Muitos anunciam a implosão da União Europeia, do Euro e da Zona Schengen como possibilidade iminente e provável. Os políticos que governam o estro da União, aqueles que, sobre cenários de um sonho, mimetizam para as “fotos de família” os gestos do que já foi o Projecto Europeu, contestam com enorme veemência esta “leitura” da realidade, protestando regras, esgrimindo “Tratados”, normas e alíneas a que atribuem o miraculoso poder da reencarnação. E ambos se enganam.
Esta coisa a que, por falta de melhor designação, insistimos em chamar de União Europeia, não podia estar mais distante do projecto fundador materializado no Tratado de Roma. Nesse tratado são claramente definidos os pilares que sustentariam uma comunidade europeia. Esses pilares são: a Liberdade e a Democracia, a Igualdade política entre Estados; a Solidariedade económica do centro com a periferia e a Livre Circulação de Mercadorias e Serviços, Pessoas e Capitais.
Já se vê, portanto, que esta coisa Europeia que temos é tudo menos a União desenhada pelos seus fundadores. As exigências de Liberdade e Democracia há muito foram deixadas cair pela cedência face às condições internas da Hungria, aos novos muros, à supressão da liberdade de imprensa; a Igualdade entre Estados foi decapitada pela criação de uma unidade monetária e de um Banco Central que transferem riqueza dos países periféricos para os países do Centro e Norte da Europa, aumentando as desigualdades; a Solidariedade foi pelo cano da história da concupiscência e da venalidade dos interesses e ambições nacionalistas dos mais fortes; quanto à Livre Circulação de Bens e Serviços, Pessoas e Capitais, que fazia sentido por gerar equilíbrios e mobilidade entre regiões, perde qualquer sentido quando amputada da livre circulação de Pessoas, deixando os cidadãos Europeus entregues às piores vilanias do capitalismo selvagem, sem regras, criminoso mesmo. Reduzida à livre circulação de capitais, bens e serviços, esta é uma Europa subordinada aos ditames dos Mercados, do capital Financeiro, que institucionaliza a fuga aos impostos e o branqueamento de capitais.
Esta não é uma Europa de cidadãos, muito menos de Europeus. É uma Europa de capitais, de jogatana de casino, onde a chantagem e a ingerência nos assuntos internos dos Estados se tornou o modus operandi das Instituições Europeias. Na verdade, reféns do “poder” dos “mercados”, estas mais não são que um grupo de “disciplinados funcionários” dos interesses e das decisões financeiras, agora desregulamentadas e “to big to fail“. Nesta Europa, os países do Sul são encarados como meros produtores de mão-de-obra barata, apta a competir com as economias emergentes da Ásia, mormente a da China mas também a da Índia e a do triângulo vermelho.
Anunciar, portanto, a implosão da UE não passa de um mero eufemismo. A UE já implodiu. Acontece que há alguns que ainda não sabem ou fingem não saber. Um pouco à semelhança do que se passa no filme “Um fim‑de‑semana com o Morto” em que os personagens fazem o cadáver “interpretar” os gestos de estar vivo apesar de este já estar morto há muito!
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