terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Hoje é dia de Gandhi




Gandhi

"La leçon iranienne" - Anthony Samrani


Cartoon de Kichka

Il est certainement trop tôt pour savoir si le cri de colère du peuple iranien, que certains surnomment « la révolution des œufs », aura des conséquences importantes sur la politique du régime. On ignore si le mouvement va pouvoir trouver un second souffle alors que les pasdaran ont clairement sifflé mercredi la fin de la partie. Compte tenu de l'appareil répressif que les durs sont capables de déployer, il faudra bien du courage au peuple iranien pour continuer à critiquer frontalement le régime – non seulement le président Hassan Rohani, mais aussi le guide suprême Ali Khamenei – comme ils l'ont fait pendant une semaine.

"A Winter Thaw on the Korean Peninsula" - Javier Solana


Throughout the history of the modern Olympic Games, the event has served as a platform for nationalism, but also for advancing peace and human dignity in the spirit of friendly competition. When the Games begin next month on the tumultuous Korean Peninsula, one hopes the legacy of peacemaking and rapprochement prevails.

domingo, 28 de janeiro de 2018

Edmundo Pedro - a minha homenagem a um jovem lutador


Tive o privilégio de ser amiga de Edmundo Pedro. Uma amizade tardia que me levou a  conhecê-lo só há cerca de 15 anos. Mas amiga. Porque o Edmundo era amigo. Independentemente das divergências políticas que possam ter havido, o Edmundo era um homem de qualidade. Tinha a mente de um jovem. E era um jovem no verdadeiramente sentido da palavra. E era um democrata que valorizava as ideias dos outros, que partia para o novo como o tal jovem que era. Um lutador.

Vou sentir a sua falta.

"Blockchain’s Broken Promises" - Nouriel Roubini


Boosters of blockchain technology compare its early days to the early days of the Internet. But whereas the Internet quickly gave rise to email, the World Wide Web, and millions of commercial ventures, blockchain's only application – cryptocurrencies such as Bitcoin – does not even fulfill its stated purpose.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

"The Most Influential Images of All Time" - 24: Tami Silicio


Coffin Ban - Tami Silicio

By April 2004, some 700 U.S. troops had been killed on the battlefield in Iraq, but images of the dead returning home in coffins were never seen. The U.S. government had banned news organizations from photographing such scenes in 1991, arguing that they violated families’ privacy and the dignity of the dead. To critics, the policy was simply a way of sanitizing an increasingly bloody conflict. As a government contractor working for a cargo company in Kuwait, Tami Silicio was moved by the increasingly human freight she was loading and felt compelled to share what she was seeing. On April 7, Silicio used her Nikon Coolpix to photograph more than 20 flag-draped coffins as they passed through Kuwait on their way to Dover Air Force Base in Delaware. She emailed the picture to a friend in the U.S., who forwarded it to a photo editor at the Seattle Times. With Silicio’s permission, the Times put the photo on its front page on April 18—and immediately set off a firestorm. Within days, Silicio was fired from her job and a debate raged over the ethics of publishing the images. While the government claimed that families of troops killed in action agreed with its policy, many felt that the pictures should not be censored. In late 2009, during President Barack Obama’s first year in office, the Pentagon lifted the ban.

Hoje é dia de Ursula K. Le Guin - RIP!!!


Uma grande escritora!

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

"Patriotism as a diagnosis" - Stanislav Markelov


Nine years ago today, Russian activist lawyer Stanislav Markelov was shot dead in central Moscow. We republish the last article he wrote before his death.

Filme recomendado - "Três cartazes à beira da estrada"



Realização de Martin McDonagh

"AN ECONOMY FOR THE 99%"


New estimates show that just eight men own the same wealth as the poorest half of the world. As growth benefits the richest, the rest of society – especially the poorest – suffers. The very design of our economies and the principles of our economics have taken us to this extreme, unsustainable and unjust point. Our economy must stop excessively rewarding those at the top and start working for all people. Accountable and visionary governments, businesses that work in the interests of workers and producers, a valued environment, women’s rights and a strong system of fair taxation, are central to this more human economy.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Hoje é dia de Martin Luther King


"“I don’t remember who I am”: diary of detained journalist facing deportation from Russia" - Ali Feruz


For people held in immigration detention, life can quickly turn into despair.

Ali Feruz is a correspondent for the Russian independent newspaper Novaya Gazeta who is currently facing deportation to Uzbekistan, where he was born — and where, according to friends and colleagues, he faces torture at the hands of the security services and possibly death. In August, Moscow City Court stopped deportation proceedings until Feruz’s case is examined by the European Court of Human Rights, and Feruz has now spent six months in deportation prison outside Moscow waiting for the decision.

"Um Jogo da Glória com o Teatro Maria Matos" - Joana Manuel


Do Marquês de Pombal para cima vai deixar de haver teatros ao serviço de quem faz teatro em Lisboa.

Setenta e sete dias após as eleições autárquicas, 52 dias após ter tomado novamente
posse como vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto deu uma entrevista em forma de Jogo da Glória, com o Teatro Municipal Maria Matos feito peão de plástico. Ao primeiro rolar dos dados é-nos prometido “um novo ciclo de programação” (e pensamos, era de esperar, dada a saída do programador), um novo ciclo vocacionado para “teatro de qualidade para grande público — comédia, drama ou teatro musical” (e pensamos, mas então o programador é a Câmara Municipal de Lisboa? que etiquetas estranhas para um teatro municipal...); e que “haverá concurso público para a selecção de um projecto artístico” (vá, menos mau, procura-se um projecto artístico).

Novo rolar de dados. E ficamos a saber que “o Maria Matos terá um modelo de programação com carreiras mais longas” (olha, não está mal pensado, há tantos espectáculos de quem toda a gente fala mas que ninguém viu por terem carreiras de três dias), terá “uma maior preocupação de captação de público, para ser rentável” (e já respiramos fundo para nos prepararmos para o que aí vem) e que “toda a exploração do teatro vai ser deixada na mão da entidade que ganhar o concurso”. E entendemos. Mais do que um projecto artístico, o Maria Matos vai ter um projecto de negócio. Como o Capitólio. Quando não se sabe ainda qual o destino traçado para o Teatro Variedades, também municipal, também em reabilitação.

Fala-se, portanto, não de um novo ciclo de programação, mas de concessionar a gestão do Maria Matos no seu todo. Setenta e sete dias após as eleições autárquicas em que nem o programa do partido que elegeu Catarina Vaz Pinto nem o discurso de campanha anunciaram esta medida. Numa entrevista que não nasce de qualquer tipo de debate público, ou sequer camarário. Este é o primeiro problema desta decisão: é intrinsecamente antidemocrática, anunciada com uma estranha descontracção, e labora em discursos circulares que se resolviam com uma resposta directa — o Maria Matos vai ser concessionado a privados e deixar, para todos os efeitos, de ser um teatro municipal. Vimos isto no Rivoli e conhecemos os maus resultados. Mas foi no Porto e já foi há muito tempo.

Os dados continuam a rolar. Entra como espelho a Culturgest, que receberá o anterior programador do Maria Matos. Sugere-se uma redundância na programação dos dois equipamentos, apesar de Mark Deputter já ter feito bastas declarações afirmando que não vai fazer na Culturgest o que fazia no Maria Matos e de, na última década, a Culturgest e o Maria Matos terem convivido perfeitamente e de forma até por vezes complementar. E num último rolar dos dados, fala-se pelos artistas e estabelece-se que a criação contemporânea, o “emergente-emergente” (mas não basta ser emergente só uma vez?), está em processo de mapeamento vertical pela vereadora: Alkantara, Gaivotas6, ZDB-Negócio, Teatro do Bairro Alto, para merecer chegar, no topo da pirâmide, ao Chiado, ao Rossio (Teatro São Luiz e TNDMII) e, quem sabe, às Avenidas Novas. Há uma espécie de loteamento da criação. Uma concentração geográfica que não se compadece de dez anos de construção no Maria Matos de um espaço de intersecção de música, teatro, performance, dança, investigação e debate, instalação e serviço educativo/infantil, com formação e experiência de equipas, melhoramento das condições técnicas, criação de dinâmicas e de públicos. A ironia (espera-se que involuntária) é que a vereadora da Cultura ainda volta a pôr o dedo numa das feridas, a de que as companhias “não têm os seus espaços, circulam pelas várias programações, às vezes com insuficiente visibilidade porque as carreiras são muito curtas”. Mas aqui apetece ser sarcástico e dizer apenas que, nesse caso, ainda bem que o Maria Matos se vai vocacionar para carreiras mais longas. Só não são para essas companhias. Não são para esses artistas. E esses artistas deixam de ser para essas geografias e demografias. Porque, visando uma maior rentabilidade, ficamos sem equipamentos dedicados à criação contemporânea e não comercial na zona norte de Lisboa. Do Marquês de Pombal para cima deixa de haver teatros ao serviço de quem faz teatro em Lisboa.

O resgate do Teatro do Bairro Alto (TBA) para a criação contemporânea terá virtudes, pode ser interessante para várias programações e programadores, mas não tem de anular a continuidade do Maria Matos como teatro municipal. Não temos espaços a mais, temos espaços a menos. E por virtuoso que seja salvar uma sala histórica e com potencialidades próprias, recambiar para o TBA os artistas e espectáculos que encontravam espaço no Maria Matos encerra vários problemas. Primeiro, a continuidade de um movimento, não exclusivo da Cultura (vale a pena falar dos CTT?), em que o sector público constrói o projecto, equipa-o, dinamiza-o, para depois o entregar a privados e “ao mercado”, enquanto simultaneamente passa a exercer as suas funções num espaço arrendado — o Teatro do Bairro Alto não é propriedade da CML. Depois, a noção de que há um tipo de criação artística e de pensamento que deve ser circunscrito a um gueto gourmet e cosmopolita e não precisa de ter acesso a outras zonas da cidade — e, portanto, a outro tipo de salas, a outros equipamentos municipais, a outras populações, a outros públicos. Porque ao fechar abruptamente o caminho que o Maria Matos tem feito, não é só aos artistas que se fecha o acesso. É a outros públicos que se fecha o acesso a determinados artistas e criações. Além de que há um acesso essencial que não está garantido no Teatro do Bairro Alto, como não está no Negócio ou nas Gaivotas: o de pessoas com mobilidade reduzida, quer como público quer como performers, criando uma forma de exclusão para um grupo de cidadãos que se vêem sem os mesmos direitos que os normalizados — um retrocesso notável no derrubar de barreiras que tanto se persegue nos discursos oficiais.

Disto decorre a petição pela gestão pública do Maria Matos*, que podemos subscrever para exigir um debate sério acerca da política de concessões de equipamentos públicos, da rede de teatros municipais em geral e do Maria Matos em particular. Temos direito a informação concreta sobre o que leva realmente a esta decisão — quais os gastos em causa? O que se procura poupar? Por que razão se aliena assim um equipamento em bom funcionamento? Qual o destino dos meios técnicos e da equipa que constitui o MM? Por que razão o tecido artístico e cultural, por que razão o público, não merecem a existência do Teatro do Bairro Alto e do Teatro Municipal Maria Matos?

Estamos perante uma decisão imposta de cima para baixo, que mistura batatas com alguidares e que, sobretudo, não ouviu os trabalhadores do Maria Matos, os artistas, o público. Não ouviu a cidade. E que continua a usar o investimento público para alimentar a lógica da mercantilização de tudo para todos. Mas para isso já temos o mercado e sabemos o suficiente para não crer na inocência do Jogo da Glória nem aceitar que os nossos equipamentos culturais sejam peões de plástico. Os poderes públicos são para outras garantias. Outras possibilidades.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

"Rohingya children left stranded amid garbage and muck in Myanmar"


UN warns of ‘toxic fear’ among tens of thousands of children trapped in Rakhine state, some of whom have become separated from their parents

"The History of the World: Every Year"


Since 200,000 BCE, humanity has spread around globe and enacted huge change upon the planet. This video shows every year of that story, right from the beginning.

"How Reading Increases Your Emotional Intelligence & Brain Function: The Findings of Recent Scientific Studies"


Reading “availeth much,” to borrow an old phrase from the King James Bible. To read is to experience more of the world than we can in person, to enter into the lives of others, to organize knowledge according to useful schemes and categories…. Or, at least it can be. Much recent research strongly suggests that reading improves emotional and cognitive intelligence, by changing and activating areas of the brain responsible for these qualities.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

domingo, 7 de janeiro de 2018

"North Korea’s prisons are as bad as Nazi camps, says judge who survived Auschwitz"


North Korea’s political prisons are just as bad as — and perhaps even worse than — the Nazi concentration camps of the Holocaust, a renowned judge and Auschwitz survivor has concluded after hearing from former North Korean prisoners and guards.

"The Most Influential Images of All Time" - 23: Dorothea Lange


Migrant Mother - Dorothea Lange

The picture that did more than any other to humanize the cost of the Great Depression almost didn’t happen. Driving past the crude “Pea-Pickers Camp” sign in Nipomo, north of Los Angeles, Dorothea Lange kept going for 20 miles. But something nagged at the photographer from the government’s Resettlement Administration, and she finally turned around. At the camp, the Hoboken, N.J.–born Lange spotted Frances Owens Thompson and knew she was in the right place. “I saw and approached the hungry and desperate mother in the sparse lean-to tent, as if drawn by a magnet,” Lange later wrote. The farm’s crop had frozen, and there was no work for the homeless pickers, so the 32-year-old Thompson sold the tires from her car to buy food, which was supplemented with birds killed by the children. Lange, who believed that one could understand others through close study, tightly framed the children and the mother, whose eyes, worn from worry and resignation, look past the camera. Lange took six photos with her 4x5 Graflex camera, later writing, “I knew I had recorded the essence of my assignment.” Afterward Lange informed the authorities of the plight of those at the encampment, and they sent 20,000 pounds of food. Of the 160,000 images taken by Lange and other photographers for the Resettlement Administration, Migrant Mother has become the most iconic picture of the Depression. Through an intimate portrait of the toll being exacted across the land, Lange gave a face to a suffering nation.

"Venezuelan criminals have begun using food to recruit children into gangs"


Venezuelan gangs are no longer recruiting youths in some poor areas by offering them easy money to buy clothes or the latest cell phones. Instead, they are offering food baskets.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

"A bord de l’«Aquarius», au secours des migrants"


Le cargo géré par des ONG mène des opérations de sauvetage entre la Libye et l’Italie. «Libération» a rejoint l’équipage. Récit de treize jours en mer.

"Recuperar os CTT" - Sandra Monteiro



Em Dezembro de 2013, e depois de quase três anos em que a ameaça esteve sempre em cima da mesa, o governo de Pedro Passos Coelho concretizou a primeira fase da privatização dos CTT – Correios de Portugal, uma empresa pública que era lucrativa para os cofres do Estado e que era reconhecida pelos cidadãos como exemplo de um serviço modelo, que muito contribuiu para a coesão territorial e para o sentimento de pertença a uma comunidade política. No ano seguinte, quando os restantes 31,5% da participação do Estado nos CTT foram vendidos em Bolsa, a um preço bem abaixo do mercado, os portugueses tinham já visto chegar a privatização a outras empresas como a ANA – Aeroportos de Portugal, a EDP, a REN ou, no ano seguinte, a TAP. A resposta austeritária a uma crise financeira que acabou por recair sobre os Estados e o mundo do trabalho conseguiu, de facto, avançar com a agenda de sempre do neoliberalismo: privatizar, sobretudo nos sectores capazes de gerar lucros garantidos, e se possível fazê-lo a preço de saldo, a coberto de situações de emergência.

Passados os anos de fúria privatizadora, a economia portuguesa tornou-se menos plural no que diz respeito aos regimes de propriedade, estando à vista as consequências económicas e sociais de subtrair à propriedade pública sectores estratégicos para o interesse comum. De um lado, privar o Estado de receitas suficientes e estruturais corrói o objectivo de assegurar grande parte das suas missões sociais através da provisão pública, ainda por cima no contexto do garrote da dívida. Do outro, privar os cidadãos de serviços públicos, que afinal são os que estão desenhados para escapar às puras lógicas dos lucros privados e da distribuição de dividendos pelos accionistas, expõe-nos a degradações permanentes da qualidade dos serviços prestados, a aumentos dos preços pagos, a reduções da cobertura territorial nas zonas menos lucrativas e – o que piora tudo – a uma menor capacidade de actuação sobre estas realidades. Sem propriedade pública de sectores estratégicos é sempre muito mais difícil subordinar o poder económico ao poder político, os interesses de alguns às necessidades de todos.

Passados quatro anos, a situação dos serviços prestados pelos CTT degradou-se de tal forma que obriga a repensar, não apenas o contrato de concessão, despudoradamente incumprido pela administração da empresa, mas a própria propriedade dos Correios. O que se passa na empresa é um verdadeiro escândalo, como reconhecem até os economistas mais liberais. Os accionistas apoderam-se ano após ano, sob a forma de dividendos, de todos os lucros gerados pela empresa, chegando ao ponto de a descapitalizarem distribuindo dividendos superiores aos lucros. Sem outra estratégia aparente que não a do lucro imediato, enquanto dura, a administração insiste, por outro lado, em cortar a eito em tudo o que pode para reduzir «custos». É assim que se sucedem os encerramentos de balcões pelo país fora, balcões esses que curiosamente são ainda sentidos pelos utilizadores como marcas da presença de um Estado que não pode abandoná-los à sua sorte, à semelhança do que exprimem quando se trata da presença do banco público, da escola ou do centro de saúde. São marcas de uma comunidade política de que os cidadãos não abdicam com a facilidade que o neoliberalismo gostaria… É também assim que se sucedem os anúncios de «reestruturações» na empresa, que todos já sabem serem sinónimos de assédio moral no local de trabalho, de negociações assimétricas, de reduções salariais e de despedimentos (fala-se em mais de 800 trabalhadores), que, por sua vez, contribuirão para comprometer ainda mais a qualidade dos serviços prestados, a cobertura territorial (segura e atempada) a que a concessão do serviço postal obriga. Para comprometer ainda mais, portanto, o futuro da empresa.

Os protestos dos cidadãos descontentes com a degradação dos serviços e os fechos de balcões, bem como as greves e outras formas de manifestação por parte dos trabalhadores dos CTT mostram bem onde podem ser encontrados os que não desistem do futuro dos Correios do país. Antes como depois da privatização, a empresa continua a ser lucrativa. Estamos a falar de lucros sempre acima dos 35 milhões de euros, desde 2012, e até superiores a 60 milhões de euros a partir de 2013. A diferença é que, a partir desse ano de 2013, os lucros deixaram de ser reinvestidos na empresa e deixaram de beneficiar o Estado, passando apenas a enriquecer os seus accionistas, a lesar os cidadãos e os trabalhadores dos Correios. Apesar disto, a situação mantém-se inalterada, ou melhor, degrada-se constantemente, mesmo no quadro da solução governativa que existe no país desde que António Costa se tornou primeiro-ministro.

O que pode ser feito para recuperar os CTT? É hoje evidente que reverter cortes de salários e pensões é muito mais fácil do que reverter privatizações e outras engenharias neoliberais como as parcerias público-privadas. Algo a reter quando chegar a próxima vaga privatizadora… Esta maior dificuldade acontece em parte porque, justamente, o Estado dispõe de instrumentos públicos muito mais seguros para actuar sobre os salários e as pensões. E porque, se em relação aos cortes que sobre eles incidiram existe um histórico constitucional e jurídico consolidado em períodos de correlação social de forças mais favorável aos trabalhadores e ao público, já no que diz respeito às privatizações os poderes públicos enfrentam uma máquina jurídica e um ambiente político e institucional (com escala internacional) muito mais adverso. Isto não significa, antes pelo contrário, que devam ser postas de lado as questões sobre as quais a sociedade tem de pensar colectivamente para encontrar maneiras de resolver situações lesivas e que todos reconhecem ser insustentáveis. Neste caso, e tendo em conta os meios de que as administrações de empresas estratégicas como os Correios dispõem para continuar a saqueá-las, para as destruir privando-as dos seus maiores recursos – os trabalhadores –, e para desvirtuar as suas missões estratégicas orientando-as apenas para lógicas mercantis e de distribuição dos dividendos pelos accionistas, não parece haver uma solução para recuperar os CTT que não passe pela sua renacionalização.

Nos últimos anos, a palavra «nacionalização», durante tanto tempo banida do vocabulário e da proposta política, regressou ao espaço público por iniciativa neoliberal. O neoliberalismo, projecto que não abdica da sua plasticidade desde que não ponha em causa os seus princípios fundamentais, não teve qualquer pejo em apropriar-se do termo, dando-lhe, evidentemente, o seu cunho próprio: nacionalizar significou socializar prejuízos, nunca lucros. É mais do que tempo de, em defesa da propriedade pública de sectores estratégicos, da coesão ainda possível deste território tão desigualmente tratado, e da dignidade dos trabalhadores e de uma empresa histórica como são os CTT, as forças que se opõem ao projecto neoliberal encontrarem formas para que uma empresa lucrativa regresse à propriedade e ao serviço públicos. Enfrentando constrangimentos jurídicos e pressões empresariais, como certamente será necessário fazer, porque em causa estão interesses colectivos e o bem comum. É que só garantindo as bases materiais desta comunidade política poderemos ter esperança de nela florescerem os valores morais que, a cada revés e a cada catástrofe, gostamos de reconhecer nos nossos concidadãos.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

"21st-century Marx" - Terrel Carver


Each era of modernity has reinvented Marx to fit its needs. How can his analysis of capitalism help us today?

"Marcelo é escravo da sua popularidade" - Daniel Oliveira


O Presidente falou ao país e deixou vários "recados", como se tornou hábito dizer na gíria política. Todos me parecem, em relação ao que se passou no ano de 2017, pacíficos. Correu bem na economia e em indicadores sociais como o emprego. Para melhor compreensão, correu bem até 16 de junho de 2017, e assim torna mais fácil explicar a sua mudança de comportamento. Correu mal por causa dos incêndios, que para o Presidente consomem toda a segunda metade do ano. Mesmo sabendo-se que o que falhou nos incêndios também tem alguma coisa a ver com o que supostamente correu bem: as contas públicas.

Os recados para o futuro são também óbvios. Uns foram meramente poéticos - "reinventar o futuro" ou "reinventar confiança" é conversa de autoajuda que serve para o que cada um de nós quiser. Outros foram mais claros e é fácil concordar com eles: os portugueses, para se sentirem seguros, não precisam apenas de emprego, precisam de saber que, "nos momentos críticos, as missões essenciais do Estado não falham nem se isentam de responsabilidades". Isto deveria levar a um debate interessante sobre quais são as funções essenciais do Estado e as condições que temos para fortalecer quando nos são exigidas e escrupulosamente cumpridas metas orçamentais que nos obrigam, todos os anos, a ter um superavit estrutural que só pode resultar em esvaziamento de funções do Estado. Não sei se o Presidente está disponível para promover um debate tão político e tão pouco consensual como este.

Manda a tradição das relações institucionais que o Presidente envie recados aos outros órgão de soberania mas que estes se abstenham de o fazer com o Presidente. E bem, já que o Presidente tem um papel moderador. Mas cá estamos nós, portugueses sem responsabilidades institucionais para o fazer. E é especialmente importante fazê-lo com um Presidente que escolheu uma presença tão assídua no espaço mediático.

Marcelo Rebelo de Sousa goza de uma enorme popularidade. Apesar de só ser possível num Presidente que não tem funções executivas e raramente é obrigado a desagradar a alguém, ela é útil para a defesa do sistema democrático num tempo de tanta descrença na política (não estou certo que tenha havido um tempo em que o sentimento tenha sido o oposto, mas adiante). Também não tenho qualquer problema com os afetos de Marcelo. Apesar de me interessar mais o que um político pensa e faz do que aquilo que sente, compreendo que a empatia é um elemento fundamental de liderança. O meu problema com Marcelo é mesmo o tipo de liderança que definiu, de forma consciente e premeditada, para o seu mandato.

Todos os dias Marcelo aparece na televisão a dar opinião sobre tudo. Se há legionela ele vai ao hospital, se há um acidente ele chega antes dos bombeiros, se há um teatro que vai fechar ele aparece a fazer promessas que não pode cumprir. Quase sempre em cima do momento, sem conhecer as implicações daquilo sobre o qual está a intervir. Em geral, tem-lhe corrido bem. Como não é adivinho, acabará por lhe correr mal.

Marcelo é a personificação das redes sociais, sem a parte do ódio e da indignação. E isso não é muito avisado e cria problemas ao funcionamento da democracia. Socorre-me das palavras de Valdemar Cruz no Expresso curto de hoje: "Decorre daqui uma enorme pressão sobre o sistema político e uma excessiva dependência comunicacional do que possa ser em cada momento a opinião do P.R. Não é seguro que o prolongar desta situação seja bom para a democracia, ou salutar para a convivência democrática ente os diferentes órgãos de soberania."

O imediatismo da intervenção presidencial acaba por obrigar Marcelo (ou é essa a sua natureza) a surfar na espuma dos dias. Isso implica que, em vez de liderar a opinião pública, como acreditaram os que no Governo julgavam que o seu apoio institucional neutralizava a oposição, ele é liderado pela opinião pública. A enorme popularidade do Governo até aos incêndios não resultou do apoio de Marcelo, o apoio de Marcelo é que resultou da enorme popularidade do Governo. Marcelo vai tentando representar, a cada momento, o sentimento que julga ser dominante no país. Isso tem um lado positivo: o país precisa de ter um espelho no sistema político. Mas liderar não é apenas representar o sentimento geral, é canalizar o sentimento geral para um determinado projeto político para o país. Parte positiva, a sublinhar; não sendo um populista, o Presidente não explora os lados mais sombrios de todos os povos - o ódio, a xenofobia ou a descrença na democracia.

Não é por acaso que todos os comentadores sabem que Marcelo Rebelo de Sousa vai vetar a nova lei de financiamento dos partidos. Ninguém pode adivinhar a sua opinião sobre o assunto e ninguém sabe que argumentos usará. Mas todos perceberam que, por boas ou má razões, de forma informada ou totalmente desinformada, a lei é muito impopular. E isso chega para sabermos como se vai comportar o Presidente. Porque intuímos que, independentemente de qualquer consideração política, vetará qualquer lei que seja impopular e apoiará que tenha boa aceitação pública. Uns acharão que isso é positivo, dando ao país uma válvula de escape que impeça a aprovação de leis que o povo não quer. Em parte têm razão, se essa opinião geral não se limitar a ser uma indignação inconsistente e inconsequente. Uma das razões para optarmos pela democracia representativa é para que os humores coletivos de cada momento não tornem a condução do destino coletivo num vaguear sem rumo. Por isso, é preocupante quando o comportamento do árbitro do nosso sistema depende totalmente dos apupos e aplausos das bancadas. Estar atento à vontade do povo não é o mesmo que ser escravo da popularidade. Porque ela, sendo o seu principal instrumento político, também é o seu principal limite.