quinta-feira, 18 de março de 2010

100 anos de Hollywood - 1


Sobre a génese do cinema há diferentes teorias. Uns atribuem ao trabalho de Thomas Edison nos finais do século XIX os primeiros passos do cinema. Outros falam das experiências do francês Meliès e do inglês G. A Smith como a verdadeira origem do cinema. A história no entanto apontou o espírito empreendedor dos irmãos Louis e Auguste Lumière como a base de todas as experiências cinematográficas que se lhe seguiram. A verdade é que com o novo século chegava também uma nova forma de entretenimento.

O cinema ainda não era bem cinema – era ainda cinematógrafo dos Lumière ou o quinetoscópio de Edison – mas já encantava tudo e todos. Durante quase trinta anos o cinema tornou-se na maior indústria de massas, e, pasme-se, numa das maiores artes do novo século. E fê-lo sem o recorrer ao som. Não que os filmes fossem, qual uma igreja em estado de oração interior, apologistas do silêncio. As exibições em teatros, óperas ou feiras dos primeiros filmes eram acompanhadas invariavelmente de música de fundo, habitualmente da autoria de um pianista que aplicava a sua própria visão das cenas do filme às teclas do piano. Logo, ver um filme em salas diferentes implicaria sempre ouvir um acompanhamento sonoro diferente. Ao longo do tempo os próprios sons do piano foram-se padronizando, (todos sabiam que ao ouvir determinado acorde estavam perante o vilão) atirando para o chão a teoria de que o mudo era silêncio. Não o era nem nunca o foi. Como Alfred Hitchcock disse um dia Os filmes mudos eram perfeitos. Só lhes faltava o som sair da boca das personagens. E o som tinha de facto o seu papel no cinema mudo!

A indústria cinematográfica

Os primeiros anos do cinema foram um palco de múltiplas experiências, tanto na Europa como nos Estados Unidos. No Velho Continente o cinema tinha ganho um impulso graças ao espírito empreendedor dos irmãos Lumière. Mais produtores do que propriamente realizadores, foram eles que fizeram com que, para além das massas, também as elites europeias cedo tivessem um contacto próximo com esta nova arte. Realizadores como Meliès produziam à época em Paris obras verdadeiramente inovadoras, explorando todas as potencialidades que esta nova invenção oferecia. O uso do cinematoscópio era no entanto algo que viria a revelar-se bastante subaproveitado. Na verdade a invenção dos Lumière incluía já a possibilidade de utilizar som e imagem, de forma sincrónica. Mas os custos que o processo implicava tinham levado a maior parte dos realizadores (nem todos já que há exemplos de filmes sonoros nesse período) a deixarem de lado a ideia, apostando acima de tudo em três aspectos que marcaram o início do cinema europeu: a direcção de actores, o trabalho de câmara e a manipulação das cenas através da montagem. Começava então a Belle Époque do cinema europeu.
Nos Estados Unidos, e apesar da aplicação de algumas das mentes mais inovadoras da época, o cinema começou por ser um divertimento de feita. Os Nickelodeons popularizaram o cinema entre as massas. A vaga de inventos que marcou a primeira década do século trouxe inúmeras experiências cinematográficas às salas de exibição norte-americanas mas em 1912 dá-se a primeira grande revolução do cinema americano. O domínio, quase castrador, que a Motion Picture Association impunha ao mundo do cinema, tinha acabado. Agora todos eram livres de seguir o seu caminho. Hollywood tinha acabado de nascer. Rapidamente começaram a nascer variadas produtoras, começando uma dinastia que apenas terminaria na década de 60. O sistema de estúdios, como foi mais tarde chamado, era altamente hierarquizado. Nos primeiros dez anos nasceram mais de cinquenta companhias cinematográficas, que, por falta de verbas ou desencanto com o cinema, foram desaparecendo tão depressa como apareceram. Algumas foram-se fundindo até que no início dos anos vinte havia um conjunto de grandes produtoras (MGM, Warner Brothers, Paramount, RKO e Fox) que controlava a produção e distribuição dos filmes. Pelo meio o cinema americano tinha assistido a emergência de um autor, D. W. Grifitth, que soubera como ninguém levar o cinema ao público, sendo um dos pais do Star System de Hollywood. Filmes como Intolerance ou Birth of a Nation ficariam para sempre como os maiores marcos do cinema mudo norte-americano.
Com a emergência, tanto nos Estados Unidos como na Europa, de estúdios, começava igualmente a adivinhar-se a transformação do próprio cinema. Se até aos anos 20 a concepção de um filme era visto como a criação de uma obra de arte, a politica dos estúdios veio alterar um pouco a situação. Adoptando os modelos de Henry Ford de produção em série, os estúdios colocaram os números à frente dos artistas. Os filmes teriam de ser baratos e sucessos de bilheteira. Isso obrigou muitos artistas a trabalhar longe dos estúdios ou então, como outros fizeram, a criar uma relação especial entre a figura do produtor e do director.
A verdade é que o cinema era agora tanto arte como indústria.

Fonte: Hollywood

Sem comentários: