domingo, 18 de setembro de 2011

"Artistas e Públicos indignados"








Há muitas razões que nos poderiam ter feito vir aqui.

Poderíamos estar aqui por causa daquilo a que se costuma chamar o "estado da arte". O seu desgraçado estado.

Poderíamos estar aqui por causa da ausência absoluta de uma política cultural do estado, consistente e objetiva.

Poderíamos estar aqui por causa da secundarização deliberada do papel da Cultura e dos seus agentes.

Poderíamos estar aqui por causa de tudo isso, mas o que verdadeiramente nos motivou foi a necessidade de lançarmos um repto. Um repto dirigido a toda a sociedade portuguesa para que desperte para a necessidade de reagir contra o estado de apatia em que se encontra mergulhada há demasiados anos.

Um estado de apatia que tem levado ou à aceitação acrítica de um modelo sócio-político que claramente falhou; ou à contestação circunstancial, inconsequente, avulsa e dispersa desse mesmo modelo. Um estado de apatia que é apenas sobressaltado quando algum interesse ou direito corporativo é beliscado.

E isso acontece e é consequência de um clima social onde a identidade das pessoas e das comunidades parece apenas estruturada em função do direito ao consumo e a modelos recorrentes de automatismos consumistas. Não nos pode bastar exigir uma cidadania de consumidores, precisamos de uma cidadania plena.

Estamos aqui porque acreditamos que na Arte e na Cultura podemos encontrar a inspiração necessária para que um despertar coletivo possa acontecer. Esta nossa convicção profunda radica na perceção que através da experiência artística, e na sua vivência através da cultura, há um clima crítico e criativo que abre a identidade das pessoas e das comunidades a um fascinante jogo dos possíveis.

Estamos aqui porque acreditamos na urgência de um despertar coletivo que nos leve a todos a consciencializar-nos que só teremos melhores políticas e melhores políticos no dia em que formos todos melhores cidadãos.

Cidadãos portadores de conhecimento, capacidade analítica, sentido crítico e capazes de sermos responsáveis pelas escolhas individuais e coletivas que fizermos.

Cidadãos determinados a aproveitar todos os recursos que o país tem para serem donos do seu próprio destino.

Cidadãos que não abdicam do dever de interferir em todos os processos de decisão e que recusam medidas que representam atraso civilizacional e um empobrecimento geral.

Cidadãos que recusam o "chavão" de que não há alternativa e que estamos inexoravelmente condenados a "isto ou aquilo". Em Democracia há sempre alternativa e não existem destinos fatais.

Vivemos um momento de exceção que não é provocado pela "crise". Essa "crise" apenas faz salientar as nossas debilidades cívicas. Vivemos um momento de exceção que é também uma oportunidade que teremos para afirmar a nossa soberania enquanto Povo. Este é o exato momento de dizermos BASTA!

Somos todos diferentes, mas aqui e agora não somos partido nem somos facção. Aqui e agora somos Povo que sabe, como diz o outro, que "não nos pode assistir o medo".

É por isso que estamos aqui!

Artistas e públicos indignados

Lisboa, 17 de Setembro de 2011

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