terça-feira, 6 de novembro de 2012

Sofia de Melo Breyner (06/11/1919) - 3 poemas



Liberdade

 O poema é
A liberdade

Um poema não se programa

Porém a disciplina
— Sílaba por sílaba —
O acompanha

Sílaba por sílaba

O poema emerge
— Como se os deuses o dessem
O fazemos


Sophia de Mello Breyner Andresen, in O Nome das Coisas



Revolução

 Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta

Como puro início

Como tempo novo
Sem mancha nem vício

Como a voz do mar

Interior de um povo

Como página em branco

Onde o poema emerge

Como arquitectura

Do homem que ergue
Sua habitação 



Sophia de Mello Breyner Andresen, in O Nome das Coisas



Assim o Amor

 Assim o amor
Espantado meu olhar com teus cabelos
Espantado meu olhar com teus cavalos
E grandes praias fluidas avenidas
Tardes que oscilam demoradas
E um confuso rumor de obscuras vidas
E o tempo sentado no limiar dos campos
Com seu fuso sua faca e seus novelos

Em vão busquei eterna luz precisa


Sophia de Mello Breyner Andresen, in Obra Poética



Sofia de Melo Breyner

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