Ideia: representação mental; representação abstrata e geral de um objeto ou relação; conceito; juízo; noção; imagem; opinião; maneira de ver; visão; visão aproximada; plano; projeto; intenção; invenção; expediente; lembrança. Dicionário de Língua Portuguesa da Texto Editora
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Os contentores de Alcântara
O 1º subscritor da petição Lisboa é das pessoas. Mais contentores não. ,o jornalista e escritor Miguel Sousa Tavares, foi obrigado ontem a abandonar o edifício da Câmara Municipal de Lisboa sob protecção policial.
Hoje, o deputado Manuel Alegre apresentou um requerimento na Assembleia da República sobre este projecto em todas as suas vertentes, nomeadamente na concessão por 27 anos à empresa Mota-Engil (presidida por Jorge Coelho).
Estamos com um caso de polícia?
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Prisioneiros Olímpicos
Jornalistas, bloggers e activistas dos Direitos Humanos foram presos, impedidos de sair de casa ou expulsos de Pequim antes e durante os Jogos Olímpcos. Os Jogos acabaram. É preciso libertá-los agora.
É isso que pedem os Repórteres sem Fronteiras.
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Portugal é possível! - Nautilus
A Nautilus ganhou o prémio Worlddidac Award 2008 pelo NETBOARD - um suporte integrado para quadros interactivos e projector de vídeo com a possibilidade de fácil regulação em altura usando apenas um dedo.
É a solução ideal para uma aula interactiva pois integra todos os componentes necessários.
Energy [R]evolution outlines
Our Energy [R]evolution outlines a global plan for a sustainable renewable economic future. It shows us how we can get from where we are now, to where we need to be to avoid a climate change disaster. It was developed with specialists from the Institute of Technical Thermodynamics at the German Aerospace Centre (DLR) and more than 30 scientists and engineers from universities, institutes and the renewable energy industry around the world.
"VIA NOVA"
Para pensar!
Segundo o general de Gaulle, comete-se por vezes o erro de ter razão antes de tempo. Na moção "Falar é preciso", apresentada ao Congresso do PS em 1999, cometi esse erro:
"A crise financeira que alastrou, dos mercados asiáticos à Rússia e já ameaça gravemente o Brasil e toda a América Latina, pode minar, de um momento para o outro, pela incerteza e pela volatilidade, o próprio funcionamento dos maiores centros financeiros do mundo. A 'mão invisível' falhou. São os mais ortodoxos ultraliberais, como Milton Friedman, quem vêm agora pedir a nacionalização da banca no Japão.
"E é por isso que é necessária uma nova esquerda. À escala europeia, primeiro. Mas capaz de se fazer ouvir, também, à escala mundial. À dimensão planetária do actual poder económico, financeiro e mediático, há que contrapor uma alternativa política.
"Temos de continuar a exigir uma reforma das instituições internacionais, do FMI ao Banco Mundial, para que deixem de ser arautos e agentes do pensamento único. Outra lógica terá de presidir à Organização Mundial do Comércio, para que a livre circulação de mercadorias não se torne em mais um instrumento de enfraquecimento das economias mais frágeis.
"É preciso regular os mercados financeiros mundiais, cuja ditadura e irracionalidade põem em causa a própria estabilidade dos sistemas políticos democráticos."
Que fazer agora?
Os defensores do Estado mínimo, ideologicamente derrotados, pedem a intervenção do Estado. Para quê? Suspeita-se que para manter o que está e socializar as perdas. O problema é que, se tudo ficar na mesma, as mesmas causas produzirão os mesmos efeitos.
E a esquerda? Como escrevi, também antes de tempo, na moção que levei ao Congresso do PS de 2004:
"A esquerda tem de integrar e debater, no seu pensamento próprio, os princípios e os instrumentos possíveis de regulação da globalização: o combate à predação das multinacionais que localizam e deslocalizam investimentos a seu bel-prazer, a taxação das transacções financeiras internacionais, a abertura dos mercados dos países desenvolvidos às exportações oriundas dos países em vias de desenvolvimento, a travagem da proliferação dos off-shores, o combate à economia 'suja' dos tráficos de pessoas, drogas e dinheiro, o combate à exploração de mão-de-obra infantil, escrava ou sem quaisquer direitos sociais, e à degradação ambiental."
Propus então um novo Contrato Social. E um Estado estratega, "cuja função não se reduz ao papel de árbitro, mas de produtor de bens públicos essenciais, desde o funcionamento do Estado de Direito à promoção dos serviços de interesse geral e à regulação dos mercados. Um Estado estratega a quem caberá suprir as falhas do mercado e estimular áreas ou sectores qualificados." E acrescentava: "Para desempenhar essa função, o Estado precisa de manter nas suas mãos instrumentos eficazes, como por exemplo a Caixa Geral de Depósitos."
Hoje até Alan Greenspan reconheceu que errou ao confiar que o mercado pode regular-se a si próprio. Mas, em 2004, aquelas ideias que propus pareceram arcaicas aos fundamentalistas do neoliberalismo e aos entusiastas da chamada esquerda moderna.
Não se sabe que réplicas se seguirão ao tsunami que abalou o sistema financeiro mundial. Nem até que ponto irá a recessão económica e quais as suas consequências sociais e políticas. Sabe-se que nada ficará como dantes. Mas em que sentido se fará a mudança? Era aí que a esquerda deveria ter um papel. Mas onde está ela? Talvez algo de novo possa surgir de uma vitória de Obama. Pelo menos um sopro de renovação. Mas há um grande défice de esquerda na Europa. Uma nova esquerda só poderá nascer de várias rupturas das diferentes esquerdas consigo mesmas. Ruptura com as práticas gestionárias e cúmplices do pensamento único. Ruptura com a cultura do poder pelo poder e com o seu contrário, a cultura da margem pela margem, da contra-sociedade e do contrapoder. Processo difícil, complicado, mas sem o qual não será possível construir novas convergências. Não para a mirífica repetição da revolução russa de 1917, nem para um modelo utópico global. Tão-pouco para segundas ou terceiras vias. Mas para uma via nova, que restitua à esquerda a sua função de força transformadora da sociedade e criadora de soluções políticas alternativas.
"Pensamento Crítico Contemporâneo"
O Seminário Pensamento Crítico Contemporâneo vai ter 2ª edição.
na Fábrica de Braço de Prata, de Novembro de 2008 a Fevereiro de 2009
Aos Sábados, das 16h às 19h
Inscrições [lugares limitados]: cursopcc@gmail.com
ORGANIZAÇÃO: UNIPOP, NÚMENA
APOIO: Le monde diplomatique – edição portuguesa
PROGRAMA:
1 Nov:
Guy Debord por Ricardo Noronha
Jacques Rancière por Manuel Deniz Silva
8 Nov:
Pierre Bourdieu por Nuno Domingos
Michel Foucault por Jorge Ramos do Ó
29 Nov:
Georg Simmel por José Luís Garcia
André Gorz por José Nuno Matos
6 Dez:
Jacques Derrida por Silvina Rodrigues Lopes
Giorgio Agamben por António Guerreiro
13 Dez:
Benedict Anderson por João Leal
Edward Said por Manuela Ribeiro Sanches
10 Jan:
Néstor Garcia Canclini por Paulo Raposo
Antonio Negri por José Neves
17 Jan:
E.P.Thompson por Fátima Sá
James Scott por José Manuel Sobral
24 Jan:
Chomsky e/ou Feyerabend por Rui Tavares
Cornelius Castoriadis por Miguel Serras Pereira
31 Jan:
Gilles Deleuze por Nuno Nabais
Theodor W. Adorno por João Pedro Cachopo
7 Fev:
Slavoj Zizek por Nuno Ramos de Almeida
Alain Badiou por Bruno Peixe
«LISBOA É DAS PESSOAS. MAIS CONTENTORES NÃO!»
A ampliação da capacidade do terminal de contentores de Alcântara que o Governo inoportunamente se propõe levar por diante implicará a criação de uma muralha com cerca de 1,5 quilómetros com 12 a 15 metros de altura entre a Cidade de Lisboa e o Rio Tejo.
A zona de Alcântara estará sujeita a obras durante um período previsto de 6 anos, impossibilitando assim a população de aceder ao rio pelas “Docas”, levando ao fecho de toda a actividade lúdica desta zona, pondo em risco 700 postos de trabalho.
Os terminais de contentores existentes nos portos de Portugal no final de 2006 tinham o dobro da capacidade necessária para satisfazer a procura do mercado.
O Tribunal de Contas em relatório de Setembro de 2007 sublinhava que a Administração do Porto de Lisboa (APL) é líder no movimento de carga contentorizada em Portugal, e apresenta desafogadas capacidades instaladas e disponíveis, para fazer face a eventuais crescimentos do movimento de contentores.
A prorrogação da concessão do terminal de contentores de Alcântara até 2042 que o Governo pretende concretizar com o Decreto-Lei n.º 188/2008, de 23 de Setembro, e que prevê a triplicação da sua capacidade afigura-se assim completamente incompreensível, desnecessária, e inaceitável para mais sem concurso público.
Apesar da lei prever 30 anos para a duração máxima das concessões, com esta prorrogação a duração desta concessão será na prática, de 57 anos, o que, tal como o Tribunal de Contas sublinha, impede os benefícios da livre concorrência por encerrar o mercado por períodos de tempo excessivamente longos.
Com esta decisão do Governo perde a Cidade de Lisboa, perdem os cofres públicos, perde o sistema portuário nacional, no fundo perdem os portugueses.
Em face do exposto, os abaixo-assinados vêm pelo presente meio solicitar à Assembleia da República que sejam tomadas as medidas necessárias para impedir este atentado estético e económico contra o País, contra Lisboa e contra os seus cidadãos, revogando o DL n.º 188/2008, de 23 de Setembro.
Lisboa 27 de Outubro de 2008
Assinem!
A zona de Alcântara estará sujeita a obras durante um período previsto de 6 anos, impossibilitando assim a população de aceder ao rio pelas “Docas”, levando ao fecho de toda a actividade lúdica desta zona, pondo em risco 700 postos de trabalho.
Os terminais de contentores existentes nos portos de Portugal no final de 2006 tinham o dobro da capacidade necessária para satisfazer a procura do mercado.
O Tribunal de Contas em relatório de Setembro de 2007 sublinhava que a Administração do Porto de Lisboa (APL) é líder no movimento de carga contentorizada em Portugal, e apresenta desafogadas capacidades instaladas e disponíveis, para fazer face a eventuais crescimentos do movimento de contentores.
A prorrogação da concessão do terminal de contentores de Alcântara até 2042 que o Governo pretende concretizar com o Decreto-Lei n.º 188/2008, de 23 de Setembro, e que prevê a triplicação da sua capacidade afigura-se assim completamente incompreensível, desnecessária, e inaceitável para mais sem concurso público.
Apesar da lei prever 30 anos para a duração máxima das concessões, com esta prorrogação a duração desta concessão será na prática, de 57 anos, o que, tal como o Tribunal de Contas sublinha, impede os benefícios da livre concorrência por encerrar o mercado por períodos de tempo excessivamente longos.
Com esta decisão do Governo perde a Cidade de Lisboa, perdem os cofres públicos, perde o sistema portuário nacional, no fundo perdem os portugueses.
Em face do exposto, os abaixo-assinados vêm pelo presente meio solicitar à Assembleia da República que sejam tomadas as medidas necessárias para impedir este atentado estético e económico contra o País, contra Lisboa e contra os seus cidadãos, revogando o DL n.º 188/2008, de 23 de Setembro.
Lisboa 27 de Outubro de 2008
Assinem!
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Veto - Nada de novo
Como se esperava, o Presidente da República tornou a vetar o diploma do Estatuto dos Açores.
Depois de ler e ouvir os argumentos pró e contra, parece-me que que os Açores mereciam não se tornar um braço de ferro sem razão. Penso ser possível uma posição equilibrada que, não pondo em causa os objectivos da lei, não a torne motivo de desentendimento entre Órgãos de Soberania.
domingo, 26 de outubro de 2008
Frases célebres 5 - Carlos Drummond de Andrade
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.
Sintra - Monte Santos
Maradona by Kusturica
O documentário de Emir Kusturica sobre o génio do futebol que foi Maradona é um documento a não perder. Maradona by Kusturica ou Kusturica by Maradona?
O filme é um testemunho vibrante sobre um homem que foi génio, arrastou-se numa vida degradante, sobreviveu e luta, corajosamente, por causas.
É um documento sobre um cineasta brilhante que é um homem divertido, sensível, apaixonado pelo futebol e, também, um homem de causas.
Os dois completam-se numa "loucura" genial.
Foi, mais uma vez, no doclisboa.
José Cardoso Pires - 10 anos
ATENTO, VENERADOR E OBRIGADO
Aos dois dias do mês de Outubro de mil novecentos e vinte e cinco, no acto do registo de nascimento do cidadão José Cardoso Pires, foi tacitamente celebrado contrato pelo Governo Português no qual se obrigava o novo súbdito nacional ao cumprimento de determinadas regras, individuais e colectivas, e se lhe garantiam, em contrapartida, direitos de cidadania, de trabalho, subsistência e liberdade.
O referido contrato encontra-se publicado sob a forma de Constituição Política da Nação e não foi até à data revogado ou substituído no essencial.
Passados quarenta e seis anos sobre o estabelecimento desse compromisso, o declarante, que agora exerce o ofício de escritor e se encontra na plenitude dos seus direitos cívicos e políticos, e portanto das prerrogativas ali consignadas, verifica que embora tenha cumprido todos o deveres que assumiu pela referida declaração de nascimento, nunca a segunda parte contratante, o Estado, respeitou as obrigações a que se comprometeu para com ele.
Com efeito,
- exercendo uma profissão de interesse colectivo; - pagando impostos e com isso contribuindo para a manutenção das instituições e dos poderes públicos;
- tendo nos termos da lei cumprido o serviço militar obrigatório; - dispondo de uma situação social devidamente legalizada e promovendo a educação dos filhos a expensas suas;
- e, finalmente, não tendo cadastro criminal,
o signatário, ao cabo destes anos de exercício de cidadão português, verifica e comprova:
- que nada deve ao estado pela sua formação cultural, que foi custeada por si mesmo ou por sua família e dificultada por sistemas de educação obsoletos;
- que nunca lhe foi dado, nem de resto solicitou, o menor apoio ao seu trabalho por parte de organismos oficiais ou oficialmente responsabilizados;
- que nunca usufruiu de qualquer dos benefícios normalmente concedidos pelas instituições de Assistência, Saúde Pública e Educação à generalidade dos portugueses, não obstante a obrigação de contribuir para elas através de diversos impostos; e da mesma forma não lhe é atribuído qualquer apoio estatal em caso de invalidez ou velhice.
Esclarece mais:
- que no exercício da sua profissão, tal como acontece com a maioria dos escritores portugueses, lhe têm sido impostas discriminações e dificuldades materiais, políticas e psicológicas que o impedem de comunicar nas condições de liberdade responsável que o Estado lhe conferiu no referido diploma e lhe negou;
- que além das torções e dos silêncios a que a sua actividade tem sido forçada, os Poderes Públicos não só o obrigam aos descontos que normalmente se atribuem a qualquer exercício profissional livremente praticado como o sobrecarregam com uma segunda percentagem sobre os direitos das traduções que se publicam da sua obra.
Em resumo e concluindo,
afigura-se ao declarante que, tendo cumprido 46 anos de cidadão português, é mais que tempo de lembrar as irregularidades com que o Estado se tem eximido aos deveres que assumiu para com ele no dia 2 de Outubro de 1925. Como circunstância de agravamento, refere que esta situação não o envolve particularmente a ele, declarante, mas abrange, muitas vezes em tempos dramáticos, a grande maioria dos escritores do país.
Perante o exposto, e dado que lhe não são possíveis quaisquer formas de recurso efectivamente consequentes, o declarante remeteu-se, com o preço das inevitáveis segregações, à condição de cidadão à margem, que é aquela para que certos Estados impelem o escritor que crê na independência do espírito.
Assim,
- jamais concorreu a qualquer iniciativa oficial ou para-oficial e por isso o único júri a que até à data submeteu qualquer trabalho seu foi o do Prémio de Novelística "Camilo Castelo Branco", da Sociedade Portuguesa de Escritores,
- e tão-pouco solicitou, mas antes recusou, o apoio de instituições formalmente independentes que nalguns sectores praticam uma política comprometida com as directrizes culturais do Governo, como é o caso, entre outros, das Bibliotecas Móveis da Fundação Calouste Gulbenkian.
Em tempo: o signatário considera oportuno e significativo invocar nesta exposição o exemplo dos escritores que, nas horas difíceis da nossa História, preferiram a incomodidade de uma independência ao reconhecimento negociado de uma cidadania por tolerância ou por sujeição. Esses homens, ao recusarem a sintaxe dos compromissos, procuraram acima de tudo ultrapassar a mesquinhez do tempo e cumprir o seu ofício de vanguarda, que é o de testemunhar e alertar para o futuro, qualquer que seja a perfeição do Sistema. E por isso, rejeitaram as ambiguidades transitórias e as solicitações de circunstância, certos da razão que lhes assistia e para além deles. Sem pressa.
Eis, pois, ao lembrar que está um contrato por cumprir há mais de quarenta e seis anos, o que se oferece declarar um
Atto. Venor. e Obgdo,
aos vinte dias de Dezembro de mil novecentos e setenta e um, ano da anunciada promulgação da Lei da Imprensa.
José Cardoso Pires - E Agora, José?
Aos dois dias do mês de Outubro de mil novecentos e vinte e cinco, no acto do registo de nascimento do cidadão José Cardoso Pires, foi tacitamente celebrado contrato pelo Governo Português no qual se obrigava o novo súbdito nacional ao cumprimento de determinadas regras, individuais e colectivas, e se lhe garantiam, em contrapartida, direitos de cidadania, de trabalho, subsistência e liberdade.
O referido contrato encontra-se publicado sob a forma de Constituição Política da Nação e não foi até à data revogado ou substituído no essencial.
Passados quarenta e seis anos sobre o estabelecimento desse compromisso, o declarante, que agora exerce o ofício de escritor e se encontra na plenitude dos seus direitos cívicos e políticos, e portanto das prerrogativas ali consignadas, verifica que embora tenha cumprido todos o deveres que assumiu pela referida declaração de nascimento, nunca a segunda parte contratante, o Estado, respeitou as obrigações a que se comprometeu para com ele.
Com efeito,
- exercendo uma profissão de interesse colectivo; - pagando impostos e com isso contribuindo para a manutenção das instituições e dos poderes públicos;
- tendo nos termos da lei cumprido o serviço militar obrigatório; - dispondo de uma situação social devidamente legalizada e promovendo a educação dos filhos a expensas suas;
- e, finalmente, não tendo cadastro criminal,
o signatário, ao cabo destes anos de exercício de cidadão português, verifica e comprova:
- que nada deve ao estado pela sua formação cultural, que foi custeada por si mesmo ou por sua família e dificultada por sistemas de educação obsoletos;
- que nunca lhe foi dado, nem de resto solicitou, o menor apoio ao seu trabalho por parte de organismos oficiais ou oficialmente responsabilizados;
- que nunca usufruiu de qualquer dos benefícios normalmente concedidos pelas instituições de Assistência, Saúde Pública e Educação à generalidade dos portugueses, não obstante a obrigação de contribuir para elas através de diversos impostos; e da mesma forma não lhe é atribuído qualquer apoio estatal em caso de invalidez ou velhice.
Esclarece mais:
- que no exercício da sua profissão, tal como acontece com a maioria dos escritores portugueses, lhe têm sido impostas discriminações e dificuldades materiais, políticas e psicológicas que o impedem de comunicar nas condições de liberdade responsável que o Estado lhe conferiu no referido diploma e lhe negou;
- que além das torções e dos silêncios a que a sua actividade tem sido forçada, os Poderes Públicos não só o obrigam aos descontos que normalmente se atribuem a qualquer exercício profissional livremente praticado como o sobrecarregam com uma segunda percentagem sobre os direitos das traduções que se publicam da sua obra.
Em resumo e concluindo,
afigura-se ao declarante que, tendo cumprido 46 anos de cidadão português, é mais que tempo de lembrar as irregularidades com que o Estado se tem eximido aos deveres que assumiu para com ele no dia 2 de Outubro de 1925. Como circunstância de agravamento, refere que esta situação não o envolve particularmente a ele, declarante, mas abrange, muitas vezes em tempos dramáticos, a grande maioria dos escritores do país.
Perante o exposto, e dado que lhe não são possíveis quaisquer formas de recurso efectivamente consequentes, o declarante remeteu-se, com o preço das inevitáveis segregações, à condição de cidadão à margem, que é aquela para que certos Estados impelem o escritor que crê na independência do espírito.
Assim,
- jamais concorreu a qualquer iniciativa oficial ou para-oficial e por isso o único júri a que até à data submeteu qualquer trabalho seu foi o do Prémio de Novelística "Camilo Castelo Branco", da Sociedade Portuguesa de Escritores,
- e tão-pouco solicitou, mas antes recusou, o apoio de instituições formalmente independentes que nalguns sectores praticam uma política comprometida com as directrizes culturais do Governo, como é o caso, entre outros, das Bibliotecas Móveis da Fundação Calouste Gulbenkian.
Em tempo: o signatário considera oportuno e significativo invocar nesta exposição o exemplo dos escritores que, nas horas difíceis da nossa História, preferiram a incomodidade de uma independência ao reconhecimento negociado de uma cidadania por tolerância ou por sujeição. Esses homens, ao recusarem a sintaxe dos compromissos, procuraram acima de tudo ultrapassar a mesquinhez do tempo e cumprir o seu ofício de vanguarda, que é o de testemunhar e alertar para o futuro, qualquer que seja a perfeição do Sistema. E por isso, rejeitaram as ambiguidades transitórias e as solicitações de circunstância, certos da razão que lhes assistia e para além deles. Sem pressa.
Eis, pois, ao lembrar que está um contrato por cumprir há mais de quarenta e seis anos, o que se oferece declarar um
Atto. Venor. e Obgdo,
aos vinte dias de Dezembro de mil novecentos e setenta e um, ano da anunciada promulgação da Lei da Imprensa.
José Cardoso Pires - E Agora, José?
sábado, 25 de outubro de 2008
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