terça-feira, 30 de agosto de 2011

Em saldo


Portugal vai vender nos próximos dois anos todas as participações que detém nas grandes empresas estratégicas: EDP, REN, Galp, TAP, CTT, ANA, RTP, Lusa, os seguros da CGD, CP Carga e Águas de Portugal (AdP). É uma imposição da troika, mas também a vontade do governo.

Poder-se-á perguntar: vamos ficar aos outros países da União Europeia? Somos aqueles que somos diferentes e é "preciso" alterar a situação? O cidadão "comum" deve pensar que sim. Pelo menos é o que vê e ouve na televisão. É o que os "teóricos" do capital e alguns jornalistas vendem.

Só que não é verdade. Vejamos a situação que existe nos outros países relativamente aos setores estratégicos:

  • Transporte ferroviário - o estado detém na Espanha, França e Itália as empresas ferroviárias dos respetivos países e não há perspetivas de alteração; o estado alemão detém a Deutsche Bahn (DB) que tem como objetivo a expansão (já comprou a Arriva britânica).
  • Energia - o estado espanhol detém 5% da Enagas (a empresa de redes de gás) e 20% da REE (correspondente à REN portuguesa); em França, o estado tem 80% da EDF e 36% na Gaz de France Suez.
  • Correios - Há apenas 4 países na UE em que os correios são privados e apenas num deles, a Holanda, a 100%; na Alemanha a percentagem estatal é de 69,5% e na Áustria e Bélgica 50%; até o Reino Unido, campeão das privatizações, têm os correios 100% públicos; o mesmo se passa na Espanha, França, Finlândia, Dinamarca, Itália, Irlanda, Polónia ou Suécia.
  • Água - na maioria dos países domina a presença estatal; as exceções são o Reino Unido (90% privatizada) e França (80%).
  • Televisão - Só em Portugal está na agenda a privatização de um dos canais estatais.
A presença dos estados francês e alemão nas empresas, como acionistas, mantém-se elevada na energia, telecomunicações, televisão, banca e transportes por exemplo.

Então o que se passa? Se começarmos a ver o interesse da RWE alemã e da EDF francesa na privatização da EDP, ou da Siemens no sistema de sinalética do futuro TGV, começamos a ter luz ao fundo do túnel.

Esta UE é tudo menos solidária.

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