Ideia: representação mental; representação abstrata e geral de um objeto ou relação; conceito; juízo; noção; imagem; opinião; maneira de ver; visão; visão aproximada; plano; projeto; intenção; invenção; expediente; lembrança. Dicionário de Língua Portuguesa da Texto Editora
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
"Que se lixe a troika" - os textos de apelo e apoio a uma manifestção
Luísa Ortigoso
António Pinho Vargas
Helena Pato
Luís Bernardo
Isabel Louçã
Pedro Vieira
João Camargo
Ana Margarida Esteves
Ângela Fernandes
Paulo Raposo
Paula Nunes
Vicente Alves do Ó
Raquel Varela
Helena Dias
Zé Pedro
Lúcia Gomes
André Freire
António Avelãs
Paula Cabeçadas
Belandina Vaz
Fernando Mora Ramos
Rui Borges
Miguel Cardina
Margarida Vale de Gato, Jaime Rocha e José Mário Silva
Tiago Mota Saraiva
Iolanda Batista
Joana Manuel
Tatiana Moutinho
Carlos Pereira
Paulo Varela Gomes
Ana Carla Gonçalves
Helena Romão
Nuno Gomes dos Santos
Pedro Rocha
Margarita Correia
Maria Bispo
Paulo Guinote
João Vasco Gama
Frederico Aleixo
Maria Luísa Cabral
Diogo Varela Silva
Tiago Rodrigues
João Gustavo
José João Louro
Francisco Calafate Faria
Joana Lopes
Bruno Carvalho
Aqulino Machado
Sandra Monteiro
Francisco Duarte
António Costa Santos
Rita Veloso
Nuno Bio
Jorge Silva Melo
Rui Dinis
Pedro Barroso
Mariana Avelãs
Ricardo Morte
Rui Zink
Pedro Ribeiro
Jorge Falcato Simões
Manuel Gusmão
Manuel Paulo
André Gago
Guadalupe Magalhães Portelinha
Manuel Jorge Marmelo
João Lavinha
Isabel do Carmo
Jorge Palma
Sara Gonçalves
João Paulo Cotrim
Tiago Torres da Silva
Cristina Cavalinhos
Joaquim Paulo Nogueira
Joaquim Reis Santos
Ana Nave
Rita Red Shoes
Sérgio Godinho
Myriam Zaluar
Paula Gil
Paula Marques
Alípio de Freitas
Joana Saraiva
João Reis
Diana Andringa
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
A Islândia saiu do “buraco”
A foto mostra os rostos de banqueiros que fugiram do país depois da crise, e ilustram agora uma casa de banho pública em Reykjavik.
"O mito escangalhado"
Tudo indica que o Grande Manitu das finanças portuguesas não passa de uma fraude. O homem, tido e havido como um génio sem par, não lhe acerta uma. De cada vez que se põe a prever, a projectar números e concepções, sai tudo errado; pior: acontece o contrário, com a consequência nefasta de afectar milhões de nós. Só agora, as indignações e os vitupérios começaram a surgir. E posta em causa a competência de Vítor Gaspar. Não se lhe exige que seja uma pitonisa de Delfos, dispondo de poderes premonitórios quase divinos. Mas pede-se-lhe, unicamente, que faça bem o seu trabalho: analise, compare, estatua as previsibilidades do mercado. A experiência ideológica aplicada a Portugal, de que ele é um obediente serventuário, conduz a um esvaziamento do próprio animus colectivo, resultado de um empreendimento de sujeição baseado no medo, na violência e na unilateralidade de pensamento.
No domingo, durante o programa Prós e Contras, de Fátima Campos Ferreira, um dos melhores que vimos, o general Loureiro dos Santos referiu que, nas Forças Armadas, um oficial superior que se enganasse tanto e tantas vezes, já tinha sido despedido. Aliás, durante a sessão, as críticas às definições e às decisões do Governo foram das mais lúcidas interpretações que tenho ouvido acerca da maneira e do modo como estamos a ser conduzidos e governados. Todo o poder encontra sempre uma resistência, sobretudo quando actua admitindo não haver possibilidade de escolha e de alternativa. As decisões são aceitas e tomadas em conjunto.
É, pois, preciso não esquecer de que a desgraça que nos atinge estende-se, na sua imperiosa e grave crueldade, à culpa de todos os membros do Executivo. Nenhum é inocente e cada um e todos terão de ser punidos, para lá do que as urnas disserem. A correlação entre acção e indulgência, que se tornou uma absurda normalidade, tem de ser interrompida, e os governantes responsabilizados. Recordo que a França, após a Libertação, criou a figura jurídica de "indignidade nacional" aplicável aos que haviam tripudiado sobre "a honra da pátria e os direitos de cidadania.
O lado "punitivo e ideológico", de que fala a eurodeputada socialista Elisa Ferreira, foi por eles criado e desenvolvido com inclemência e zelo. Resgatar a tragédia aplicando-lhes o mesmo remédio é uma tese que faz caminho, como resposta de justiça, nunca como retaliação ou vingança. Justiça, pura e simplesmente.
O que este Governo nos tem feito representa a mais grave contraconduta social, política, cultural e humana verificada em Portugal desde o salazarismo. O discurso oposicionista não pode, somente, ser "diverso" e incidir, apenas, na "actualidade" portuguesa. Os sicários deste projecto encontram-se espalhados transver- salmente por todos os sectores da actividade europeia, mas não há batalhas inúteis, nem lutas sem sofrimento.
Baptista Bastos
Daqui
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
O meu contributo para o 2 de março
No próximo dia 2 de março vou estar, mais uma vez, na rua, tal como em 15 de setembro passado.
A crise social, económica e política que o país e a Europa estão a viver não se compadece com «paninhos quentes».
É absolutamente necessário que os cidadãos se libertem das grilhetas da política partidária tradicional, que levantem a voz e digam a tod@s @s polític@s que a vida existe para além do parlamento e das sedes dos partidos.
É absolutamente necessário que o governo e o Presidente da República compreendam que o mundo existe para além dos seus discursos incompreensíveis.
É absolutamente necessário que a «Europa» e a sua comissão percebam que os cidadãos são pessoas e não números.
É absolutamente necessário que tod@s percebam que não é possível prosseguir com um projeto político e económico que tem como único objetivo o empobrecimento da população, para que a banca possa continuar a acumular lucros, que os países mais pobres continuem esmagados pela ditadura do neoliberalismo.
É absolutamente necessário defender os valores do estado social: a escola pública, o direito a um serviço nacional de saúde universal, o direito à justiça.
É absolutamente essencial a exigência de uma democracia mais participativa.
É absolutamente essencial que o contrato do estado com os cidadãos seja cumprido.
É absolutamente essencial que os corruptos vão para a cadeia.
É absolutamente essencial uma ética democrática e republicana que trate os cidadãos como iguais sem descriminações.
É absolutamente essencial que digamos NÃO! Isto não pode continuar!
"Marina Abramovic Meets Ulay"
Nos anos 70, Marina Abramović viveu uma intensa história de amor com Ulay. Durante 5 anos viveram num furgão realizando performances. Quando sentiram que a relação já não valia a pena, decidiram percorrer a Grande Muralha da China, dar um último grande abraço e nunca mais se ver. 23 anos depois o MoMa de NY dedicou uma retrospetiva à sua obra. Nela, Marina compartilhava 1 minuto de silêncio com cada estranho que se sentasse a sua frente. Ulay chegou sem ela saber, e... foi assim.
Agradeço à Myriam Zaluar a descoberta deste vídeo fantástico.
"Quem nos representa?"
Em vésperas de nova avaliação da troika, o Ministro das Finanças anunciou que não vai ser possível cumprir as metas do défice fixada no orçamento de 2013, não vai ser possível amortizar a dívida aos fundos europeus nos prazos contratados, não vai ser possível pagar os juros acordados. Anunciou, portanto, que vai pedir mais tempo.
Nos processos de endividamento há quase sempre um momento em que o credores depois de terem espoliado os devedores, empobrecendo-os, concluem que para cobrar alguma coisa é preferível deixar um credor respirar um pouco. Chegamos a esse ponto. O que se desenha é uma reestruturação da dívida, não a reestruturação de que precisamos, mas a reestruturação à medida das conveniências do credor.
Começou a renegociação da dívida e o nosso problema é não termos quem nos defenda. Quem é afinal Victor Gaspar senão um governador nomeado pelos credores?
Boaventura Sousa Santos
Daqui
"A IMPLOSÃO ANUNCIADA"
Houve tempos em que os intelectuais marcavam a
vida do país. Um manifesto, um ensaio, um romance, um poema, um simples
artigo podiam abalar o marasmo estabelecido e sublevar as consciências.
Por isso, de vez em quando, filósofos, romancistas, professores,
jornalistas e poetas eram presos. Não só na vigência do Estado Novo.
Antes do 5 de outubro, agora outra vez banido, já Guerra Junqueiro tinha
acabado com a Monarquia.
Durante a Ditadura, livros, poemas e até, canções apesar da censura e da repressão, foram subvertendo o regime antes de ele ser derrubado. Mas parece que a Democracia tirou espaço e voz aos intelectuais. Ou porque desistiram, ou porque não intervêm, ou porque foram abafados pelo frenesim da notícia e do comentário, ou ainda porque não há lugar para eles nos aparelhos políticos e outros que dominam a vida pública.
Mas eis que algo de novo aconteceu. Dois textos revolucionários, que são, em si mesmos, uma sublevação. Não foram escritos por nenhum político, muito menos por nenhum economista, mas por um filósofo e um poeta.
José Gil, “ O roubo do presente”, artigo publicado numa revista; Nuno Júdice, e o seu romance “Implosão”, editado pela D. Quixote. Não sei o que vai acontecer, sei que nada ficará na mesma depois destes dois textos.
Eles já abateram moralmente este governo e o contexto em que subjaz. Vejamos José Gil: “ Nunca uma situação se desenhou assim para o povo português: não ter futuro, não ter perspectivas de vida social, cultural e económica, e não ter passado porque nem as competências nem a experiência adquiridas contam já para construir uma vida”. Resultado:” o português foi expulso do seu próprio espaço, continuando, paradoxalmente a ocupá-lo”. “Este governo transforma-nos em espantalhos…”.
A “Implosão”, de Nuno Júdice, é o libelo mais contundente contra o embuste em que se tornou a Europa e a crise que está a matar Portugal. Um novo Finis Patriae em que, como no poema de Junqueiro, tudo se desmantela e se ouve de novo “ a alma da Pátria a bradar moribunda”. Dois amigos, que há muito não se viam, encontram-se na manifestação de 15 de Setembro. Voltam ao Café onde, durante a ditadura, um deles, que parece sósia de Lenine, enchia cadernos a escrever não se sabe o quê.
O outro, narrador- conspirador, traçava, noutra mesa, com o seu grupo, planos de luta armada. De tudo isso falam. Das armas roubadas e escondidas que o sósia quer recuperar para uma nova revolução. De Ângela, namorada de um militante que foi ao Leste europeu receber instrução e que, ao voltar, foi preso e virado pela polícia. Ambos se apaixonam por ela. Recordam o tempo em que todos suspeitavam de todos e todos podiam ter sido culpados das prisões dos conspiradores. Quem se sabe se o Traidor, se Ângela ou se eles próprios. Vão passar a noite num velório numa igreja degradada de um bairro periférico.
Há um caixão fechado, numa sala fria e vazia. Quem está lá dentro? Ângela? As armas.?” –A Pátria, diz um deles. A Europa”. Essa é a ideia força: seja o que fôr que está no caixão, é a Pátria que ali jaz. Recordam a 1ª Grande Guerra, as trincheiras.” Mas já não há pátrias por que lutar”. Evocam a 2ª Guerra, a Normandia, o Holocausto, Eichman, que poupava no gás.-“Lembras-te da Alemanha do tempo dos nazis? Roubaram tudo aos judeus”.”-Quem são os judeus de hoje?–“Somos todos, responde o sósia de Lenine.
Reflectem sobre as mudanças do mundo e o conspirador conclui que hoje as armas de nada serviriam, porque “os exércitos que nos ocupam são invisíveis, não têm quarteis”. Mas talvez outro tipo de revolução tenha de acontecer, “ basta usar a internet”. Embora tudo agora seja mais difícil, porque “ é da extinção de povos que se trata, reduzi-los à miséria, à mendicidade”. Nuno Júdice não poupa nas palavras, e eu não posso deixar de fazer o contraste, com os políticos bem comportadinhos que só pensam nas carreirazinhas.
Em Gil e Júdice o sentido da sublevação intelectual é o mesmo. Diz o primeiro: …”desapossam-nos do que torna possível a nossa presença no espaço público.” E Júdice. “ A ditadura hoje é muito mais maquiavélica porque não se apresenta como tal, vivemos todos convencidos de que somos livres, e todos os dias nos impõem mais uma coisa contra nós”. Finalmente: o traidor aparece no velório, bem vestido, agora está com os do poder. Não falam. Assim ficam sem saber se veio para os matar. Ouve-se lá fora um rumor que vai crescendo. São os pobres que se juntam. De madrugada dois operários vêm buscar o caixão que, além da Pátria, só tem explosivos. O traidor afasta-se e é envolvido pela multidão. Acendem uma fogueira. –“Tê-lo-ão comido?” – Nunca se sabe o que uma multidão com fome pode fazer, diz o sósia de Lenine.
Nenhum texto político tem a força e a carga simbólica deste romance de Nuno Júdice. Tanto nele como no artigo de José Gil há uma implosão anunciada. Às vezes do fundo da alma colectiva, irrompem vozes que sabem anunciar. Ai dos políticos, e não só, que não souberem ler estes sinais.
Manuel Alegre, 25/02/2013
Daqui
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
domingo, 24 de fevereiro de 2013
David Mourão-Ferreira - 24/02/1927
Crepúsculo
É quando um espelho, no quarto,
se enfastia;
Quando a noite se destaca
da cortina;
Quando a carne tem o travo
da saliva,
e a saliva sabe a carne
dissolvida;
Quando a força de vontade
ressuscita;
Quando o pé sobre o sapato
se equilibra...
E quando às sete da tarde
morre o dia
- que dentro de nossas almas
se ilumina,
com luz lívida, a palavra
despedida.
sábado, 23 de fevereiro de 2013
"Grândola viral"
Como se controlam manifestações avulsas, espontâneas e desenquadradas
politicamente? Não se controlam. Evitam-se. Não fechando as portas dos
palácios, porque elas não serão suficientes para conter a indignação.
Nem evitando os contactos com as pessoas, porque a sua voz virá sempre
pelas ondas hertzianas e electrónicas.
Artigo de Leonete Botelho no Público de hoje. Na íntegra aqui
Artigo de Leonete Botelho no Público de hoje. Na íntegra aqui
"Este artigo é um panfleto"
Texto de José Pacheco Pereira no Público de hoje (via Entre as brumas da memória) - Vale a pena ler
Este artigo é um panfleto. Não acrescenta nada de novo àquilo que digo há mais de dois anos, pelo que não tem interesse mediático. Não é distanciado, nem racional, nem equilibrado, nem paciente, nem tem um átomo da imensa gravitas de Estado que enche a nossa vida pública no PS e no PSD, cheia daquilo a que já chamei redondismo e pensamento balofo. Como vêem já disse isto tudo e estou-me a repetir. Não é sequer um artigo feliz, que se faça com gosto e prazer. Prescindia bem de o fazer para falar de outras coisas, refrigérios da alma, como se dizia no passado, seja livros, seja o Inverno, seja algum momento especial, uma descoberta de amador curioso, uma coisa que se aprendeu, uma calmaria hegeliana do espírito, ou uma negatividade divertida e sagaz.
Bem pelo contrário. Não ilumina, não é feito pela curiosidade, é feito
em nome da voz que não tem voz e por isso tem muitos adjectivos e podia
ser todo escrito em calão, aqueles plebeísmos, grosserias e obscenidades
que tem nos dias de hoje a enorme vantagem de não conter hipocrisia,
porque são palavras inventadas contra a hipocrisia. Ao menos, vamos hoje
usar o esplendor das belas palavras do português contra o
abastardamento da língua como maneira de falarmos uns com os outros, de
nos entendermos na simplicidade do povo comum, ou na riqueza criativa de
uma velha fala, capaz de tudo se a deixarmos à solta, mas magoada e
ferida pelo seu uso para esconder vilezas e malfeitorias, e acima de
tudo para esconder arrogâncias ignorantes, que é a moeda falsa que para
aí circula.
Pode ser porque eu dou valor às palavras — uma sinistra manifestação da
condição suspeita de intelectual — que me repugna, enoja, irrita,
indigna, encanita, faz-me passar do sério, a sua sistemática violação
pelo governo. Violação, exactamente como as outras violações. Devia
haver uma lei não escrita para punir a violência feita com as palavras e
pelas palavras, como há com a violência doméstica, a violência contra
os mais fracos, o abuso do poder. Devia haver uma lei não escrita para
punir o envenenamento das palavras pela desfaçatez lampeira, a esperteza
saloia.
De novo, pela pecha de ser intelectual, — um estado miserável nos dias
de hoje, “treinador de bancada”, “comentador”, “opinador”, “achista”,
“inútil”, “velho do restelo”, “negativista”, ou qualquer outra variante
das palavras com que hoje o poder e os seus serviçais entendem
diabolizar o debate público que não lhes convém — é que me repugna,
enoja, irrita, indigna, encanita, faz-me passar do sério, a sistemática
tentativa de nos enganar, de nos tomar por parvos, de nos despachar com
um qualquer truque verbal destinado a dizer que uma coisa é diferente do
que o que é, porque convém que não se perceba o que é.
Os exemplos abundam. Por exemplo, chamar aos cortes “poupanças”, como
se não fosse insultuoso para quem quer que seja ver a sua vida ficar
miserável por uma ”poupança” virtuosa, cuja natural bondade não pode ser
atacada. Quem ousa ser contra poupanças? Pode-se ser contra os
despedimentos, contra a redução das despesas sociais, contra os cortes,
mas não se pode ser contra as “poupanças”. Mesmo quando elas mais não
sejam do que cortes, despedimentos, reduções de prestações, reformas
miseráveis ainda mais miseráveis, ou, como diz Bagão Félix, “diminuição
do rendimento das famílias”. Os espertos assessores de comunicação, que
se esforçam todos os dias para dar ao Governo a “política” que o
professor Marcelo diz que ele não tem e evitar assim “erros de
comunicação”, são os aprendizes de feiticeiros deste quotidiano embuste
em que vivemos. Mas estão todos bem uns para os outros.
Chamar a um novo plano de austeridade, o enésimo de há dois anos para
cá, sempre precedido da mentira de que “não vai ser necessária mais
austeridade”, mais uma vez sobre os funcionários públicos, os
pensionistas e os que precisam de serviços públicos de saúde, educação, e
outros, essa coisa obscura e neutra de “medidas contingentes”, não é
também um insulto à nossa inteligência e, pior que tudo, uma ofensa aos
que vão ser vítimas daquilo que o Governo chama “desvios na execução
orçamental”, ou seja erros? A verdade, nua, bruta, cruel, dura, pétrea, é
que cada vez que o Governo erra, há um novo plano de austeridade
destinado a garantir que a mesma receita que falhou seja tentada de
novo, com mais uns milhares de milhões retirados às pessoas, às
famílias, à economia, para pagar uma obstinação, um beco sem saída
ideológico, uma tese sem prova, uma abstracção intelectual, no fundo uma
enorme vaidade sem perdão. Sócrates deitou fora milhões e milhões mal
gastos e perdulários, Passos Coelho deita fora milhões e milhões para um
vazio de arrogância, ignorância e vaidade, sem melhorar o défice,
aumentando a dívida, sem se ver qualquer utilidade. Mas o dinheiro,
antes como agora, foi para algum sítio.
E como aceitar o supremo insulto fruto de uma displicência que acaba por
ser maldosa e arrogante, de se dizer que a recessão para este ano
“aumenta de um ponto percentual”, como se passasse de 35,4 para 36,4,
quando passa de 35,4 para 70,8, usando estes números imaginários para se
perceber a enormidade do “ponto percentual” que significa errar por
100%, duplicar por dois uma desgraça, que passa a ser o dobro do que
era, ou seja uma pequena coisa, “um pequeno ponto percentual”, como se
fosse a coisa mais natural do mundo.
Os erros agora também se chamam “ajustamentos” e podem ser tidos apenas
como a natural consequência da “dificuldade das previsões
macroeconómicas”, que se tem que ir “ajustando” mês a mês. Mas os erros
antes de serem “ajustados” acaso não foram instrumentos de combate
político, fonte de afirmação de legitimidade, atirados contra todos os
que suspeitavam da sua verdade e exequibilidade? Não tem importância,
encontra-se uma estatística qualquer que mostra que estamos no “caminho
certo”, mesmo que tudo esteja errado, e há sempre quem coma esta palha.
É tudo “ajustamento” porque os manipuladores das palavras entendem
que, lá fora da sua janela do poder, tudo é plástico que se pode moldar,
é tudo paisagem em que se pode plantar uma sebe alta para não ver o
mais de um milhão de desempregados “em linha com o que estava previsto”,
e colocar os portugueses numa jaula de ratinhos a correr para fazer
experiências. E que tal cortar metade da comida a ver se eles se
“ajustam” à “poupança” de só comer metade? Trinta morrem, quarenta ficam
doentes, vinte ainda têm gordura para aguentar. Aguentam, aguentam, diz
o tratador. Excelente, ficam dez por cento, a “selecção natural”
funcionou e deixou-nos com os mais fortes, os que se “ajustam”, os
“empreendedores”. Morreram alguns comidos pelos outros? Não há problema,
sempre há ratinhos “empreendedores” e que não são “piegas”, e que
mostram as virtudes do modelo.
No dia em que este Governo for corrido, pelo mesmo tipo de onda de
rejeição que varreu o seu antecessor, só que agora do tamanho das ondas
do Canhão da Nazaré, vai sair com a atitude daquele que diz: o último a
sair que feche a luz e a porta, porque já não é connosco, “queríamos
mudar Portugal e não nos deixaram”. E irão para os seus lugares de acolhimento confortável, já pensados e preparados, sem temor e sem tremor.
No entretanto, estragaram Portugal com a mesma sanha do filósofo de
Paris, numa situação que vai demorar décadas para ser consertada, se é
que tem remédio. Descaracterizaram o PSD como Sócrates fez ao PS,
tornaram pestíferos os políticos em democracia e as instituições da
democracia, destruíram a geração actual, a que tratam sobranceiramente
como a dos “instalados” e querem desempregar para “ajustar” o preço da
mão-de-obra, e hipotecaram a geração seguinte com a mesma antiga
maldição da baixa qualificação, do provincianismo, do quotidiano de
subsistência onde não há recursos para os bens materiais quanto mais
para os “imateriais”.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
Anaïs Nin - 110 anos
Do not seek the because - in love there is no because, no reason, no explanation, no solutions
Anaïs Nin
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
"Bengali Harlem: Author documents a lost history of immigration in America"
René Char - 19/02/1988
Comune présence
Comme si tu étais en retard sur la vie.
S'il en est ainsi fais cortège à tes sources.
Hâte-toi.
Hâte-toi de transmettre
Ta part de merveilleux de rébellion de bienfaisance.
Effectivement tu es en retard sur la vie,
La vie inexprimable,
La seule en fin de compte à laquelle tu acceptes de t'unir,
Celle qui t'est refusée chaque jour par les êtres et par les choses,
Dont tu obtiens péniblement de-ci de-là quelques fragments décharnés
Au bout de combats sans merci.
Hors d'elle, tout n'est qu'agonie soumise, fin grossière.
Si tu rencontres la mort durant ton labeur,
Reçois-là comme la nuque en sueur trouve bon le mouchoir aride,
En t'inclinant.
Si tu veux rire,
Offre ta soumission,
Jamais tes armes.
Tu as été créé pour des moments peu communs.
Modifie-toi, disparais sans regret
Au gré de la rigueur suave.
Quartier suivant quartier la liquidation du monde se poursuit
Sans interruption,
Sans égarement.
Essaime la poussière
Nul ne décèlera votre union.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Um novo paradigma energético?
O gás de xisto está a revolucionar o mundo da energia. Relações económicas, relações políticas e políticas internacionais podem vir a ser totalmente diferentes daqui a poucos anos. Um novo paradigma energético?
No México, o governo promove a fraturação hidráulica de forma imprudente e despreza as consequências ecológicas, entre as quais o aumento dos riscos sísmicos:
Pemex inició en febrero pasado la extracción de gas shale en Coahuila, 2.9 millones de pies cúbicos diarios, nada en comparación con los 680 billones de pies cúbicos diarios potenciales. Según la Secretaría de Energía, las reservas mexicanas de este combustible son once veces mayores que las de gas natural y su explotación podría atraer hasta 10 mil millones de dólares anuales. Los yacimientos se localizan en Chihuahua, Coahuila y Tamaulipas a lo largo de la frontera con Texas y en diversos sitios de Veracruz. Hay diez pozos de evaluación en los planes de Pemex.
Quando já não precisarem do petróleo dos estados do Golfo, os Estados Unidos talvez deixem de fazer de polícias da região. O que não será, necessariamente, uma boa notícia para a China:
A bridge is being built between the Far East and the Middle East that could change the world of oil.
Nos Estados Unidos, o boom do gás de xisto está a ser acompanhado por um renascimento industrial. Por todo o país, fábricas, petroquímicas e siderurgias relançam as suas atividades, tirando partido de uma fonte de energia abundante e barata:
The shale gas revolution is firing up an old-fashioned American industrial revival, breathing life into businesses such as petrochemicals and glass, steel and toys.
Na Rússia, alerta vermelho para a Gazprom; ao fazer cair os preços do gás natural no mercado europeu, a revolução do gás de xisto desarticula por completo a estratégia a longo prazo do gigante russo do gás:
Sur le marché international du gaz, cela fait cinq ans qu’il est question de “révolution du schiste”. Depuis l’an 2000, les Etats-Unis ont accru de façon spectaculaire leurs extractions de gaz non conventionnel. Même si cela ne représente pas encore un énorme volume à l’échelle mondiale, le phénomène est susceptible de transformer le secteur et d’avoir une influence non négligeable sur la Russie. Pourtant, Gazprom, le premier producteur de gaz de la planète et la plus importante société de notre pays, n’avait jusqu’à présent que mépris pour le gaz de schiste, et, pire, avait convaincu le pouvoir.
domingo, 17 de fevereiro de 2013
"Uma história e dois finalmentes"
A Grécia reestruturou a dívida um bocadinho. A UE disse que seria uma vez sem exemplo. Agora a Irlanda também reestruturou a dívida, com um “cortezinho de cabelo” ao BCE. As reestruturações andam aí.
Na íntegra aqui
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Portugal é possível! (ou impossível?) - "Português Daniel Rodrigues ganha prémio World Press"
Mas a história não acaba aqui. Este jovem de 25 anos, um talento como se pode ver, teve que vender a máquina com que tirou esta bela foto:
É fotógrafo, está desempregado e foi obrigado a vender o seu material fotográfico para fazer face às despesas. Chama-se Daniel Rodrigues e venceu o primeiro prémio do World Press Photo, na categoria “Daily Life”.
É este o país que temos e vamos continuar a ter se não fizermos nada!
"RSF SOULAGÉE PAR LA LIBÉRATION DU JOURNALISTE NADIR DENDOUNE"
“L’annonce de la libération de Nadir Dendoune constitue un immense soulagement après vingt-trois jours d’inquiétude. Journaliste, il a été arrêté pour n’avoir fait que son travail. La mobilisation de ses proches et de ses confrères, en France comme en Irak, a porté ses fruits. Reporters sans frontières remercie les journalistes qui ont apporté leur signature à l’appel lancé par RSF et le comité de soutien”, a déclaré Christophe Deloire, Secrétaire général de l’organisation.
Na íntegra aqui.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
"Celebrating the Prince of Peace in the Land of Guns" - Michael Moore
After watching the deranged, delusional National Rifle Association press conference on Friday, it was clear that the Mayan prophecy had come true. Except the only world that was ending was the NRA's. Their bullying power to set gun policy in this country is over. The nation is repulsed by the massacre in Connecticut, and the signs are everywhere: a basketball coach at a post-game press conference; the Republican Joe Scarborough; a pawn shop owner in Florida; a gun buy-back program in New Jersey; a singing contest show on TV, and the conservative gun-owning judge who sentenced Jared Loughner.
So here's my little bit of holiday cheer for you:
These gun massacres aren't going to end any time soon.
I'm sorry to say this. But deep down we both know it's true. That doesn't mean we shouldn't keep pushing forward – after all, the momentum is on our side. I know all of us – including me – would love to see the president and Congress enact stronger gun laws. We need a ban on automatic AND semiautomatic weapons and magazine clips that hold more than 7 bullets. We need better background checks and more mental health services. We need to regulate the ammo, too.
Na íntegra aqui.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
"War Addiction Default"
Cartoon de Beeler
I was asked earlier this week by an reporter for PressTV, the state television network in Iran, if I could explain why the US political system seemed to be so dysfunctional, with Congress and the President having created an artificial budget crisis 17 months ago, not “solving” it until the last hour before a Congressional deadline would have created financial chaos, and even then not solving the problem and instead just pushing it off for two months until the next crisis moment. - Artigo de Dave Lindorff
Dia Mundial da Rádio
13 February is World Radio Day — a day to celebrate radio as a medium; to improve international cooperation between broadcasters; and to encourage major networks and community radio alike to promote access to information and freedom of expression over the airwaves.
As radio continues to evolve in the digital age, it remains the medium that reaches the widest audience worldwide. This multi-purpose medium can help people, including youth, to engage in discussions on topics that affect them. It can save lives during natural or human-made disasters; and it provides journalists with a platform to report facts and tell their stories.
UNESCO encourages all countries to celebrate World Radio Day by planning activities in partnership with regional, national and international broadcasters, non-governmental organizations, the media and the public.
Throughout these web pages, you will find a wealth of resources that you can use free of charge and without copyright restriction to help plan your World Radio Day event.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
"Los debates de política económica en EEUU"
La economía de EEUU está en mejor forma que la de la Unión Europea. Y ello se debe en gran parte a que, en esta última, las autoridades que gobiernan sus economías han estado aplicando las políticas que está promoviendo el Partido Republicado de EEUU, controlado por la ultraderecha estadounidense, el Tea Party, políticas públicas que habían sido promovidas por el candidato de tal partido para la presidencia de EEUU, el financiero empresarial, el Sr. Mitt Romney. Entre ellas, la que centra las propuestas políticas públicas del Partido Republicano es la recuperación de la economía de aquel país mediante la disminución del déficit público a base de recortes del gasto público (y muy en especial de gasto público social), recortes de una intensidad nunca antes vista, a fin de desmantelar el escasamente desarrollado Estado del Bienestar de aquel país. La única excepción en estos recortes de gasto público propuesto por el Partido Republicano sería el gasto militar, que aumentaría enormemente, en cantidades nunca antes vistas en tiempos de paz.
Na íntegra aqui.
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