Passaram quase duas décadas desde que o "quarteto" a ONU, os Estados Unidos, a União Europeia e a Rússia concordou que a Autoridade Palestiniana e o governo de Israel deveriam estabelecer a paz, coexistindo como dois estados separados. E no entanto, enquanto o Presidente dos EUA Barack Obama se referia à decisão do quarteto como o seu princípio norteador para a acção diplomática no conflito Israelo-Palestiniano, a situação permanece tão sombria como antes, porque permanecem ainda demasiados detalhes por resolver.
Os Palestinianos querem um estado independente, mas na condição de manterem Jerusalém como a sua capital, e que Israel cesse de expandir colonatos no território que ocupou desde a Guerra dos Seis Dias de 1967. Israel, contudo, nunca perspectivou ceder Jerusalém à Palestina. Muitos esperam que, sob a pressão de reformar os limites municipais, Israel considere esta solução.
Mas a questão dos colonatos é ainda mais difícil de resolver. Mesmo sob pressão da comunidade internacional e, mais importantemente, dos EUA, Israel tem consistentemente recusado em abrandar a expansão dos seus colonatos na Cisjordânia.
Tragicamente, a forte resistência de Israel e da diáspora Judia levou Obama a reconhecer abertamente a sua impotência no conflito, e consequentemente a abandonar a pressão política dos EUA sobre Israel. Como resultado, um pequeno grupo de congressistas pró-Israel tem tido liberdade para ameaçar e pressionar os países que poderiam votar favoravelmente pelo reconhecimento do estado Palestiniano.
Em qualquer caso, os líderes de Israel não estão verdadeiramente interessados numa paz real. Em vez disso, parecem querer uma solução reminiscente da Irlanda do século dezanove que levou a um século de perdas em ambas as facções. Israel está efectivamente a exigir o desaparecimento da identidade Palestiniana.
O resto do mundo não deveria tolerar essa exigência, mesmo que os EUA o façam. Todos os países sabem que é difícil e dispendioso embarcar num conflito explícito com os EUA. Mas quando os EUA deixam de agir como um líder global por causa da sua frágil política interna, os outros países não têm que seguir o seu exemplo.
Abbas compreende bem a natureza arriscada da sua estratégia: haverá retaliação brutal por parte de Israel. Mas a sua persistência em perseguir esta última oportunidade para a paz granjeou-lhe um claro aumento de popularidade interna e um maior respeito no exterior.
O Hamas, rival da Autoridade Palestiniana em Gaza, tentará sem dúvida frustrar o esforço de Abbas. Uma organização como o Hamas, que suporta a guerra permanente e com quem Israel negociou durante cinco anos a libertação de um único soldado Israelita, Gilad Shalit, por troca de mais de mil prisioneiros Palestinianos é exactamente o inimigo que Israel necessita para justificar a sua posição radical.
Durante muito tempo, os líderes Israelitas reuniram apoiantes como eu, que, desde o Holocausto, têm defendido o direito do povo Judeu à segurança e à cidadania. Mas as tácticas de Israel relativamente à Palestina têm sido pouco escrupulosas. Têm fortalecido o Hamas, um oponente hostil da paz, têm levado os EUA a votar contra o estado Palestiniano cujo nascimento defendem, e têm recusado liminarmente aceitar quaisquer condições que pudessem resolver o conflito.
Nenhum país civilizado pode permitir este comportamento. À Palestina deve ser concedido um estatuto legal para que, no mínimo, o seu povo tenha acesso à estrutura legal internacional, com o entendimento de que é necessário apoio internacional para ajudar e defender este jovem estado.
Os Americanos perderam o seu direito moral à liderança na resolução do conflito Israelo-Palestiniano. É chegada a hora da Europa avançar para o combate.
Um artigo de Michel Rocard no Público de ontem
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