quarta-feira, 2 de julho de 2014

Hoje foi dia de Sophia, mas o dia de Sophia deveria ser todos os dias


Sophia de Mello Breyner foi hoje trasladada para o Panteão Nacional. Uma importante homenagem, sem dúvida. Mas, tal como a família diz, a verdadeira homenagem seria a sua poesia fazer parte dos currículos escolares. Hoje foi dia da trasladação, mas o dia de Sophia deveria ser todos os dias.

Sophia de Mello Breyner Andresen faleceu aos 84 anos na sua residência em Lisboa, dez dias antes de receber a Medalha de Honra do Presidente do Chile, por ocasião do centenário do nascimento de Pablo Neruda. Ao longo da sua carreira, foi condecorada três vezes pela República Portuguesa.

Em 1981 recebeu o grau de Grã Oficial da Ordem de Sant'Iago e Espada, em 1987, a Grã Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e, no ano seguinte, a Grã Cruz da Ordem de Sant'Iago e Espada.

O Prémio Rainha Sofia de Espanha, em 2003, foi o último galardão que recebeu em vida, de uma lista de doze, iniciada em 1964, com o Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores, pelo livro Canto sexto.

Em 1977, O nome das coisas valeu-lhe o Prémio Teixeira de Pascoaes e, em 1984, a Associação Internacional de Críticos Literários entregou-lhe o Prémio da Crítica pela totalidade da obra.
(daqui)

Mas, tal como Joana Lopes recorda no seu bloguePoucos a recordam como resistente à ditadura, que foi durante décadas, até ao 25 de Abril. Nunca recusou uma presença, uma assinatura, uma voz, normalmente integrada no universo dos chamados «católicos progressistas».

Esta Gente

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo


Sophia de Mello Breyner Andresen, in Geografia

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