbana. Por isso, exige-se uma alteração radical do modo como o país tem tratado o seu território, orientando-nos agora para a sua reconstituição como sujeito dotado de capacidades produtivas e articulado entre si pela ação pública. E consequentemente assumem importância excecional os Programas Operacionais do Portugal 2020, incluindo o PDR, que têm de ser chamados para o financiamento das ações com efeitos a médio e longo prazos.
1. Intervir perante a urgência com sentido de longo prazo
O fogo em fúria transbordou da floresta e arrombou-nos as portas, não só em locais remotos, mas em espaços urbanos de média dimensão, colhendo vidas e meios de vida, florestas e matos, campos de cultivo e equipamentos fabris. Que mais é preciso para despertar o país de uma prolongada complacência com tendências económicas e demográficas tidas como inelutáveis de concentração em polos de competitividade a par do abandono em territórios tidos como marginais?
Se há catástrofes capazes de acordarem as consciências e o sentido da responsabilidade coletiva, a que ocorreu este ano tem de ser uma delas. Os riscos são demasiado visíveis para serem ignorados. A destruição pode impelir parte significativa das populações diretamente afetadas, mais conscientes das proporções do perigo e privadas de meios de vida, a procurarem refúgio em zonas urbanas, supostamente mais protegidas. O impacto de curto prazo pode assim somar-se cumulativamente às causas estruturais que estão na origem da catástrofe, dificultando ainda mais as respostas de médio e longo prazos que pressupõem sempre o povoamento do território.
Ao agir em consonância com aquilo que o sentido de responsabilidade exige, é portanto essencial combinar duas linhas de ação: por um lado a intervenção reparadora de urgência, capaz de regenerar – reerguer casas, fábricas e equipamentos sociais, reflorestar terrenos, evitar danos colaterais, contendo desta forma novos refluxos demográficos; e por outro lado a ação reformadora de tempo mais longo, orientada para a correção de vieses estruturais locais passiveis de solução e para a adaptação a alterações de alcance global, nomeadamente climáticas.
2. Não há solução sem haver pessoas
O Portugal democrático criou uma visão redutora de urbanização e explorou-a perigosamente. Deixou progredir a ideia de que tudo se podia basear em cada cidade e que cada uma se bastava a si mesma. Descuidou-se a provisão pública de serviços de bem-estar no meio rural e noutros pequenos meios e não houve investimento criterioso. A melhoria da vida, da saúde, do trabalho e da educação, assim como a facilidade de transporte ou o direito a férias e ao justo lazer não foram relacionadas com a agricultura e com as outras atividades em espaço rural.
Ora, as aldeias, os lugares ou mesmo casas isoladas não são sobejos demográficos, dados sem significado. Esses concidadãos que nelas vivem, afinal, quem são? São os “resistentes por opção”, os que tendo poder de escolha optaram por ficar entre os seus e, desde então não mudaram o trajeto de vida. São ainda os “resistentes por falta duma aberta”: filhos da terra presos por amarras e que até agora não ousaram a fuga. Por fim, são também os “neoresistentes”, os recém-regressados à terra na qual nasceram ou cresceram. Após a saída para a cidade (no país ou fora deste) e depois duma vida de muito trabalho e pouco lazer, retornam à aldeia-raiz, da qual nunca se desligaram afetivamente.
Ignorar esta gente que teima ficar onde ora está – in loco no meio rural - e menosprezar novos moradores só agravará o risco social dos incêndios e cavará mais depressa a sepultura do país inteiro.
Reclama-se, pois, que as políticas públicas usem em todo o seu ciclo (da concepção à avaliação) metodologias de ação que tenham em conta a perceção dos problemas por parte dessas pessoas e que interpretem as resistências como sinais de alerta para detetar e prevenir efeitos negativos de que não se tem consciência.
3. Organização florestal, modelos de silvicultura e associativismo: a sustentabilidade da floresta
A floresta está indubitavelmente no centro dos problemas e das ações a desencadear. A propriedade privada e a sua fragmentação em unidades de exploração de pequena dimensão, nomeadamente no Norte, Centro e em parte do Sul do país, são predominantes. A rentabilidade negativa de muitos espaços florestais para os seus proprietários explica grande parte do seu “abandono”, situação que se tem vindo a agravar desde meados do século passado, embora esses espaços continuem a gerar um benefício social positivo devido aos serviços ambientais que prestam à comunidade e que a contabilidade negativa da sua exploração não regista.
Do reconhecimento destes factos decorrem prioridades de políticas públicas muito precisas, designadamente as que reorganizem a produção florestal através do fomento de formas de gestão agrupada e que valorizem a multifuncionalidade dos espaços florestais apoiando os produtores que se organizem nesse sentido. . A tal finalidade devem afectar-se verbas do Fundo Florestal Permanente, através de contratos-programa de médio prazo (sujeitos a avaliação independente), complementados com recursos das autarquias locais, dos produtores florestais e doutros agentes. O envolvimento ativo das autarquias, desejavelmente ao nível intermunicipal, é essencial para a promoção dessas formas de gestão agrupada e do papel positivo que elas devem desempenhar na execução de Planos Diretores Municipais e de Planos de Defesa da Floresta Contra Incêndios.
Os contratos-programa fomentadores da gestão florestal agrupada devem incentivar a capacidade de planeamento estratégico e participativo das organizações que os promovam, e devem ser integradores das medidas de apoio nesta área (ex. sapadores, ZIF, certificação, cadastro, fitossanidade, aconselhamento técnico, formação e investigação, etc.).
A isto deve juntar-se a resolução dos estrangulamentos legais que permitem a eternização das heranças indivisas e de formas de divisão da propriedade dificultadoras da gestão ativa dos terrenos; assim como a disponibilidade de instrumentos de natureza legal, fiscal e outros que evitem situações, judicialmente comprovadas, de propriedades cujos donos são desconhecidos ou, se se conhecem, têm comportamentos que prejudicam esse esforço coletivo.
4. Uma agricultura familiar sustentável: a base produtiva de territórios vivos
Portugal tem um território muito diversificado e uma agricultura plural constituída por um mosaico de sistemas agrícolas. A agricultura familiar tem relevante expressão social, económica e territorial, pois representa 97% do número total das explorações, ocupa 56% da Superfície Agrícola Utilizada (SAU), contribuiu com 42% para o Valor da Produção Total (VPT) e tem peso muito expressivo nas Beiras, em Trás-os-Montes, no Minho e no Algarve, regiões de baixa densidade que têm perdido população e com baixos índices de conhecimento profissional e técnico. São também estas regiões que têm maiores áreas ardidas.
O Ministério da Agricultura dos sucessivos governos tem encarado a agricultura familiar como uma agricultura residual, inviável do ponto de vista económico, concedendo-lhe um apoio financeiro de natureza social, no fundo, uma política sem perspetivas de desenvolvimento. A situação atual é de rotura, pois não é possível encontrar soluções viáveis nas regiões em que predomina a agricultura familiar com o modelo dominante de desenvolvimento que tem como referencial a grande exploração - política que privilegiou cerca de 3% das explorações existentes (as explorações de grande dimensão económica) onde se concentra a maior parte dos investimentos e dos apoios aos produtores.
Existem alternativas, como bem o demonstram exemplos de regiões de outros países europeus, onde a modernização da agricultura familiar aumentou a produção, a sua valorização e melhorou as condições de vida dos agricultores, investindo prioritariamente em inovação e investigação agrária aplicada, na oferta de inovações técnicas e institucionais adaptadas a essas explorações, suportada por financiamentos públicos.
O desenvolvimento da agricultura só é possível com a coabitação de dois modelos, o da grande exploração e o centrado na agricultura familiar. A questão é eminentemente política, pois está em causa a repartição dos financiamentos públicos, dos investimentos, dos pagamentos aos produtores e dos modelos de organização territorial e setorial para apoio ao desenvolvimento.
5. A floresta, o ecossistema vital e a valorização ambiental
Precisamos de uma floresta que assegure equilíbrio entre a função económica de produtividade silvícola e a conservação dos múltiplos recursos que formam o nosso ecossistema vital. São bens essenciais e muitos serviços que não valorizamos: a qualidade do ar, a água, o solo que é o substrato da vida. Cuidar e valorizar os ecossistemas florestais é condição de riqueza do país e qualidade de vida dos portugueses, importando promover as espécies nativas e a composição diversa da floresta.
Propomos um programa integrado de apoio às aldeias, cada uma delas entendida como uma comunidade; a adoção de novos modelos de governação, formal e informal, que aproximem as decisões públicas das pessoas e que propiciem soluções mais integradas para os problemas específicos destes espaços socioterritoriais; uma aposta persistente na sensibilização e formação das comunidades para a prevenção das situações de risco; um compromisso pela edificação de uma outra floresta, apoiada em novos modelos de silvicultura, na conversão em paisagens diversificadas e na valorização dos matos e incultos; a valorização energética da biomassa, que deve beneficiar do Plano nacional de biorrefinarias proposto pelo governo no âmbito da reforma florestal.
Por sua vez, às outras produções dos espaços rurais não é possível competir com as lógicas de distribuição e mercado que lhes são impostas. As pequenas economias de escala local são assim condenadas às margens da viabilidade e as explorações agrícolas remetidas ao abandono. O contexto daí resultante não motiva a fixação de novos agentes. Importa transferir conhecimento e estimular a inovação nos espaços rurais, tendo por base novas produções, novos modelos e técnicas produtivas e uma base comercial mais justa para os respetivos produtos e serviços.
É necessário que a contratação de fornecimento de bens e serviços que tenham origem nos espaços rurais seja equacionada e formatada de forma diferente por todas as entidades públicas que deles façam uso.
6. Refazer um território nacional deslaçado: escolher uma ordem territorial e pensar o país inteiro
Temos de saber sob que ordem territorial se está a viver e que uso de território se está a fazer. Esta é uma escolha essencial que tem de ser clarificada, não podendo ser subtraída à consciência pública. As deliberações fundamentais contidas no PNPOT-Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território, tomadas na Assembleia da República por unanimidade, têm sido sistematicamente ignoradas ou contrariadas.
Os incêndios desde há muito e especialmente este ano, puseram a nu a enorme fragilização de muitos territórios do país, de diferente natureza, e a crise profunda da articulação e da solidariedade territorial em Portugal. As comunidades rurais , as pequenas aglomerações urbanas e até as cidades médias tornaram-se objetos esquecidos da política pública, que se refugiou em meras medidas de descentralização para a escala municipal ou intermunicipal, ao mesmo tempo que se afirmou um modelo de desenvolvimento unipolar, de escala metropolitana e assente na concentração de recursos humanos, em grande parte precários e com baixos salários. Na nossa contemporaneidade, o país nunca foi tão desigual do ponto de vista socioterritorial.
Precisamos agora de garantir que se olha para o país inteiro – não apenas com a razão da solidariedade, mas também como condição de eficiência. Para que se possa ficar a viver e a trabalhar em economias que o próprio território organiza e desenvolve é necessário fortalecer a malha urbana e articular as infraestruturas, olhar para os espaços que habitualmente designamos rurais e vê-los como lugares onde se pode desenvolver a produção e a valorização dos seus recursos e dos seus habitantes, assumir a importância de haver interlocutores políticos de escala regional e não apenas municipal ou intermunicipal, reconfigurar a administração pública para que ela própria exista para o território e para agir em nome dele. Chama-se a isto, desde há muito, desenvolvimento integrado.
7. Uma administração para o território: ação pública e capacitação institucional
A administração pública está hoje mais desligada do território e dos seus problemas. Múltiplas mudanças na organização e na vocação dos serviços desconcentrados desfizeram a proximidade necessária e a organização de competências técnicas e profissionais em sedes institucionais de base regional. Prevaleceu a ideia de que à política pública bastava pôr recursos financeiros a circular, difundir princípios e normativos (em geral de natureza europeia), e definir as condicionalidades a que os atores devem obedecer para serem “elegíveis” ou excluídos. Ora, continua a haver necessidade de conceber, coordenar, executar e avaliar políticas de desenvolvimento dos territórios, sendo essa uma missão da administração pública, tendo em conta as suas potencialidades e os objetivos que o país lhe atribui.
O Estado não pode apenas descentralizar missões difíceis. Tem ele próprio de assumir intervenções territorialmente integradas, fixar competências e capacidades institucionais, definindo-se os níveis apropriados (NUTS II ou NUTS III) de coordenação das ações relevantes. É neste contexto que podem ser bem estabelecidas e reforçadas, a articulação e a maior cooperação entre o Governo e as Câmaras Municipais.
16 Novembro 2017
Agostinho Carvalho, Prof. Universitário (Jubilado)
Américo Carvalho Mendes, Prof. Associado Católica Porto Business School; Presidente Associação Florestal do Vale do Sousa
António Covas, Prof. Universidade Algarve António Louro, Presidente Forum Florestal
Armando Carvalho, Engº Florestal
Helena Freitas, Profª Universidade Coimbra; ex-Coordenadora da Unidade de Missão para a Valorização do Interior
João Guerreiro, Prof. Universidade Algarve
José Castro Caldas, Investigador Centro Estudos Sociais (UC)
José Portela, Prof. UTAD (Aposentado)
José Ramos Rocha, Engº Agrónomo; Gestor de empresas
José Reis, Prof. Faculdade Economia (UC); antigo Presidente CCRC
Manuel Brandão Alves, Prof. ISEG (UL) (Aposentado)
Pedro Bingre Amaral, Prof. Insituto Politécnico Coimbra
Pedro Hespanha, Investigador Centro Estudos Sociais (UC)
Victor Louro, Engº Silvicultor; antigo Presidente Comissão N. Combate à Desertificação
sexta-feira, 24 de novembro de 2017
"Cheias de 1967. A tragédia que Salazar quis esconder"
quinta-feira, 23 de novembro de 2017
"How soon will the 'ice apocalypse' come?" - Eric Holthaus
quarta-feira, 22 de novembro de 2017
"A escravatura nunca acabou" - Alexandra Lucas Coelho
Querer lutar contra a escravatura que existe hoje é mais uma razão — e não menos uma razão — para enfrentar o que aconteceu há séculos.
1. Esta semana, a CNN revelou imagens de homens a serem vendidos na Líbia por algumas centenas de dólares. As imagens foram replicadas pelo globo, e entregues às autoridades líbias. O leilão filmado pela CNN, com câmara escondida, nos arredores de Tripoli, aconteceu no mês passado. Vários outros estavam a acontecer não muito longe, disse a repórter. Em Agosto, a CNN recebera imagens de homens a serem licitados na Líbia pelo equivalente a 400, 700, 800 dólares. Foi assim que, ao fim de dois meses de preparativos, uma equipa aterrou em Tripoli para tentar filmar essas vendas de migrantes do Niger, do Gana, da Nigéria, do Mali. No leilão a que os enviados tiveram acesso, a licitação sucedeu rapidamente: 400, 450, 550, 600, 650, 700... Em minutos, 12 nigerianos foram vendidos. Os traficantes chamaram-lhes “mercadoria”.
A reportagem mostra também um dos centros de detenção líbios em que se concentram dezenas de milhares de migrantes. Alguns deles confirmam a existência de leilões, contam que foram vendidos, sujeitos a trabalho forçado, abusos, espancamentos, mutilações.
A Líbia é um trampolim para tentar passar o Mediterrâneo. As autoridades estão a impedir as viagens de barco, de acordo com os interesses da União Europeia. Reféns dos traficantes que lhes prometiam a Europa, incontáveis migrantes acabam vendidos e revendidos.
2. As imagens da CNN mostram o que geralmente não é filmado, e têm grande poder de circulação. Mas a escravatura actual está longe de se resumir aos leilões na Líbia. O relatório do Global Slavery Index 2016 contabiliza 45,8 milhões de pessoas escravizadas em todo o mundo. Por escravizadas entende-se: trabalho forçado, casamento forçado, exploração sexual e trabalho imposto pelo estado. Mais de metade destes escravizados (58 por cento) vivem em cinco países asiáticos: Índia, China, Paquistão, Bangladesh e Uzbequistão. Em termos absolutos, a Índia é, de longe, o país do mundo com mais escravizados: acima de 18 milhões. Em termos relativos, quanto à percentagem de população escravizada, a Coreia do Norte está em primeiro lugar. Depois da Ásia, a África é a parte mais significativa deste horror, com vários países nos 10 primeiros lugares, quanto a percentagem de população escravizada. Como o índex sublinha, muitas destes cativos contemporâneos, sobretudo na Ásia, são a mão-de-obra de produtos depois comercializados na Europa, nos Estados Unidos, no Japão ou na Austrália.
Portugal aparece mais para o fim do índice (122º país) com 12.800 pessoas em situação de escravatura. O relatório indica-o como um dos 10 países do mundo que mais se têm esforçado para combater a escravatura moderna. Mas 12.800 pessoas ser um dos números mais baixos dá a dimensão do horror.
A grande maioria das pessoas escravizadas no mundo é mulher, 71 por cento. Elas são maioritárias em três categorias, incluindo trabalho forçado. A excepção é o trabalho forçado pelo estado, aí os homens são mais. E uma em cada quatro pessoas escravizadas não é adulta: 25 por cento de crianças.
3. Nigéria, República Democrática do Congo, República Centro-Africana, Líbia, Somália, Sudão, Sudão do Sul, Mauritânia são os países africanos nos dez primeiros lugares do index, em termos proporcionais (vários deles empatados). Mas, dada a dificuldade de registos, é provável que os números reais sejam muito maiores. Em alguns destes países vigora ainda, ou vigorou até há pouco, o estatuto oficioso de “servo” ou “descendente de escravo”: pessoas, por vezes famílias inteiras, que podem ser herdadas, vendidas ou dadas de presente. Muitas das mulheres com esse estatuto são usadas sexualmente, incluindo crianças. Muitas das crianças com esse estatuto não têm direito a escola. Em países como a Mauritânia esse estatuto pode abranger uma larga fatia da população. O antropólogo português Francisco Freire — que há anos acompanha a Mauritânia, e com quem falei antes de escrever esta crónica — acha que os 43 mil escravizados mauritanos referidos no Global Slavery Index 2016 estão muito aquém da realidade. Talvez um terço da população (pouco mais de quatro milhões) sofra ainda o impacto desse estigma.
4. A escravatura existe desde tempos imemoriais e nunca acabou. Algumas regiões de África praticavam-na antes de os navegadores portugueses terem chegado para a multiplicar e estimular, encorajando africanos a trazerem do interior cada vez mais “peças” humanas, de modo a alimentar o tráfico atlântico.
E a escravatura continuar a existir hoje, querer combatê-la, é mais uma razão — e não menos uma razão — para enfrentar de facto o que aconteceu há séculos, reconhecendo uma continuidade histórica de abuso e violência. No caso particular de Portugal, o que aconteceu entre os séculos XV e XIX. Se o império português foi a maior potência esclavagista do Atlântico durante vários séculos, essa memória tem de ser tributo e acção no presente. Não se trata de perder tempo com o tempo que já lá vai, quando o presente nos convoca para vidas em perigo. É também por essas vidas em perigo agora, essa desumanização brutal, que as crianças devem receber na escola uma imagem mais completa e justa do que aconteceu durante a expansão marítima portuguesa, terem acesso à escala: 5,8 milhões de pessoas escravizadas, tiradas de África, pelo império português. Tal como os políticos têm de integrar isto nos seus discursos de louvação à empreitada marítima. Tal como a cidade de Lisboa tem de reconhecer a existência destes milhões de pessoas junto aos monumentos glorificadores das navegações. Tudo isso junto é presente e futuro, é dignificação dos retirados da história, é tributo aos netos dos escravizados, é política aqui e agora, relevante para todos os que vivem juntos, de todas as cores e tons. Dará força a quem está vivo hoje, sobretudo aos que diariamente são alvo de indignidades, discriminação.
Que as crianças possam ter uma noção do horror da escravatura é a primeira base para combater o horror de hoje, bem além das notícias como o leilão da Líbia que em breve desaparecerão do “prime time”, e da comoção.
Líbia onde, aliás, a NATO interveio em 2011, para não falar da Somália ou dos tantos pedaços de caos espalhados por África, com mão das alianças do Norte.
terça-feira, 21 de novembro de 2017
"China’s Vision for the Next 30 Years" - Zhang Jun
"'The Darkness of Humans’: Investigating Mass Rape in Burma"
segunda-feira, 20 de novembro de 2017
domingo, 19 de novembro de 2017
"How to Combat Populist Demagogues" - Dani Rodrik
"Famine in Yemen finally reaches western headlines" - Helen Lackner
quinta-feira, 16 de novembro de 2017
terça-feira, 14 de novembro de 2017
domingo, 12 de novembro de 2017
"Paradises of the earth", Part 1: Gabes
Defying the artificial borders that divide them, a “solidarity caravan” of North African activists embarks on an unlikely trip to visit Tunisian communities fighting social and environmental injustice. As their white bus skirts across southern Tunisia’s arid landscape, they stop by three towns deeply affected by the country’s rabid phosphate industry and one where farmers have successfully taken back their lands. Not coincidentally, these towns are also the cradles of the 2011 revolutions which swept through their countries. For many in this caravan, these uprisings failed to not only confront oppressive socio-economic conditions in which their people lived for decades, but also environmental ones. Like many other places in the world, North Africa, has seen its resources plundered by extractivist industries which plow through the natural landscape. Often anchoring itself by making poor communities dependent on polluting industries, extractivism maintains the accumulation of capital by sacrificing people and nature. It destroys the ecosystems in its path, displacing people and leaving those who remain with nothing more than toxic waste. For this solidarity caravan, these polluting industries are just one aspect of the neocolonialism that subjugates their peoples. Each of the four episodes focuses on a different town: the polluted coastal oasis of Gabes; the dusty phosphate mining towns of Redeyef and Oum Laarayes and, finally the hope-filled experience of the collectivised lands in Djemna.
quinta-feira, 9 de novembro de 2017
"The Most Influential Images of All Time" - 20: Unknown photographer
Lunch Atop a Skyscraper - Unknown
It’s the most perilous yet playful lunch break ever captured: 11 men casually eating, chatting and sneaking a smoke as if they weren’t 840 feet above Manhattan with nothing but a thin beam keeping them aloft. That comfort is real; the men are among the construction workers who helped build Rockefeller Center. But the picture, taken on the 69th floor of the flagship RCA Building (now the GE Building), was staged as part of a promotional campaign for the massive skyscraper complex. While the photographer and the identities of most of the subjects remain a mystery—the photographers Charles C. Ebbets, Thomas Kelley and William Leftwich were all present that day, and it’s not known which one took it—there isn’t an ironworker in New York City who doesn’t see the picture as a badge of their bold tribe. In that way they are not alone. By thumbing its nose at both danger and the Depression, Lunch Atop a Skyscraper came to symbolize American resilience and ambition at a time when both were desperately needed. It has since become an iconic emblem of the city in which it was taken, affirming the romantic belief that New York is a place unafraid to tackle projects that would cow less brazen cities. And like all symbols in a city built on hustle, Lunch Atop a Skyscraper has spawned its own economy. It is the Corbis photo agency’s most reproduced image. And good luck walking through Times Square without someone hawking it on a mug, magnet or T-shirt.
segunda-feira, 6 de novembro de 2017
Hoje é dia de Sophia de Mello Breyner
Esta Gente
Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo
Sophia de Mello Breyner Andresen, in Geografia
domingo, 5 de novembro de 2017
sexta-feira, 3 de novembro de 2017
"Asia’s New Entente" - Brahma Chellaney
quarta-feira, 1 de novembro de 2017
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