Eu ainda sou do tempo em que os opositores à despenalização da interrupção voluntária da gravidez diziam que essa mesma despenalização iria levar ao aumento de abortos no país. O tempo veio demonstrar que não tinham razão: não só os abortos diminuíram como passaram a ser feitos com condições de higiene e segurança, sem atentar à liberdade de consciência dos médicos.
Agora sou, infelizmente, do tempo daqueles que se apresentam contra a despenalização da morte assistida com argumentos verdadeiramente arrepiantes: parece que viremos a ter um qualquer estado tipo nazi em que a eutanásia passa a ser prática, em que deficientes e idosos vão ser descartados pelo estado e por um SNS que, como não tem camas nos hospitais, vai passar a praticá-la como remédio para quem sabe que não vai viver muito tempo. Ou dos familiares que não conseguem acartar com o peso de ter alguém de quem tratar.
Também há os que defendem que é preciso é apostar no aumento da esperança de vida, como se não houvesse quem com pouca idade não tenha nenhuma esperança de viver.
A escolha de morrer ou não morrer é de cada um e mais ninguém. A escolha de prolongar o sofrimento é da sociedade. Não sou a favor da morte fácil. Se vir alguém a querer atirar-se para debaixo de um comboio, a primeira coisa que faria era tentar que não o fizesse. Se alguém padecer de uma vida insuportável de dor sem remédio, de desespero na sua infelicidade, não sou eu que vou dizer para lhe prolongar a vida se quiser morrer.
Aqueles que, bem, defendem a liberdade individual como supremo valor não deviam ser os mesmos a defender que não se pode morrer como se quiser.
A minha morte é comigo e quero ter o direito de a escolher.
Percebo os argumentos de quem possa ter dúvidas e respeito-os, mas, por favor, respeitem os meus.
Ser a favor da despenalização da eutanásia não é ser a favor do assassinato, como alguns parecem querer fazer crer.
Ser a favor da despenalização da eutanásia não é colocar nas mãos de qualquer um o direito a tirar a vida.
Ser a favor da despenalização da eutanásia é dar a cada um o direito de morrer com a dignidade que quiser.
Tal como a despenalização do aborto não obriga nenhuma mulher a abortar, a despenalização da eutanásia não obriga ninguém a morrer sem ser de forma "natural".
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