quinta-feira, 5 de março de 2009

"Sócrates 2009"


Um excelente artigo de André Freire

No último congresso do PS foi lançado um slogan, "Sócrates 2009", que agora deu origem a um sítio na Internet. Ou seja, as eleições de 2009 serão para o PS sobretudo um plebiscito ao líder: "Quero falar-vos das razões da minha candidatura a primeiro--ministro" (uma eleição que não existe de jure), diz Sócrates no referido sítio, no qual quase não se dá pelo emblema do partido. Mas a deriva plebiscitária começou no partido: quer nas eleições directas (esvaziadas de sentido pela ausência de competidores), quer nas votações das moções de estratégia global, o condottiere recebeu um apoio de tal modo esmagador que se torna até embaraçoso para um partido democrático... A personalização da política está ligada a vários factores. Primeiro, ao seu desenraizamento social, desde sempre muito forte em Portugal (com a excepção do PCP). Segundo, tal desenraizamento e, sobretudo, o seu crescimento com o passar do tempo, estão estreitamente associados à desideologização da política, fenómenos que potenciam ambos a personalização. Mais, além de se alimentarem mutuamente, os dois fenómenos têm sido apontados como factores fundamentais da crise de representação no Ocidente: os partidos continuam a ser fundamentais ao nível das instituições, mas funcionam cada vez menos como elos entre a sociedade e o Estado. Terceiro, a mediatização da política, com a sua excessiva ênfase nas características dos líderes, etc., levou a que a política seja cada vez menos uma discussão entre projectos alternativos e cada vez mais uma discussão sobre quais são os líderes mais competentes, etc., mas, no fundo e por isso mesmo, para fazerem fundamentalmente o mesmo (só mais ou menos bem feito...).O CDS-PP foi em tempos o "partido de um homem só": parecia que só o líder aparecia nas várias frentes do combate político. A especificidade do PS é que as suas elites, mesmo os mais ilustres "senadores" (e de extracções ideológicas mais longínquas), parecem hoje todas rendidas ao líder. É uma estratégia muito arriscada: se falhar a aposta em "ou Sócrates ou o caos", nomeadamente se o soberano devolver uma maioria bastante relativa, o partido ficará aparentemente incapaz de gerar soluções alternativas; no médio prazo, é a capacidade de produzir projectos políticos alternativos que fica beliscada.

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