quinta-feira, 11 de agosto de 2011

José Manuel Osório - 64 anos

Tive o privilégio de conhecer José Manuel Osório. Um homem generoso, um artista, um amante do fado e um fadista.

Da meia dúzia de vezes que estive ou me cruzei com ele tinha um sorriso para mim. E isso nunca vou esquecer.


Descansa em paz Zé Manel; e obrigada por te ter conhecido.

Fadista, investigador e ator, nasceu em 1947, na República do Zaire. É um dos mais notáveis investigadores na área do fado.

Até aos 10 anos viveu em África. O fado passava por sua casa, sobretudo na voz de Lucília do Carmo. Mas, na altura, pouco lhe interessava. Preferia a magnitude da voz de Maria Callas.

Foi quando veio para Lisboa, aos 11 anos, que descobriu a grande beleza do fado, nas vozes de Amália Rodrigues e José Pracana. Morava em Cascais e tornou-se, ainda em criança, frequentador assíduo das casas da zona. Pouco depois passou a frequentar e a participar ativamente nas coletividades. Foi assim que, aos 16 anos, ganhou pela primeira vez a Grande Noite do Fado. Dois anos depois, repetiu a proeza.


Com consciência política de esquerda e incansável opositor do regime salazarista, José Manuel Osório cantou fados de intervenção desde os primeiros discos. Estreou-se em 1965 com um duplo EP em que cantava letras de José Carlos Ary dos Santos, Mário de Sá Carneiro, Manuel Alegre, Luísa Neto Jorge, João Fezas Vital e António Botto. Foi imediatamente proibido. Dois anos depois, um novo disco, que recebeu o Prémio Imprensa, para o melhor disco do ano, com letras de António Gedeão, Manuel Alegre, António Aleixo e Natália Correia. Foi novamente proibido. Em 1969, o terceiro disco teve destino semelhante.

Entretanto, José Manuel Osório dedicou-se à sua outra paixão: o teatro. Era ator na Companhia de Teatro Estúdio de Lisboa. Representavam, nas coletividades, peças proibidas, como As Mãos de Abraão Zacuto ou Victor ao Poder. Fugiam constantemente das rusgas da polícia até que, um dia, José Manuel Osório foi apanhado e preso. Na primeira oportunidade emigrou, refugiando-se em Paris, tendo vivido o "maio de 68", e privado com José Mário Branco, Sérgio Godinho, Luís Cília, Zeca Afonso e o Padre Fanhais.

Regressou a Lisboa, nos anos 70, com a "primavera Marcelista". Gravou um novo disco, em que cantava poemas esquerdistas do início do século da autoria de Manuel da Rita Bexiga e Francisco Viana. Foi também proibido.

Pelo caminho cursou Direito e estudou piano no Conservatório, sem nunca ter chegado ao fim. Dedicou-se à investigação. E é nessa área que se distinguiu após o 25 de abril. Recebeu o prémio de Investigação Neves de Sousa, em 2005, atribuído pela Casa da Imprensa. Participou em vários estudos, destacando-se a série "Um Século de Fado" (Ediclube) e a catalogação dos fados tradicionais publicada em formato livro/disco, editada pela revista Visão, em 2005.

Em 1984, foi-lhe diagnosticada uma infeção pelo vírus da imunodeficiência humana. Desde aí tem-se debatido com essa fatídica doença, sendo apontado como um grande exemplo de resistência e de coragem. É o português que há mais anos sofre de SIDA e um caso raro de sobrevivência, mesmo a nível internacional. Apesar disso, nunca abandonou o fado. Quer como investigador quer como fadista amador, frequenta ainda a noite lisboeta. É notável a sua interpretação de Meia Laranja.

José Manuel Osório é pai do jornalista Luís Osório. A meias escreveram um livro ? Quanto Tempo, Uma Criança no Olhar (2003) - redigido como se se tratasse de uma entrevista, em que falam sobre as suas próprias vidas e o seu relacionamento difícil.

Da Infopédia

Fado da Meia-Laranja Uma interpretação inesquecível!





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