Ideia: representação mental; representação abstrata e geral de um objeto ou relação; conceito; juízo; noção; imagem; opinião; maneira de ver; visão; visão aproximada; plano; projeto; intenção; invenção; expediente; lembrança. Dicionário de Língua Portuguesa da Texto Editora
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
30 de janeiro
1933 - Adolph Hitler chega ao poder. A Alemanha assinalou hoje esta data.
1948 - Gandhi é assasinado
1972 - Bloody Sunday, Irlanda
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
"A META DA MARATONA INFINITA"
Na tarde de 14 de
Julho de 1912, domingo, na colina de Öfver-Järva, em Estocolmo, Francisco
Lázaro caiu inanimado. O médico que se encontrava no local aplicou-lhe gelo
sobre a cabeça e enviou-o para o posto médico de Silfverdal. A partir daí, dada
a gravidade do seu estado, foi enviado para o Royal Seraphin Hospital, onde
chegou às 17 horas e 30. À chegada, apresentava uma temperatura de 41,2º e
sofreu um intenso ataque de convulsões e cãibras. Foi-lhe diagnosticada
meningite. À meia-noite deram-lhe injecções de água salgada e, mexendo as mãos,
reagiu ao ouvir o seu nome. Mais tarde, entrou em delírio, fazendo movimentos
como se ainda estivesse a correr. Às 6 horas e 20 da madrugada, morreu.
OS
SPORTS ATHLÉTICOS
"Um
regime velho, retrógrado, ingrato e refractário à causa da pátria e àquela que Os
Sports Ilustrados defendem
e propagam, acaba de cair e um outro, novo, resplandecente, cheio de luz,
brilhante de entusiasmo, apto para o trabalho e para a regeneração do nosso
país, acaba de erguer-se e de proclamar-se por entre as salvas de artilharia e
o delírio louco do povo." Quem escreveu assim foi J. Pontes, na edição de
15 de Outubro de 1910 de Os Sports llustrados, um
jornal desportivo que, a par com Tiro e Sport, promoveu
muito claramente a ideia de que o desporto constituía uma oportunidade de
"fortalecimento" do homem português da República. A regeneração
política fazia parte de uma dinâmica renovadora mais abrangente ainda, que não
deixava de fora o físico.
Desde
o final do século XIX que as corridas eram presença habitual no programa das
"festas sportivas" que se iam promovendo em Portugal. Estes eventos,
de ambiente aristocrático, faziam parte do recreio de uma minoria elitista. Com
a República, a referida imprensa desportiva fez eco do ideal democrático do
desporto, defendendo activamente a entrada da educação física no sistema de
ensino, apontando essa questão como uma das razões do progresso das principais
potências europeias. O atletismo, de prática pouco dispendiosa, teve um
importante desenvolvimento nessa época, sobretudo através da corrida e de uma modalidade
nova, importada desde Inglaterra: o "cross-country".
É desses anos a chegada ao nosso país de provas de lançamento do disco e de
salto em altura. A marcha, por sua vez, desfrutava já de uma popularidade
própria, graças ao chamado "Percurso Pátria", que consistia em
caminhadas efectuadas por patrulhas militares, ao longo de distâncias que
podiam atingir os 200 quilómetros e que eram completadas por etapas, havendo
prémio monetário para a patrulha vencedora.
Se
os "sports athléticos" já tinham essa ligação militarista; com a
aproximação dos Jogos Olímpicos de 1912, facilmente se tornaram em argumento
patriótico e de avaliação do desenvolvimento. Quando o estado português se
demonstrou indisponível para financiar uma participação nacional em Estocolmo,
o jornal Os Sports Ilustrados, em
artigo publicado a 12 de Fevereiro de 1912, respondeu assim: "Só Portugal
e Espanha não concorrem! Andamos afastados da Europa e da sua gente civilizada
e os avanços evolutivos de um sistema completo de educação são menos conhecidos
em Portugal que na Oceânia! Esses ecos da civilização têm mais dificuldade em
transpor os Pirenéus que atravessar o Atlântico!"
Mas
existia Comité Olímpico Português desde 1909, nascera justamente com o
objectivo de alcançar a presença de Portugal em Estocolmo. Assim, com
contributos privados e com um sarau de variedades no Coliseu dos Recreios,
quase vazio em dia de greve de eléctricos, conseguiu-se o suficiente para
garantir a primeira presença de uma comitiva portuguesa nos Jogos Olímpicos.
O
GRANDE PEDESTRIANISTA
No
início do século XX, as carroçarias de automóveis eram compostas por muito mais
madeira do que actualmente. Com 20 anos, Francisco Lázaro, nascido em 1888, em
Benfica, era carpinteiro de uma fábrica de carroçarias de automóveis na
Travessa dos Fiéis de Deus, no Bairro Alto, e estava prestes a entrar na
história do atletismo português - o que aconteceu nesse ano de 1908, quando se
deu pela primeira vez o nome de "maratona" a uma prova realizada em
Portugal. Ao contrário dos mais de 40 quilómetros que se corriam no
estrangeiro, a distância proposta foi apenas de 24 quilómetros por se suspeitar
que não houvesse atletas capazes de terminá-la. Lázaro venceu inequivocamente.
Repetiu a proeza alguns meses depois, em nova prova de fundo, no circuito de
Linda-a-Pastora.
Após
uma doença que o afastou completamente da competição, Lázaro regressou apenas
dois anos depois, em 1910, tendo participado na sua primeira maratona com a
distância clássica de 42800 metros. Com um tempo de 2 horas, 57 minutos e 35
segundos, Lázaro dominou a distância, deixando o segundo classificado a mais de
44 minutos. Dos 12 corredores à partida, 10 terminaram a prova. Essa vitória
foi alcançada pelas cores do Velo Clube de Lisboa mas, em Abril de 1911, haveria
de ganhar o primeiro cross-country português em representação do
Sport Lisboa e Benfica. Terminou os 4200 metros no Campo do Lumiar em 20
minutos e 36 segundos. A razão para correr com a camisola do Benfica foi,
simplesmente, o facto de ter sido desafiado a representar o clube do seu bairro
onde, ocasionalmente, jogava futebol nas categorias inferiores. Com a promessa
de "melhoria de condições de preparação, de higiene de vida e de
alimentação", passou a correr pelo Lisboa Sporting Clube. Após vencer mais
uma edição da maratona, em Abril de 1912, numa pista na Alameda das Linhas de
Torres, tentou bater o recorde mundial da meia hora. Não conseguiu, mas atingiu
os 8829 metros que se manteve como o recorde nacional até 1929.
Os
seus treinos entre Benfica e São Sebastião da Pedreira eram conhecidos pela
forma como "competia" com os eléctricos. Há descrições dos muitos
incentivos que recebia por parte dos transeuntes durante esses treinos
pós-laborais. Dentro do panorama desportivo de então, Francisco Lázaro era
concebido como um herói nacional. E se houvessem dúvidas, teriam sido desfeitas
a seis semanas dos Jogos Olímpicos, na maratona nacional, que venceu sem
dificuldade, dando-se ao luxo de percorrer a passo os últimos dois quilómetros,
na dura subida da Calçada de Carriche, tendo deixado o seu concorrente mais
directo a 15 minutos, completando os 42800 metros em 2 horas, 52 minutos e 8
segundos. Nos Jogos Olímpicos anteriores, o americano John Hayes tinha vencido
a prova precisando de mais 3 minutos. Essa conta simples, ignorando as
possíveis imprecisões de cronometragem e de medição, a diferença de condições
ou de percurso, foi suficiente para a maioria dos comentadores da imprensa
portuguesa considerarem que Lázaro era um dos principais candidatos à vitória
olímpica. Estava, aliás, quase assegurada.
O
STADE É VASTÍSSIMO
A
primeira comitiva portuguesa que participou nos Jogos Olímpicos foi constituída
por seis elementos: os atletas António Stromp, Armando Cortesão e Francisco
Lázaro; os lutadores António Pereira e Joaquim Vital; o esgrimista Fernando
Correia. Estes foram os que restaram dos dez que estavam inicialmente
seleccionados, quatro tiveram de ser excluídos por falta de meios.
A
26 de Junho de 1912, partiram do Cais das Colunas, no vapor Astúrias da Mala
Real Inglesa. O início da viagem não acabou com a incerteza e a precariedade
que a antecedeu. Pouco antes dessa data, o Comité Olímpico Português foi
informado por telegrama que o início das provas tinha sido antecipado de 6 para
4 de Julho. Desse modo, a própria viagem entre Lisboa e Estocolmo
transformou-se numa espécie de corrida. Após três dias mareados, de enjoo
permanente, chegaram ao porto de Southampton. Por caminho de ferro, via
Londres, chegaram à pequena cidade portuária de Harwich. Em novo vapor, desta
vez bastante menor e com piores condições, gastaram 1 dia até chegar a Esbjerg,
na Dinamarca. Daí até Copenhaga, foi necessário alternarem percursos de barco e
comboio. Uma vez em Copenhaga, por fim, tiveram de esperar durante 10 horas por
um comboio que os levasse a Estocolmo, após 12 horas de viagem. Chegam exaustos
na manhã de 1 de Julho e, casualmente, foi-lhes comunicado que o telegrama
estava errado, os jogos começariam no dia 6, conforme sempre esteve previsto.
Lázaro
nunca tinha estado tão longe de casa e admirava-se com o que via. A sua origem
social era notoriamente mais baixa do que a dos seus companheiros de comitiva,
entre os quais se contavam estudantes de medicina e do Instituto Superior de
Agronomia, ou um empregado superior do Montepio Geral. Em 1988, Armando
Cortesão respondeu a uma entrevista de Romeu Correia: "Era um grupo muito
amigo. Mesmo o Lázaro, que se afastava socialmente de nós, era um camarada
esplêndido. Um rapaz muito simples, muito simpático. Ainda me lembro, quando a
bordo do paquete da Mala Real Inglesa, tínhamos de ir de smoking para a mesa, e
ele, coitado, muito aflito a pôr o laço. E lá fui eu e o Fernando Correia
ajudá-lo a fazer o laço do smoking. Mesmo à mesa, nós o aconselhávamos a
comedir-se: Não faça isso... Não coma com a faca... Bom rapaz, o Lázaro. A sua
morte marcou-nos para a vida."
Alojados
numa escola primária, os participantes portugueses surpreendiam-se com o
carácter cosmopolita dos jogos e com as condições que eram dedicadas ao
desporto. O jornal Os Sports Ilustrados partilhava esse impacto: "O vasto stade,
construído em 1910, sob a direcção do arquitecto Torben, pela quantia de um
milhãe e novecentos mil francos é um anfiteatro em forma de ferradura. Coberto
em toda a superfície o stade é vastíssimo podendo comportar
25000 espectadores. Aos lados, em toda a extensão dos seus longos corredores,
estão situadas as salas douches, os numerosos gabinetes de toilette para os
atletas, as cozinhas para a preparação dos hors-d'oeuvres."
Foi
nesse estádio que decorreu a cerimónia de abertura, na qual, o lutador Joaquim
Vital levou a placa com o nome do país e Francisco Lázaro teve a honra e o
destaque de levar a bandeira, vermelha e verde, a bandeira da República, ainda
tão nova, a apresentar-se às outras bandeiras.
O
SEBO E A EMBORCAÇÃO
O
que terá pensado Francisco Lázaro, no balneário, rodeado por atletas que não
entendia e que não o entendiam? De automóvel, António Pereira e António Stromp
foram colocar-se no quilómetro 5 que, na volta, seria o 35. Joaquim Vital
esperava-o no quilómetro 15 que, depois, seria o quilómetro 25. Entretanto, nas
bancadas, Fernando Correia e Armando Cortesão impacientavam-se com o facto de
não o encontrarem entre os atletas que iam preparando os músculos para a grande
prova. Já quase na hora do tiro de partida, dirigiram-se ao balneários e
encontram-no a untar-se com sebo para impedir a perda de líquidos pela
transpiração, segundo o próprio lhes contou. Na entrevista a Romeu Correia,
disse Armando Cortesão: "Não faço a menor ideia onde o Lázaro conseguiu
arranjá-lo (o sebo), mas conseguiu e estava a untar-se..." Também segundo
Cortesão, tentaram colocá-lo debaixo dos chuveiros e limpá-lo, mas não chegaram
a fazê-lo convenientemente porque a corrida estava prestes a começar.
Debaixo
de sol forte, 32º de temperatura, Lázaro era dos poucos com a cabeça descoberta
entre os 68 participantes da maratona olímpica de 1912. Mais tarde, no discurso
que fez no seu enterro, Fernando Correia afirmou tê-lo aconselhado a cobri-la,
ao que Lázaro respondeu: "o calor não me incomoda: até folgo que o haja,
porque fará afastar alguns concorrentes."
Poucas
são as evidências que demonstram a crença de que ia bem colocado na prova
quando desfaleceu. No relatório do chefe da missão, pode ler-se que Lázaro, ao
quilómetro 25, "já levava avanço grande e pouca diferença do
primeiro". Talvez se possa interpretar essas palavras como um gesto de
consideração póstuma. É possível que a mesma intenção esteja por detrás da
seguinte afirmação de Romeu Correia no livro Portugueses na V Olimpíada:
"Já no regresso do percurso, aos 25 quilómetros, vinha na 18ª posição,
muito perto dos primeiros." No que diz respeito ao tempo e à distância, a
corrida é uma modalidade de precisão inequívoca e, segundo o Comité Olímpico
Sueco, Lázaro não surge entre os primeiros dezoito atletas na passagem aos 25
quilómetros. Aliás, o 19º, o último cujo tempo foi contabilizado, passou a mais
de 8 minutos do líder, ou seja, nem esse ia a "pouca diferença do
primeiro".
Os
companheiros que o aguardavam no quilómetro 35, ao não o verem chegar, foram
procurá-lo de automóvel. Encontraram apenas os postos de acompanhamento da
prova a serem levantados. Foi o embaixador António Feijó que lhes deu a notícia
da perda de sentidos ao quilómetro 30 e que os acompanhou ao hospital.
Hoje,
há quem não atribua a morte de Lázaro ao calor e ao episódio do sebo. Esse é o
caso do professor Gustavo Pires em entrevista ao Diário
de Notícias, a 15 de julho de 2009, onde afirmou que Lázaro morreu
"porque utilizou produtos nocivos". As chamadas
"emborcações" eram utilizadas para alcançar o máximo rendimento e
resistência. Numa edição do jornal Tiro e Sport, de 15 de
Setembro de 1910, o seu director, A. Malheiros, escrevia: "devemos partir
do princípio que é com a emborcação que vamos assegurar a elasticidade e a
perfeita maleabilidade dos músculos de que se exigem os esforços mais
efectivos, tornando-os insensíveis à dor e à fadiga, e evitar o quanto possível
as cãibras que têm sido e serão sempre o inimigo irredutível de todos aqueles
que se dedicam ao sport." Nesse mesmo
artigo, Malheiros dá uma receita de emborcação com ovos, água destilada,
terebintina e ácido acético. Pela descrição de Pedro Nolasco, em A
morte de Francisco Lázaro, da forma como a autópsia encontrou o
fígado de Lázaro faz supor que poderia haver o consumo de outras substâncias:
"completamente mirrado, do tamanho de um punho fechado e rijo, a tal ponto
que só se conseguira partir a escopro, como se fosse uma pedra". Na já
referida entrevista a Romeu Correia, a descrição do modo como Joaquim Vital foi
a uma farmácia comprar emborcação e acabou a massajar Armando Cortesão com um
produto que, soube-se mais tarde, era remédio para os dentes é também
reveladora da falta de conhecimento e de condições.
FILIPÍADES
"Ganho
ou morro", são as palavras atribuídas a Francisco Lázaro antes da maratona
que não ganhou. Palavras de um profetismo tão exacto que põe em causa a sua
credibilidade. Ainda assim, a história deste atleta é feita de múltiplos acasos
intertextuais perfeitos: a sobreposição ao mito de Filipíades, fundador da
própria maratona, no qual este sucumbiu de exaustão após anunciar em Atenas que
os persas tinham sido derrotados em Maratona ou, mesmo, o paralelismo invertido
em relação ao episódio bíblico de Lázaro de Betânia, ressuscitado no Evangelho
Segundo São João.
Em
Portugal, o nome de Francisco Lázaro tem sido dado a ruas, a sua imagem já
figurou em selos e inspirou a personagem central do romance que publiquei em
2006, Cemitério de Pianos, cuja escrita me levou a
visitar Estocolmo pela primeira vez e a interessar-me tanto pela história deste
atleta. No entanto, creio que é na imaterialidade do imaginário popular que a
maior homenagem lhe tem sido prestada ao longo destes cem anos. E talvez a
força dessa efabulação, que não é indiferente às distorções narrativas da
memória, se aproxime dos motivos pelos quais até os elementos mais concretos,
como o número de quilómetros que tinham decorrido quando desfaleceu, a hora a
que começou a corrida ou mesmo sua data, sejam apresentados em diversas
versões, dificultando a reconstituição mínima do que aconteceu.
Se
for como desconfio, a história de Francisco Lázaro veicula uma tragicidade que
fala de modo muito directo aos portugueses, porque toca em algo muito profundo,
que faz parte da nossa identidade e que a exprime de modo pungente.
José Luís Peixoto (in revista Visão História, 2012)
"Belo é o Recife"
Nesta Bahia maltratada, vi, sozinho, o filme de Kleber Mendonça Filho e fiquei estarrecido. Raramente um diretor encontra com tanta precisão o tom do filme que deve e quer fazer. “O som ao redor” é um desses raros momentos em que tudo acontece de modo adequado sem que a obra seja apenas suficiente: o filme transcende, inspira, ensina e exalta. Ensina aprendendo. Esperando o jeito de dizer surgir dos atores e dos não atores como confirmação da sabedoria na construção dos diálogos. Não há pontes nem Marco Zero, não há sobrados nem maracatu. Mas os prédios feios, as decorações tolas, a fantasmagórica percepção do dia a dia dos recifenses de agora deixa entrever todas as nuances da sociedade pernambucana, de toda a sociedade brasileira mirada daquele ângulo. Todo o horror mas também toda a beleza se revela a cada lance de montagem, a cada som de máquina ou de voz, a cada escolha de ponto de vista.
A“Festa” de Gonzaguinha — imperdoavelmente ausente do bom “Gonzaga de pai para filho” — está presente aqui, mesmo sem ser ouvida. A começar pela própria existência do filme. Que um filme assim tenha sido feito em Pernambuco, com gente de lá e por gente de lá, é prova da beleza intrínseca que se possibilita nessa quina nordestina do Brasil.
Ouvir a canção (ou paródia de canção) carnavalesca baiana irritando alguns moradores e trabalhadores desses prédios das redondezas da Boa Viagem (“Perigo de tubarões”, diz uma placa), isso dentro do cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves, é experimentar uma espécie peculiar de iluminação. A mãe de família interpretada pela extraordinariamente sexy Maeve Jinkings é de tirar o fôlego e de apertar o coração. A sobriedade e a profunda verdade de cada milimétrico gesto de Irandhir Santos preparam a cabeça do espectador para estudar tudo o que o filme tem a dizer. E o sotaque pernambucano!... As nuances das diferenças da língua entre gerações e extrações sociais. Os mais jovens e mais urbanos palatalizam mais os tês e os dês. O nome do primo encrenqueiro de João é tudo entre Dinho e Dginho na escala que vai do avô coronel ao primo cosmopolita.
Em “Gonzaga de pai para filho” há pernambuco e há cinema. Ainda não vi “A febre do rato”. “Gonzaga” não é um filme pernambucano. Em “Gonzaga” falta Ivan Lins e o MAU, falta Som Livre Exportação, sobretudo falta “Festa”, o elo perdido entre o filho e o pai. Canção que é também uma obra-prima. Em “O som ao redor” ela ecoa forte, à roda dos sons divinamente editados, dos pátios dos edifícios, da trilha magnífica de DJ Dolores, do mar barrento. Um tal filme ter sido feito no Recife diz da beleza que ele é. Não senti falta, em “Gonzaga”, da menção ao papel secundário e pequeno que o movimento tropicalista desempenhou na redescoberta de Gonzagão pelo público jovem da época. Eu teria posto algo a respeito apenas do “Luiz Gonzaga volta pra curtir”, show que, acho, Waly Salomão dirigiu no Terezão (por que, aliás, mudar o nome do Tereza Rachel para Net Rio? A Net poderia manter o nome consagrado — ou assumir logo Terezão — e colocar-se como patrocinadora: um dia essas empresas vão ver que não é gostoso ter teatros e casas de espetáculos com nomes tipo Credicard Hall, ATL Hall, American Airlines Arena…), mas a ausência de “Festa” é sintoma de falha do roteiro. Ouço-a ao ver “O som ao redor”. Onde, aliás, o tropicalismo recebe uma homenagem que só não considero imerecida porque, sendo a escolha tão profundamente pensada e a inserção do trecho da gravação tão incrivelmente bem feita, minha reação é de gratidão infinita por ter minha voz, minha pobre voz, fazendo parte desse filme. Mais do que a minha, a voz transcendental de Jorge Ben. Mais do que ela, seu violão. Mais do que o violão, a canção e o que ela sugere.
Não posso deixar de pensar em Eduardo Campos e na seriedade da política em Pernambuco. Eu aqui nessa Bahia maltratada. Sou o cara que canta a peça de axé hilária que soa no filme. Sou o cara que a compõe. Fico, do meu canto, esperando qual será a consequência dos planos de Carlinhos Brown de abrir espaço especial para os blocos afro no carnaval de Salvador. Ele sempre enriquece a cultura popular da cidade. Não vai ser para este ano, como eu esperava. Clarindo não será, como imaginávamos e queríamos seus admiradores, o subprefeito do Pelourinho. Mas Neto deve saber o que está fazendo. E Clarindo há de ver dias (e noites) melhores na Cantina da Lua.
“O som ao redor” é um dos melhores filmes brasileiros de sempre. É um dos melhores filmes feitos recentemente no mundo. Gonzaga, Brown, Clarindo, axé, Glauber, Ivan Lins, todos se engrandecem com isso. Deve-se isso ao tom encontrado por Kleber.
Caetano Veloso
Trabalho escravo no Brasil
Quem é que disse que a escravatura acabou? No Brasil, pelo menos, não.
A Repórter Brasil publicou a lista completa das fazendas que "empregam" escravos.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Sites a não perder - "A liberdade, tanto maior quanto mais amplo o leque de escolhas possíveis"
"Governo investe quase 1 milhão para atrair estrangeiros"
200.000 portugueses saíram do país nos últimos 2 anos.
O Governo quer atrair estrangeiros, especialmente dos países ricos da Europa com elevado poder de compra, para viverem em Portugal ou, pelo menos, terem cá uma residência de férias. Por isso, lançou esta segunda-feira um programa de promoção do turismo residencial, que vai implicar um investimento de 828 mil euros em dois anos.Contradições? Não! Sem dúvida, opções políticas!
Na íntegra aqui.
"'Index' proíbe 79 livros de autores portugueses"
Autores e especialistas portugueses mostram-se indignados por o Opus Dei ter uma lista de livros que proíbe os seus membros de ler. José Saramago é um dos escritores mais castigados ao nível mundial, sendo um dos recordistas no número de livros proibidos. Também 'censurada', Lídia Jorge diz que o Opus Dei deveria ter "vergonha" de ter este tipo de listagem, igualmente arrasada pela Sociedade Portuguesa de Autores. A lista é, porém, 'legal'.
José Saramago e Eça de Queirós são os escritores portugueses mais castigados pela "lista negra" de livros do Opus Dei. A organização da Igreja Católica tem uma listagem de livros proibidos, com diferentes níveis de gravidade, na qual põe restrições a 33 573 livros. Nos três níveis mais elevados de proibição encontram-se 79 obras de escritores portugueses. Autores portugueses contactados pelo DN mostram-se indignados com o que classificam de "Index" e "livros da fogueira".
Na íntegra aqui.
Lista completa dos livros e filmes não recomendados.
domingo, 27 de janeiro de 2013
LIBERDADE PARA OS PRESOS POLÍTICOS SAHARAUIS
Um grupo de 23 saharauis está preso na Prisão de Salé, Rabat (em Marrocos), apenas por ter participado no acampamento de Gdeim Izik, em finais de 2010, aguardando o julgamento num Tribunal Militar marroquino (MARCADO PARA O PRÓXIMO DIA 1 DE FEVEREIRO).
O acampamento de Gdeim Izik, a 15 km da cidade ocupada de El Aaiún (a capital do Sahara Ocidental, no norte de África) foi a manifestação pacífica mais importante da história da causa saharaui, em que mais de 20.000 pessoas deixaram as suas casas e montaram um acampamento no meio do deserto. Enviaram então uma mensagem ao Mundo de que já não suportavam viver mais sob a ocupação marroquina nas suas próprias terras do Sahara Ocidental.
Este acampamento foi desmantelado violentamente no dia 8 de novembro de 2010 pela polícia e pelos militares marroquinos sob os olhos das Nações unidas e da Comunidade Internacional. Desde então, estes saharauis permanecem privados da sua liberdade e estão sujeitos a condições intoleráveis de detenção e tortura.
DOCUMENTAL “GDEIM IZIK”
Today is Holocaust Memorial Day
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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
"São precisos 1.4 mil milhões de dólares agora para as crianças afectadas pelas crises humanitárias"
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UNICEF - Portugal
Assim não há paz possível!
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
"Chinese workers hold managers hostage after toilet break changes"
"Assad's War on the Red Crescent"
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Curiosidades da língua portuguesa - "Dar um lamiré"
Significado: Sinal para começar alguma coisa.
Origem: Trata-se da forma aglutinada da expressão «lá, mi, ré», que designa o diapasão, instrumento usado na afinação de instrumentos ou vozes; a partir deste significado, a expressão foi-se fixando como palavra autónoma com significação própria, designando qualquer sinal que dê começo a uma atividade.
Antonio Gramsci - 22/01/1891
Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, cobardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam frequentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os factos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenómeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às consequências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum género.Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.
Antonio Gramsci
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Mandela por Marco Cianfanelli
South african artist Marco Cianfanelli has constructed a monument to recognize the 50 year anniversary of peace activist and politician nelson mandela's capture by the apartheid police in 1962. mandela's profile spans 50 steel columns measuring 21.32 and 29.52 feet (6.5 and 9 meters) high, each anchored to the concrete-covered ground. the shape and form of the sculpture are representative of the leader's 27 years behind bars for his efforts to bring equal rights and governmental representation to the once racially divided nation. the statue of the nobel prize winner has been erected in howick, a town located 56 miles(90 kilometers) south from the city of durban in the countryside of the southernmost african country.
Cartoons - "The Voice of Egyptian Women"
The new constitution’s articles do not talk about women’s rights or
freedoms and do not respect the international treaties that protect her dignity.
Therefore I see that if the constitution is implemented the woman will go
backward again and things will get worse. There are articles that the
constitution should have addressed and freedom should have been given to women
in many issues. The new constitution does not give rights to the divorced woman
nor the woman as the only breadwinner, and did not guarantee the female worker
equal rights. The only thing it leads to is allowing 13-year-olds getting
married. Many rights have been wasted that should have been protected. - Rona Elgebaly
Cartoon de Doaa Eladl
domingo, 20 de janeiro de 2013
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