O Cinema Odéon, sito na Rua dos Condes, Nº 2-20, Freguesia de São José, data de 21 de Setembro de 1927 e é hoje o cinema com mais história de Lisboa, tendo passado pela sua tela clássicos do mudo e do sonoro (Stroeheim, Lang, Tod Browning, Eisenstein, Cukor, Capra, etc.), e, já a partir da segunda metade do séc. XX grandes êxitos do cinema português e espanhol, bem como teatro radiofónico, protagonizado por Laura Alves, Madalena Iglésias, Antonio Calvário, entre muitos outros.
O conjunto da sala, com 84 anos, formado pelo tecto de madeira tropical aparente (único no mundo, espantosamente intacto depois de 16 anos de abandono); pelo lustre de néons gigantes irrradiantes (peças electro-históricas), que uma longa corrente vertical, comandada do tecto, faz deslizar até ao chão para manutenção; pelo luxuriante palco com moldura e frontão em relevo Art Deco (outro caso único); pela complexa teia de palco, com o seu pano de ferro; e pela série de camarotes (onde Salazar tinha lugar cativo), galerias e balcões em andares, tudo isto forma um exemplar assinalável, mais ainda por ser o último do género existente em Portugal.
O Cinema Odéon esteve em vias de classificação como Imóvel de Interesse Público de 2004-2009, altura em que o processo foi arquivado pelo Igespar. Neste momento, e não existindo nenhuma classificação municipal, mantém-se apenas a ténue protecção de estar inserido no perímetro de classificação do conjunto da Avenida da Liberdade como de Interesse Público, cujo processo de classificação, também da responsabilidade do Igespar, terminará em 31 de Dezembro de 2011.
O Cinema Odéon está fechado e à venda desde meados da década de 90, sendo que por força dessa circunstância e da verificada falta de obras de conservação, as suas galerias metálicas, as suas fachadas (sobretudo a tardoz) e a clarabóia no telhado, necessitam de obras.
Recentemente, terá sido aprovada pela Câmara Municipal de Lisboa, uma informação prévia conducente à transformação do Odéon em centro comercial e estacionamento subterrâneo para automóveis, apontando-se como elementos a preservar o seu tecto de madeira e o frontão de palco, ainda que em local a considerar; tornando assim irreversível a não reutilização do Odéon enquanto cinema e/ou teatro.
Mas o seu futuro e preservação coerente e responsável não se compadece com o aleatório de "manter a cobertura e a fachada" - que uma obra em profundidade, como a que se anuncia (dois pisos subterrâneos!) destruirá inevitavelmente - nem é suficiente essa preservação "da pele", sem o poderoso miolo. O que se pode/deve fazer - seguindo o exemplo do vizinho Condes mas em melhor; ou o de El Ateneo Grand Splendid, de Buenos Aires, que virou uma extraordinária livraria - é aproveitar o vazio da sala (se não for possível a sua permanência enquanto cinema e/ou teatro), mantendo as suas estrutura e elementos, para uma cuidada e inventiva reutilização em novas funções à altura dos valores reais num re-uso que não destrua a "galinha dos ovos de ouro" que salta à vista (a sala, o lustre, o palco e a sua teia, etc) - antes tire partido dela se a sua recuperação for conseguida, garantindo a reversibibilidade da eventual transformação.
Confrange ver os investidores e responsáveis institucionais e municipais - que deviam ter uma abordagem e perspectiva, precisamente por estarmos em plena época de crise, de procurar transformar dificuldades em oportunidades - sem qualquer visão ou uma inteligência operativa, neste caso derradeiro de possibilidade de manter um espaço arquitectónico, notabilissimo e único, vivo!
Os abaixo assinados, tendo em conta ainda a perda irreparável que foi para esta cidade o desaparecimento de outras salas igualmente míticas (ex. Monumental e Éden) apelam a quem de direito, i.e. ao Governo, à Câmara Municipal de Lisboa, a todos os Agentes Culturais e de Entretenimento desta cidade, e aos cidadãos em geral, para que em conjunto se encontre uma solução para o Cinema Odéon, que dignifique a cidade, o país e o nosso património.
Os abaixo assinados
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