quinta-feira, 28 de junho de 2012

Corto Maltese - "The Celtics" - 3

Congresso Democrático das Alternativas


"Só vamos sair da crise empobrecendo". Este é o programa de quem governa Portugal. Sem que a saída da crise se vislumbre, é já evidente o rasto de empobrecimento que as políticas de austeridade, em nome do cumprimento do acordo com a troika e do serviço da dívida, estão a deixar à sua passagem. Franceses e gregos expressaram, através do voto democrático, o seu repúdio por este caminho e a necessidade de outras políticas. Em Portugal, o discurso da desistência e das "inevitabilidades" continua a impor-se contra a busca responsável de alternativas.

Portugal continua amarrado a um memorando de entendimento que não é do seu interesse. Que nos rouba a dignidade, a democracia e a capacidade de coletivamente decidirmos o nosso futuro. O Estado e o trabalho estão reféns dos que, enfraquecendo-os, ampliam o seu domínio sobre a vida de todos nós. Estamos a assistir ao mais poderoso processo de transferência de recursos e de poderes para os grandes interesses económico-financeiros registado nas últimas décadas.

Tudo isto entregue à gestão de uma direita obsessivamente ideológica que substituiu a Constituição da República Portuguesa pelo memorando de entendimento com a troika. E que quer amarrar o País a um pacto orçamental arbitrário, recessivo e impraticável, à margem dos portugueses. Uma direita que visa consolidar o poder de uma oligarquia, desmantelar direitos, atingir os rendimentos do trabalho (que não sabe encarar como mais do que um custo), privatizar serviços e bens públicos, esvaziar a democracia, desfazer o Estado e as suas capacidades para organizar a sociedade em bases coletivas, empobrecer o país e os portugueses não privilegiados.

Num dos países mais desiguais da Europa, o resultado deste processo é uma sociedade ainda mais pobre e injusta. Que subestima os recursos que a fortalecem, a começar pelo trabalho. Que hostiliza a coesão social. Que degrada os principais instrumentos de inclusão em que assentou o desenvolvimento do País nas últimas quatro décadas: Escola Pública, Serviço Nacional de Saúde, direito laboral, segurança social.

Este é um caminho sem saída. O que está à vista é um novo programa de endividamento, com austeridade reforçada. Sendo cada vez mais evidente que as políticas impostas pela troika não fazem parte da solução. São o problema. Repudiá-las sem tibiezas e adotar outras prioridades e outras visões da economia e da sociedade é um imperativo nacional.

Este é o tempo para juntar forças e assumir a responsabilidade de resgatar o País. É urgente convocar a cidadania ativa, as vontades progressistas, as ideias generosas, as propostas alternativas e a mobilização democrática para resistir à iniquidade e lançar bases para um futuro justo e inclusivo que devolva às pessoas e ao País a dignidade que merecem.

São objetivos de qualquer alternativa séria: a defesa da democracia, da soberania popular, da transparência e da integridade, contra a captura da política por interesses alheios aos da comunidade; a prioridade ao combate ao desemprego, à pobreza e à desigualdade; a defesa do Estado Social e da dignidade do trabalho com direitos.

É preciso mobilizar as energias e procurar os denominadores comuns entre todos os que estão disponíveis para prosseguir estes objetivos. Realinhar as alianças na União Europeia, reforçando a frente dos que se opõem à austeridade e pugnam pela solidariedade, pela coesão social, pelo Estado de Bem-Estar e pela efetiva democratização das instituições europeias.

É fundamental fazer escolhas difíceis: denunciar o memorando com a troika e as suas revisões, e abrir uma negociação com todos os credores para a reestruturação da dívida pública. Uma negociação que não pode deixar de ser dura, mas que é imprescindível para evitar o afundamento do país.

Para que esta alternativa ganhe corpo e triunfe politicamente, é urgente trabalhar para uma plataforma de entendimento o mais clara e ampla possível em torno de objetivos, prioridades e formas de intervenção. Para isso, apelamos à realização, a 5 Outubro deste ano, de um congresso de cidadãos e cidadãs que, no respeito pela autonomia dos partidos políticos e de outros movimentos e organizações, reúna todos os que sentem a necessidade e têm a vontade de debater e construir em conjunto uma alternativa à política de desastre nacional consagrada no memorando da troika e de convergir na ação política para o verdadeiro resgate democrático de Portugal.

Propomo-nos, em concreto, reunindo os subscritores deste apelo, iniciar de imediato o processo de convocatória de um Congresso Democrático das Alternativas. Em defesa da liberdade, da igualdade, da democracia e do futuro de Portugal e do seu papel na Europa. E apelamos a todos os que não se resignam com a destruição do nosso futuro para que contribuam, com a sua imaginação e mobilização, para a restituição da esperança ao povo português.

Os membros do núcleo dinamizador da convocatória: Daniel Oliveira, Domingos Lopes, Henrique Sousa, João Semedo, Jorge Leite, José Castro Caldas, José Manuel Pureza, José Reis, Manuel Carvalho da Silva, Vasco Lourenço.

"Rio+20: Relatório denuncia fracasso do modelo europeu de comércio de emissões"


"Verde é a cor do dinheiro: o fracasso do sistema europeu de comércio de emissões enquanto modelo para a economia verde" é o título do relatório apresentado pela Carbon Trade Watch na Conferência da ONU Rio+20. Partindo do exemplo europeu, verifica-se que o modelo serve para subsidiar os poluidores mas não para reduzir as emissões de gases de efeito de estufa.

Fonte: aqui


Artigo original

"Asturias: ¡Vivan los Mineros!"


Hoy lunes 18 de junio amaneció nublado en Asturias y esto es normal en la región verde de España. A medida que uno se aleja de la costa va cruzando prados de un intenso verde, montes que desaparecen entre la niebla, y el “orbayu”, una suave llovizna tan tenue como un manto de seda húmeda se apropia de todo lo que toca, cubriéndolo con la pátina de agua fina que es como el ajuar eterno de Asturias.

No hay que alejarse de la costa más de unos 30 kilómetros para llegar a la región minera, “a la cuenca”, a ciudades de edificios apretados como Mieres y Langreo que, como todos los villorrios y aldeas, hoy se han paralizado en una huelga general de solidaridad con los mineros del carbón.

Estamos en el año 2012, el año de lo peor de la peor crisis provocada por los especuladores y los banqueros, por ese miserable 1 % de la humanidad que se ha apropiado del 99 % de la riqueza planetaria. Es el año de la desesperanza y del encerrarse en sí mismo pensando en cómo salvarse, aún a costa de los demás, es el año del egoísmo y de la deshumanización general. Pero en las cuencas mineras han desempolvado la vieja bandera de la solidaridad de clase. Sí, de la Solidaridad de Clase, porque las diferencias de clases hoy son más fuertes que nunca, aunque algunos sostengan que esto es historia, y que la historia ha muerto.

La historia sigue viva en las cuencas mineras y el seguimiento de la huelga ha sido del 100% no sólo en Asturias, sino en todas las regiones de España que tienen minas de carbón. Las explotaciones de carbón, hulla y antracita, las minas y el trabajo de los hombres que bajan a la oscura profundidad de la tierra siempre fueron moneda de cambio para los gobernantes de España. Ya en 1962, cuando la España franquista era aceptada en la Comunidad Económica Europea, antecesora de la actual Unión Europea, el dictador confiaba a su primo y secretario militar Francisco Franco Salgado-Araujo, que las minas de carbón españolas tenían los días contados porque Europa quería favorecer las explotaciones en la cuenca del Ruhr, en Alemania, y en Polonia, cuyos yacimientos, pese a la guerra fría, aseguraban un suministro más barato. La respuesta de los mineros fue la primera gran huelga tras la derrota de La República y establecimiento del régimen fascista nacional-católico. El año 62 los mineros vencieron, conservaron sus puestos de trabajo, aunque las represalias fueron brutales.

Cincuenta años más tarde, las viejas banderas de la Solidaridad de Clase se agitan una vez más bajo el cielo gris de Asturias, esta vez en defensa del más inalienable de los derechos: El Derecho al Trabajo. A un trabajo que es como una maldición, o algo muy difícil de explicar, porque la mina se mete en la venas de los hombres oscuros del carbón, y se es minero, hijo de minero, nietos de minero, de una actividad que ha sido declarada “no rentable” desde alguna cómoda e impoluta oficina de Londres o Bruselas. A la mina, al pozo, se llega muy temprano, los mineros se cambian entre bromas, de unas cadenas bajan sus ropas de trabajo, el mono ennegrecido, el casco con la lámpara, los guantes de seguridad, las baterías para las lámparas, los botines de punta reforzada, y luego las cadenas suben portando las ropas que volverán a vestir cuando salgan del pozo. Y a veces una sirena aúlla la tragedia y alguna cadena no vuelve a bajar. Esto, ciertamente “no es rentable”.

Una vez equipados caminan hacia la entrada del pozo, ya no bromean pues la boca de la mina impone respeto y temor hasta a los más veteranos. Un ascensor metálico, “la jaula”, los baja hacia la oscuridad densa de la galería principal, y ahí se acomodan en un minúsculo tren que los conduce a otras galerías menores. La oscuridad de la mina es densa y pegajosa, como el aire impregnado de humedad, y por sobre las voces de los mineros y el entrechocar de sus herramientas se impone el crujido del monte, la queja de la intimidad de la tierra y su constante amenaza de venirse abajo. Esto, ciertamente, "no es rentable".

Por las galerías menores avanzan los mineros, sus lámparas perforan la espesa oscuridad y chocan con los muros de roca impregnados de agua. El aire se torna cada vez más denso, y así, llegan hasta los filones hasta los que acceden de pie, primero, luego doblados, más tarde reptando, y entones se escupen las manos y empiezan con su trabajo de arrancar el carbón, la hulla y la antracita a las entrañas de la Tierra. Los picadores ven desaparecer sus músculos bajo una capa de polvo, las brocas han abierto los orificios en los que se meten las cargas de explosivos. A una señal del dinamitero todos los hombres retroceden hasta los sitios de refugio, ahí se encojen pegados unos a otros, protegiéndose los oídos, hasta que la detonación estremece el aire y una nube de polvo negro los envuelve. Esto, ciertamente, “ no es rentable”

Cuando, al final de la jornada salen de la jaula que los ha subido hasta la superficie terrestre, los mineros van al bar y piden que les escancien una sidra, y el bar vive de los mineros, otros van a la farmacia y la farmacia vive de los mineros, otros compran un vestido para su hija o un libro, y todos los negocios de las cuencas mineras viven de los mineros. El trabajo de cada uno de esos hombres oscuros permite y posibilita la existencia de muchos otros puestos de trabajo. Todo lo que hace en las ciudades, aldeas y villorios de las cuencas mineras depende de las minas, y considerar esta realidad, ciertamente, “ no es rentable”.

En 1985 llegó al poder el PSOE y las minas de carbón daban empleo a casi 53 mil mineros. Un ministro socialista, Solchaga, explicó con breves palabras en que consistirían los grandes cambos que se implantarían: “España es un país para hacer dinero”. Y así fue, en efecto. En el caso de la minería la posibilidad de hacer dinero, de lucro, empezó a darse obedeciendo las instrucciones de los mandamases de Europa, y España empezó a importar carbón. Nunca se ha explicado a cabalidad porqué el carbón que llega de Polonia, o de la mina a tajo abierta más grande del mundo, Cerrajón, en la Guajira colombiana, es mejor y menos contaminante que el carbón asturiano. Y si lo es, nunca se destinaron los fondos suficientes para investigar como hacer más efectivo y menos contaminante un sector de materia energética fundamental.

Siguiendo las instrucciones de los mercados energéticos, tanto el Partido Popular como el PSOE se caracterizaron por el tratamiento demagógico del tema minero. Si el carbón estaba definitivamente condenado se debería haber impulsado efectivas políticas de reconversión industrial que asegurasen trabajos dignos y cualificados a los que abandonarían las minas. Estas políticas no existieron, en cambio se decidieron por pre jubilaciones aparentemente muy generosas, pero sin considerar que la actividad minera es una cultura, se hereda, aunque suene contradictorio los hijos de los mineros y los nietos de los mineros siempre se consideraron seguidores del trabajo de los mayores. La mina se mete en el cuerpo, se adueña del alma, y esta consideración que no se hizo, obvió que de esas prejubilaciones vivirían los hijos y los nietos de los mineros, porque no se sale de la mina para ocupar el lugar del frutero, del panadero, del dependiente de la farmacia o del camarero que escancia la sidra.

A falta de una solución coherente los mineros se aferraron a sus puestos de trabajo y la actividad empezó a ser subvencionada por la Unión Europea. Hoy, en 2012, la masa laboral minera se ha reducido a poco menos de ocho mil mineros distribuidos en cuarenta y siete explotaciones. Y la explotación cayó de 20 millones de toneladas a poco más de 8,5 millones de toneladas. La política energética europea decidió terminar con las subvenciones públicas al sector minero a fines de 2014, pero la presión ejercida por los mineros logró que se mantuviera hasta el 31 de diciembre de 2018. Según los cálculos de los empresarios y los mineros, estos años bastarían para que en Europa se empezara a pensar si era lógico haber reducido la producción global europea de carbón a 130 millones de toneladas, y al mismo tiempo importar anualmente más de 160 millones de toneladas, sólo que a “precios competitivos”, es decir carbón producido con costos laborales inaceptables por cualquier trabajador de Europa o los Estados Unidos.

Los mineros sostienen y con razón que el carbón es una reserva estratégica, de suministro autóctono, lo que garantiza el suministro y, lo más importante, asegura algo muy combatido por el mercado: una reserva estratégica nacional.

Y a todas estas consideraciones debe agregarse que los mineros están defendiendo la existencia de las ciudades y aldeas de las cuencas mineras. El pequeño y mediano comercio, los servicios, todo lo que constituye la vida, el día a día de un asentamiento humano. Y esto, ciertamente, “no es rentable”.

El gobierno de España encabezado por Mariano Rajoy, obsesionado por una reducción del déficit imposible de cumplir ha impuesto una serie de recortes sociales, de sanidad, educación, reducciones salariales, reformas laborales que abaratan el despido, pero con una gran generosidad hacia los especuladores y los bancos. El ex ministro Solchaga no se equivocaba; España es un país para hacer dinero, y los especuladores lo han hecho, han ganado como jamás habían ganado. Baste señalar que los bancos españoles más fuertes, integrantes del conglomerado anónimo llamado “Mercado”, y que ha usurpado funciones estatales y a desprestigiado la política, solicitaba dinero al Banco Central Europeo al 1% de interés y con ese dinero, en lugar de abrir líneas de crédito para la pequeña industria y el artesanado, compraba deuda pública española al 5, 6 y 7 % anual de interés.

Siguiendo con esa línea de recortes a todo lo que beneficia a a los trabajadores, y al mismo tiempo que España aceptaba un rescate de sus bancos por 100 mil millones de euros, recortaba un 63% de los fondos destinados a preservar la actividad minera hasta el 31 de diciembre de 2018. Esto quiere decir cerrar las minas, matar una actividad, una cultura del trabajo, y condenar a las ciudades y aldeas de las cuencas mineras el éxodo de sus habitantes.

Nunca una huelga minera fue tan justa y necesaria. Hoy se cumplirá el día 22 de huelga. Hay varios mineros encerrados en la profundidad de los pozos. Hoy Asturias, lo mejor de Asturias resiste una vez más. Hoy la palabra Huelga adquiere un significado nuevo, renovado, y el éxito demostrado con un seguimiento del 100%, con todas las actividades de las cuencas mineras paralizadas demuestra que la Solidaridad de Clase sigue viva y con sus banderas en alto.

Nací en Chile, pero vivo en Asturias. Esos mineros son mis paisanos, son los míos y estoy orgulloso de su lucha y voluntad de combate. Están dando una lección de dignidad.

¡Vivan los Mineros! ¡¡¡ Puxa Asturies ¡!!

Gijón, 18 de junio de 2012


Luis Sepùlveda

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segunda-feira, 25 de junho de 2012

Corto Maltese - "The Celtics" - 2

"O Golpe de Estado no Paraguai e a América do Sul "


O golpe desferido contra o governo de Fernando Lugo é um importante sinal de alerta para as democracias e governos populares do Cone Sul.
Quais as razões para a sua imposição há nove meses do término do mandato popular do Presidente eleito, em plena realização da Rio + 20, momento de forte liderança internacional brasileira, ignorando solenemente o apelo e a presença dos chanceleres da Unasul e Mercosul em território paraguaio, bloco este com quem o Paraguai possuía, em 2007, 45% do seu comércio exterior, sujeitando-se ainda à punição pela violação de suas cláusulas democráticas, que vão da expulsão do Mercosul ao fechamento de fronteiras e interrupção do fornecimento de energia, se tomarmos em consideração o Protocolo de Ushuaia II, ratificado pelos poderes executivos de todos os seus Estados?

O governo do Presidente Lugo se elegeu com precária base parlamentar, em razão da tardia adesão dos movimentos sociais ao processo eleitoral, apoiando-se numa coalização anti-partido Colorado – partido este que governou o Paraguai de 1947-2008 – onde destacou a presença do conservador Partido Liberal. Durante sua gestão, incapaz de obter maioria parlamentar, Lugo não pode avançar em promessas chaves de campanha que confrontavam a oligarquia paraguaia, como a realização de uma reforma agrária. Formulou para isto um plano modesto que se estenderia até 2023 - baseado na eventual disponibilidade de créditos multilaterais e dotações orçamentárias governamentais -, muito insuficiente para enfrentar a forte concentração da propriedade da terra e sua conexão com a grilagem. Segundo Idilio Mendez Grimaldi, 85% das terras paraguaias estão nas mãos de 2% da população, a tributação corresponde a apenas 13% do PIB e a contribuição da propriedade imobiliária é de 0,04% contra rendas do agronegócio equivalentes a 30% do produto do país. A incipiente implementação da reforma agrária foi ainda parcialmente boicotada pela corrupção no INDERT, órgão encarregado de realizá-la.

Lugo ampliou recursos com a revisão do tratado de Itaipú e no contexto do limitado orçamento, propiciou conquistas para a população paraguaia como a garantia de saúde publica gratuita e o estabelecimento do Tekoporá, programa de renda mínima que alcançou aproximadamente 93 mil famílias, gerando tensões com o congresso que quis lhe cortar os recursos e respostas na mobilização popular para aprova-los. O governo estabeleceu certa confrontação com a Monsanto no que tange a liberação de sementes transgênicas, não autorizando o plantio de variações transgênicas de sementes algodão, ainda que a plantação de soja transgênica, principal cultivo de grãos do país, tenha permanecido amplamente liberada.

No que tange a relação com os Estados Unidos, ganhou destaque a questão militar. Em setembro de 2009, Lugo não renovou o programa de cooperação estabelecido na presidência de Nicanor Duarte que permitiria o ingresso em solo paraguaio de 500 militares estadunidenses com imunidades diplomáticas para treinamento operacional. Questionado sobre o episódio, o então comandante das forças armadas Cíbar Benitez o minimizou e relatou haver programas de cooperação militar permanentes com os Estados Unidos no Paraguai para assuntos internos, como colaboração com atividades policiais.

Cerca de um mês após esta recusa, Lugo trocou todo o comando militar do Estado, em função de tentativa de golpe que havia sido detectada. O governo foi ainda assediado pela reunião de 21 generais estadunidenses com a Comissão de Defesa da Câmara, em meados de agosto de 2011, para a construção de uma base militar, que foi reivindicada pelo líder da UNACE, dissidência do Partido Colorado e terceira força parlamentar, como necessária para conter as ameaças representadas pela Bolívia e Venezuela bolivarianas. Se rechaçou esta alternativa, por outro lado, Lugo havia aceitado programas como a Iniciativa Zona Norte ¬- que permitia a ampla presença militar estadunidense em programas para combater o crime organizado e de ajuda social sob controle da USAID - e substituiu o Ministro da Defesa Luis Bareiro Spaini, que se opôs ao programa, a pedido da Embaixadora dos Estados Unidos, Liliana Ayalde.

Este pequeno histórico do processo paraguaio demonstra a limitação da presença do governo Lugo no aparato de Estado paraguaio, sua forte penetração pelo grande capital local e pelos interesses norte-americanos.

Por que então o golpe de Estado quando praticamente se encerra a experiência de um tímido governo popular, arriscando as relações do país com seus vizinhos regionais de quem depende tanto comercialmente e no plano energético?

Duas hipóteses complementares despontam com força:

a) O golpe tem a função de criar o ambiente de terror para impedir que as organizações populares e a Frente Guazu possam eleger um novo presidente com forte base parlamentar capaz de respaldar mobilizações populares e programas muito mais amplos. Para isso é fundamental destruir a TV Pública - oásis de informação num ambiente midiático dirigido pelos grandes proprietários donos de jornais e cadeias televisas – fraudar ou adiar as novas eleições;

b) O golpe tem ainda o papel de modificar o tabuleiro geopolítico da região criando no Paraguai - em razão de sua localização territorial estratégica, disponibilidade de reservatórios de agua doce e de fontes energéticas que afetam principalmente ao Brasil, Argentina, ou proximidade das reservas de gás da Bolívia - uma fonte de contenção e desestabilização dos governos de esquerda e centro-esquerda da região. Tal projeto se articula fortemente com o imperialismo estadunidense e se consolida com a instalação de bases militares no país. Só este vínculo, combinado com o desespero da direita paraguaia poderia dar-lhe a força suficiente para confrontar vizinhos regionais muito mais poderosos.

O golpe de Estado se estabelece no elo mais fraco da cadeia de governos progressistas da região e sinaliza que as velhas estruturas da dependência, que combinam as oligarquias locais com o imperialismo, estão vivas. Elas querem condenar nossos povos ao subdesenvolvimento, à pobreza e à extrema desigualdade de renda e riqueza, lançando-se contra qualquer processo democrático que não seja simulacro ou teatro de fantoches e proporcione avanços reais aos trabalhadores e às grandes maiorias. Será tarefa das lideranças políticas e do pensamento social ultrapassar estas barreiras na década que se inicia.


Carlos Eduardo Martins - Prof. Adjunto e Chefe do Departamento de Ciência Política UFRJ, Doutor em Sociologia (USP), Autor de globalização, dependência e neoliberalismo na América Latina (Boitempo 2011)

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Associação dos Inquilinos Lisbonenses - Nota à Comunicação Social


AIL RECEBIDA EM AUDIÊNCIA POR SUA EXCELÊNCA, O SR. PRESIDENTE DA REPÚBLICA

A AIL, por sua solicitação, foi hoje recebida em audiência por Sua Excelência, o Sr. Presidente da República, Prof. Doutor Cavaco Silva.

A AIL apresentou as suas preocupações e apreensões sobre os regimes jurídicos aprovados pela Assembleia da República em 1 de Junho relacionados com a Reabilitação Urbana, o Arrendamento Urbano e Obras em Casas Arrendadas.

A AIL destacou a violação da liberdade contratual ao impor um novo regime de arrendamento aos contratos celebrados antes de Novembro de 1990, o que considera inaceitável e inconstitucional.

Destacou a ausência de garantias de realojamento dos inquilinos despejados para realização de obras profundas ou demolição dos prédios.

Destacou ainda a sua completa discordância quanto à criação do BNA - Banco Nacional dos Despejos, em substituição dos Tribunais, porque viola e reduz os direitos e encarece o recurso à justiça, reafirmando que o incumprimento contratual deve continuar a ser resolvido em Tribunal, mesmo que constituído para o efeito.

Mais destacou que a Lei aprovada viola o direito à habitação, constitucionalmente garantido, na perspectiva de que os aumentos de rendas serão incomportáveis e incompatíveis com os rendimentos das famílias, das actividades económicas e sociais.

O Senhor Presidente da República mostrou-se sensível às preocupações e apreensões apresentadas.

A AIL espera que o Senhor Presidente da República intervenha no sentido de sensibilizar o Governo e a Assembleia da República para alterar os aspectos mais negativos e inconstitucionais que as leis apresentam.

A Direcção

Romão Lavadinho
Presidente

"A banca alemã é a grande beneficiária do resgate espanhol"


Uma das causas da atual crise de Espanha é a explosão da bolha imobiliária. O casamento entre o capital financeiro (banca, caixas de aforro, companhias de seguros e outras instituições financeiras) e o setor imobiliário criou essa bolha. Nos últimos dez anos construíram-se mais habitações no nosso país que em França, Grã-Bretanha e Alemanha em conjunto. E apesar desta enorme construção que significou quase 9% do PIB espanhol, os preços dispararam 150%, subindo muito mais rapidamente que os salários, e isso em resultado de uma abusiva especulação. Não há dúvida que a banca, as caixas, o Banco de Espanha e as autoridades públicas, tanto espanholas como europeias, estavam conscientes disto. Bastava ver um gráfico no qual se comparasse a evolução dos preços das casas e dos salários (a grande maioria dos compradores de casas dependem dos rendimentos do trabalho), para ver que os primeiros cresciam muito mais rapidamente que os segundos. A distância entre os dois preços era preenchida pelo crédito. Daí o enorme endividamento das famílias.

Tudo isto era previsível. Podia ver-se e poderia ter sido evitado. Mas, nem o Banco de Espanha (apesar do aviso dos técnicos dessa instituição), nem o Estado espanhol tomaram qualquer medida. A chanceler Angela Merkel tem razão, quando indicou recentemente que as autoridades espanholas atuaram de maneira irresponsável nos últimos dez anos ao não terem prevenido a bolha imobiliária, baseada na mera especulação, e a sua explosão.

No entanto, Merkel esqueceu-se de um detalhe chave, esquecimento que lhe permitiu não incluir o governo e a banca alemães nesta crítica do que se passou em Espanha. Grande parte do dinheiro que alimentava a bolha imobiliária provinha da banca alemã. Na realidade, a explosão da bolha imobiliária ocorreu quando a banca alemã interrompeu o crédito à banca e às caixas de aforro espanholas, em consequência da banca alemã ter paralisado todo o fluxo de crédito, atemorizada pela sua contaminação com produtos financeiros tóxicos procedentes da banca norte-americana. E foi aí que o crédito foi interrompido e a bolha imobiliária espanhola explodiu criando uma enorme queda da atividade económica e das receitas do Estado (tanto central, como autonómico) que criou o défice público do Estado. Este défice não foi criado pelo crescimento das despesas públicas, mas sim pela descida das receitas do Estado. Na realidade, quando se iniciou a crise, no ano de 2007, o Estado espanhol tinha superavit. O défice público em Espanha não é a causa da crise, como Rajoy tem dito, mas pelo contrário o défice público é a consequência do escasso crescimento económico e das escassas receitas do Estado.

Todas as medidas de austeridade, cortes incluídos (que representam o ataque mais frontal ao escassamente financiado Estado Social em Espanha), destinam-se a pagar a dívida dos bancos alemães e de outros países (França, Grã-Bretanha e Bélgica), que tinham alcançado grandes lucros durante a bolha imobiliária, enormes lucros que continuam a ter. Na realidade, a crise bancária dos países periféricos (Espanha, Grécia, Portugal e Irlanda) está a correr muito bem para a banca alemã, pois há um fluxo de capitais (isto é, dinheiro) destes países, que fogem da crise para o centro e muito em particular para a Alemanha. E os dados falam por si. Segundo Josef Ackermann, presidente do Deutsche Bank, os lucros deste banco alcançaram a impressionante quantidade de 8.000 milhões de euros no ano 2011 (com 8 milhões de euros em bonificações a este senhor). Na realidade, enquanto o desemprego alcançava números mais que alarmantes em Espanha (e noutros países periféricos), cerca de 50% da juventude está desempregada e a saúde e a educação sofrem cortes brutais (e não há outra forma de o dizer), os lucros do Deutsche Bank subiram cerca de 67% em três anos (2009-2011), tal como assinala Conn Hallinan na revista CounterPunch (15 de junho de 2012) (“Greed and the Pain in Spain”).

Todos os dados mostram claramente que a banca alemã beneficiou fortemente da bolha imobiliária espanhola (e também da irlandesa), assim como da crise financeira dos países periféricos. Os enormes sacrifícios das classes populares são impostos a Espanha e aos outros países periféricos para que se possa pagar à banca alemã (e de outros países). E o famoso resgate financeiro de 100.000 milhões de euros tem como objetivo salvar a banca espanhola, não para garantir crédito, que não está garantido nem se espera que esteja, mas sim para que possa pagar as suas dívidas, também à banca alemã. E o instrumento que a banca alemã utiliza para impor as suas políticas é o Banco Central Europeu, que como indiquei em várias ocasiões (ver secção Política Económica no meu blogue vnavarro.org), não é um Banco Central, mas sim um lóbi da banca alemã e do Banco Central alemão, o Bundesbank.

O resgate financeiro é a última de muitas outras intervenções que os economistas da Comissão Europeia, ao serviço do sistema financeiro europeu liderado pela banca alemã, estão a impor a Espanha. Como bem disse o Ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble (contrariando Rajoy), o resgate financeiro implicará uma supervisão direta por parte do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e do Fundo Monetário Internacional, das reformas financeiras, assim como das políticas fiscais e macroeconómicas espanholas, convertendo assim Espanha numa colónia alemã. E tudo isso com a colaboração do governo conservador “super patriota” espanhol.

E porque é que este governo colabora com estas políticas que significam uma clara perda de soberania? A resposta é clara. Porque utiliza este mandato externo (argumentando que não há alternativas) para conseguir o que a direita sempre desejou em Espanha, isto é, debilitar o mundo do trabalho e privatizar o Estado de Bem Estar. Este governo coincide com o objetivo do resgate que foi muito bem definido pelas declarações do presidente do Banco Central alemão, Jens Weidmann, que em declarações ao “El Pais” não pôde ser mais claro quando indicou que as reformas deveriam acentuar mais as reformas laborais (o que quer dizer baixar os salários) e a privatização de serviços (o que quer dizer o desmantelamento do Estado de Bem Estar). Pois claro.


Vicenç Navarro

Via Esquerda.Net

domingo, 24 de junho de 2012

Clássicos do cinema - "Liliom"



Realização de Fritz Lang

Corto Maltese - "The Celtics" - 1

São João

"A questão da especulação financeira" - um artigo de Fernando Belo


Fernando Belo é Professor jubilado de Filosofia da Linguagem da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Este artigo foi publicado no Expresso de ontem.

1.
Para se entender o que se chama ‘especulação financeira’, termo mais correto do que designar as bolsas por ‘mercados’, será necessário fazer o contraponto entre as duas principais correntes de teoria económica do século XX, entre Keynes e Friedman. Não é necessário ser economista para se saber que a economia política que o primeiro propôs teve efeitos muito benéficos nos trinta anos que se seguiram à última grande guerra, efeitos de construção social e económica que evitaram a oposição entre estas duas dimensões da habitação humana. O objetivo ‘política’ que se opõe à sua teoria económica ao serviço do social, isto é, da habitação dos humanos, consistiu em fomentar a solidariedade com o crescimento económico e a respetiva liberdade de salários crescentes também: tratou-se da coisa democrática em termos de economia, esta correlativa no campo jurídico com a afirmação de contratos de trabalho dignos, que respondiam à grande tradição liberal clássica que contestara a conceção aristocrática e hierárquica de sociedade colocando o eixo social no contrato entre duas vontades livres e responsáveis, numa sociedade de contratos entre cidadãos. Foi a isto que na Europa do século XX se chamou social-democracia, em que a economia é apenas ciência dos mercados e não de toda a sociedade, é apenas ciência do que se joga entre instituições que vendem e compram, entre elas e famílias, mas não é ciência da educação, nem da saúde, nem da segurança pública, nem da justiça ou da administração do Estado como regulador social imprescindível. Ciência dos mercados é aquela que sabe da redução que a moeda, operadora de trocas, efetua de tudo o que não é mercado e que por isso tem de ter necessariamente em conta as outras dimensões sociais que lhe escapam. É, aliás, este o ponto de vista de quem governa no lugar do Estado ou dos municípios: nessa época keynesiana dos chamados trinta gloriosos anos, ainda estas instituições eminentemente políticas tinham poder de intervenção junto das grandes empresas que se estavam alçando à globalização neocolonial.


Na íntegra aqui

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Assim vai a Europa! - Eleições em França e Grécia

Ontem houve eleições legislativas na França e na Grécia. Resultados diferentes para situações diferentes.

Tal como tudo indicava, o Partido Socialista francês teve a maioria absoluta.

Resultados aqui.

A diversidade é uma das novidades: oito deputados de origem africana, magrebina, asiática ou brasileira foram eleitos. Todos do Partido Socialista.

O que será o governo ainda é uma incógnita, de acordo com o Le Monde.

Marie Le Pen não foi eleita.

Na Grécia ganhou o partido do centro direita, a Nova Democracia. Mas o Syriza passou a ser o llíder da oposição. De 4,5 para 25%. No mínimo notável! É também uma resposta. Os gregos não querem ser colonizados por troikas. Algum receio, mas uma manifestação clara de que a tutela da senhora Merkel não é acarinhada.

O futuro é uma incógnita, mas nada será como dantes. Parabéns ao Syriza.

Prémios Pulitzer de Fotogafia - 1978

Foto de Thomas J. Kelly III

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Ai Lisboa, Lisboa! - "Mega picnic"


Mais uma vez a Câmara Municipal de Lisboa coorganiza um mega picnic do Continente. Primeiro foi no parque da Bela Vista, o ano passado na Av. da Liberdade, este ano vamos ver uma das mais belas praças do mundo transformada numa horta e num curral.

O mínimo que se pode dizer é que é muito triste. A CML apadrinha a SONAE.

De acordo com o vereador do pelouro do Espaço Público, o objetivo é a promoção dos artigos nacionais. Ora, toda a gente sabe que o Continente não tem o mínimo respeito pelos produtos nacionais. A marca branca, na sua maioria, vive de produtos estrangeiros e os produtores nacionais estão sujeitos aos preços que lhes pagam para conseguir escoar os produtos. Todos sabemos que o retalho de produtos alimentares está nas mãos de duas empresas que determinam os preços. E quem não quiser, "coma menos". Parece, ainda, que a contrapartida é de 40.000 euros. Diz o mesmo vereador que esse dinheiro vai servir para a recuperação da estátua de D. José e ainda serão distribuídas 5 toneladas de alimentos a ISSs.

Pessoalmente, prefiro que a estátua fique mais 1 ou 2 anos como está e que a Isabel Jonet faça mais 2 campanhas por ano.

Dia Mundial do Dador de sangue

Durante muitos, muitos anos fui dadora de sangue. Mais tarde de plaquetas. Ao princípio, todos os seis meses retiravam-me 1 litro ou 1 litro e meio de sangue. Mais tarde, todos os seis meses ia ao IPO e estava cerca de 3 horas numa cama para dar plaquetas.

Acreditem que é uma sensação invulgar. Pensar que alguém pode ser salvo por este simples gesto é uma satisfação imensa.

Infelizmente, por motivos de saúde, deixei de o poder fazer. Com muita pena! Dar sangue é uma opção. Aqueles que, por motivos vários (religiosos, princípio, medo, etc.) o não fazem merecem todo o meu respeito. Mas quem, nos últimos tempos, tem posto em causa esta dádiva porque deixou de ter insenção das taxas moderadoras não merece o mesmo respeito. Não que esteja de acordo com essa medida. Ela insere-se num vasto conjunto de ataques aos direitos dos cidadãos em todas as áreas: da educação à saúde, passando pela habitação e, até, ao salário. Mas, nste caso, não há dinheiro que justifique a negação do que deve ser um ato de solidariedade.

Hoje é o Dia Mundial do Dador de Sangue - Deem SANGUE!

Che Guevara - 84 anos

Se fosse vivo, Che Guevara faria hoje 84 anos.

A minha relação com o Che é uma relação de amor/ódio. Amo o idealista, o revolucionário, o exemplo de sacrifício, o ícone. Odeio o ministro cubano, que mandou matar milhares de pessoas, o intolerante.

Podem dizer que qualquer revolução tem vítimas. Estou completamente de acordo. Mas, uma coisa é o combate, outra o abuso do poder ou a violência gratuita.

Vou viver com o Che sempre assim. Devorei todas as biografias, vi todos os filmes de ficção, documentários, etc. E irei continuar a fazê-lo.

Amo o Che! Odeio o Che!

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Ai Lisboa, Lisboa! - "INAUGURAÇÃO DE OBRAS ILEGAIS NO JARDIM BOTÂNICO DE LISBOA"


CARTA ABERTA AO MAGNÍFICO REITOR DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

INAUGURAÇÃO DE OBRAS ILEGAIS NO JARDIM BOTÂNICO DE LISBOA


1 - Após décadas sem investir no restauro, requalificação e gestão do Jardim Botânico, a Universidade de Lisboa decidiu agora intervir de modo superficial neste Monumento Nacional, ignorando a legislação do Património Cultural (Lei nº 107/2001 de 8 de Setembro e Decreto Lei nº 140/2009 de 15 de Junho) e os padrões internacionais de conservação. Avançou com obras medíocres, inadequadas e ilegais no Jardim Botânico, nomeadamente nos lagos, gradeamentos, pontes, caminhos, pinturas dos bancos, sem o parecer obrigatório e vinculativo da tutela do Património. Agiu contra os procedimentos instituídos na Lei do Património Português e das Cartas Internacionais para o restauro, protecção e valorização do património de que Portugal é país signatário.

Acresce a instalação de estruturas metálicas perfurantes em toda a fachada do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, para colocação de telões, danificando-a irremediavelmente e contrariando o despacho de Não Aprovação da DRCLVT/IGESPAR.

2 - A Universidade de Lisboa planeou, implementou e executou trabalhos no Jardim Botânico como se isso fosse um assunto que apenas lhe dissesse respeito, parecendo esquecer-se que o sítio está classificado como de Interesse Nacional (Decreto nº 18/2010, DR nº 250, Série I de 2010-12-28).

3 - O Jardim Botânico não é um simples parque urbano ou espaço verde comum – é um lugar de conhecimento e cultura científica, reconhecido e protegido pela Lei do Património Cultural da República Portuguesa como sítio com valor histórico, artístico e científico do mais alto grau. A Lei do Património é clara quanto à natureza e metodologia a seguir em qualquer intervenção num Monumento Nacional.

4 - A Universidade de Lisboa, enquanto reconhecida e respeitada instituição de ensino superior – e especialmente tendo à sua guarda o Jardim Botânico – devia ser exemplar em todas as suas acções. Mas estas obras vão contra os princípios de boa conduta, boas práticas e interesse público. Vão contra uma sociedade que se deve organizar com base no conhecimento.

5 - Esta infeliz intervenção no Jardim Botânico, afigura-se irresponsável pelo mau exemplo que projecta para a sociedade – porque, por um lado, perpetua a ignorância que ainda persiste nas intervenções em imóveis do património e, por outro, porque vem forçosamente perturbar e comprometer a integridade e autenticidade de um bem cultural.

Será que houve um projecto formal e/ou relatório preliminar? Quem são os autores que assinam esta intervenção? Como foi selecionado o empreiteiro para executar obras num Monumento Nacional? Houve diálogo, partilha de informação e colaboração construtiva entre todas as partes interessadas, como mandam as boas práticas de conservação e gestão do património? Porque não foi submetido à entidade da tutela (DRCLVT/IGESPAR) projecto para parecer obrigatório e vinculativo conforme a Lei?

6- A presença do Jardim Botânico no Observatório – WATCH 2012 – da organização internacional World Monuments Fund (WMF) é um reconhecimento da comunidade internacional dos perigos que ameaçam a sua conservação e sobrevivência. Esta última série de intervenções de “fachada”, totalmente ineficazes na resolução dos reais problemas que afectam o Jardim Botânico, com padrão de qualidade insuficiente, apenas vem reforçar a urgência em se planear um projecto sério e rigoroso, de restauro e gestão do Jardim Botânico de Lisboa com a elaboração de um Plano de Pormenor de Salvaguarda como obriga a Lei do Património.

7- A Liga dos Amigos do Jardim Botânico de Lisboa está inteiramente disponível para todo e qualquer esclarecimento e colaboração cívica que contribua para a salvaguarda do Jardim Botânico de Lisboa. Enquanto representantes da sociedade civil, não nos demitimos dos nossos deveres consagrados na Lei: «Todos têm o dever de defender e conservar o património cultural, impedindo, em especial, a destruição, deterioração ou perda de bens culturais.»


LIGA DOS AMIGOS DO JARDIM BOTÂNICO DE LISBOA

Fernando António - 124 anos


O coração é pequeno,
Coitado, e trabalha tanto!
De dia a ter que chorar,
De noite a fazer o pranto ...


Ai, os pratos de arroz doce
Com as linhas de canela!
Ai a mão branca que os trouxe!
Ai essa mão ser a dela!


Aquela que mora ali
E que ali está à janela
Se um dia morar aqui
Se calhar não será ela.

Santo António


Ó Santo António de Lisboa
Tu tens fama de casamenteiro
Se o casamento fosse coisa boa
Tu próprio não ficavas solteiro!

"PPP Saúde | Público-Privado: que Parcerias?"

No próximo sábado, dia 16, a IAC organiza mais um debate / sessão pública em Lisboa, dedicado às parcerias público-privadas, com alguns especialistas e participantes nas PPP

"Twenty Names" - por Michael Moore

It was the voice of Mr. Ryan, the assistant principal for discipline at my high school, and he was right on my back. Not figuratively. He was literally on it.
...

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Assim vai a Europa! - Eleições em França


Resultados da 1ª volta. Para a semana há mais!

Livro recomendado - "Ribamar"


De José Castello

O Euro 2012 na Ucrânia


A matança de animais na Ucrânia tem gerado mundialmente um coro de protestos a que me associo.

Foi em Novembro de 2011 que sairam as primeiras notícias sobre o abate de mais de 60 mil cães e gatos de rua na Ucrânia, uma 'limpeza' feita em nome do Campeonato Europeu de Futebol, que a Ucrânia organiza juntamente com Polónia.

Os protestos não se fizeram esperar e reacenderam-se com o ínicio da competição no passado sábado. Ucrânia, Rússia e na Itália foram alguns dos países a organizar manifestações contra o governo da Ucrânia.


Não posso, contudo, deixar de denunciar também o que se passa com as pessoas. Se a defesa dos direitos dos animais tem toda a razão de ser face ao massacre de milhares de cães e gatos, a defesa dos direitos humanos também deveria estar nas prioridades de todos os defensores da liberdade e da democracia. E não me refiro apenas ao vergonhoso caso de Julia Timoshenko, líder da oposição ucraniana e ex-primeira-ministra condenada a sete anos de prisão. O boicote dos países europeus, apoiado pela filha de Timoshenko é de saudar (podem ler aqui a entrevista).

A Ucrânia é governada por um bando de mafiosos que, para além do massacre dos animais, resolveram dar "cursos de formação" a centenas de mulheres para turismo sexual durante o campeonato, utilizaram trabalho quase escravo para a construção dos estádios e utilizam a tortura diariamente. O que a mim me espanta é a UEFA ter escolhido esta candidatura.

Este relatório da Amnistia Internacional, com data de 30 de abril, é bastante elucidativo do que se passa no país.

"SOBRE A "PACIÊNCIA" DO BOM POVO PORTUGUÊS"


Eu já vejo com muitas reservas esta obsessão dos dias de hoje de atribuir estados de alma a toda a gente para explicar tudo e mais alguma coisa, e por isso sou avesso, por maioria de razão, a embarcar na ideia que o mesmo se possa fazer aos povos. Isso a propósito da "paciência" do povo português celebrada pelo primeiro-ministro como virtude ímpar numa Europa turbulenta.

Claro que se podem dizer muitas coisas sobre o "povo português": que está "zangado" com a crise, que está "furioso" com os políticos, que está "deprimido" com o empobrecimento forçado, que está "descrente" da democracia, que está "prostrado" pela inacção, que tem uma infinita "paciência". Há, no entanto, várias coisas que ninguém tem coragem de dizer e o problema dos excessos de psicologia impressionista começam aqui. Ninguém tem a coragem de dizer que o povo português está "contente" com o "ajustamento", que fica "feliz" porque passou a ter, como lhe dizem os governantes, que viver com os seus parcos recursos, e não pode viver mais do crédito (um parêntesis para dizer que um dos absurdos da actual situação que parece escapar a muitos é que todo este "ajustamento" se está a fazer "para o país voltar aos mercados", ou seja, para pedir mais dinheiro emprestado...), que está "consciente" de que o futuro do seu país é risonho após o termo desta "revolução dos costumes", que "compreende" que tem que sofrer para depois renascer como a Fénix.

Em vez da psicologia e dos estados de alma, prefiro a política. É por isso que a frase da "paciência" tem um duplo significado político: é um desejo, de que os portugueses se portem bem; e é uma ideia sobre o "estado" em que estão e também sobre o que são. É uma ideia sobre os portugueses. A primeira coisa é um desejo, que todos podem ter; a segunda, é uma ilusória ideia de que existe uma qualquer virtude essencial nos portugueses que consiste em "comerem e calarem". Ora isto é uma asneira monumental sob todos os pontos de vista, seja o do puro bom senso, seja histórico, seja sociológico, seja até, admirem-se, psicológico e psiquiátrico. Masoquistas, só às vezes e é pelo prazer, não é pelo chicote.

A comparação que fez D. Januário Torgal entre Passos e Salazar levou ao paroxismo a interpretação da frase da "paciência". Ora, se entendida como sendo uma comparação entre Passos Coelho e Salazar, como pessoas e políticos, não tem nenhuma razão de ser. Passos é um político democrático, a quem de certeza são completamente alheias as ideias conservadoras e antidemocráticas de Salazar e a quem não move qualquer impulso autoritário. Pode ser indiferente, como muitas pessoas da sua geração, perante os valores da liberdade que receberam já adquiridos, e que sempre conheceram como naturais, mas isso não o faz um ditador em potência.

O problema é outro, é que muitas ideias do nosso salazarismo de background impregnam muito mais do que se pensa o discurso público vulgar, aquele que não é muito elaborado e se desenvolve por aquilo que pensam ser evidências, sobre as quais nunca pensaram. Passos Coelho não é um caso especial, mas como é primeiro-ministro fica mais exposto. É o problema, também geracional, de uma formação política muito superficial, assente pouco mais do que leituras de jornais e em discursos estandardizados sobre Portugal e os portugueses. Esses discursos repetem, sem autoconsciência, como lugares-comuns, aquilo que no salazarismo era um pensamento contra, um ataque ao liberalismo político em nome de uma organicidade substancial do "povo português", que correspondia à visão rural e paroquial das virtudes dos portugueses.
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O artigo de José Pacheco Pereira no Público de dia 9. Para ler na íntegra aqui.

domingo, 10 de junho de 2012

Um discurso à medida do 10 de junho - António Nóvoa

"Caretas"

O petróleo argentino não pertence aos espanhóis! - A propósito da nacionalização da Repsol na Argentina.

Um artigo de Hernán Casciari na revista Orsai

Ciclo de Jazz das Aldeias do Xisto - Há Jazz no Norte!


Tudo aqui

Maria Keil - (09/08/1914-10/06/2012)

Morreu a artista Maria Keil

Retrato da artista aos 92 anos

Assim vai a Europa! - Países de 1ª, países de 2ª


Afinal sempre vai haver outra Espanha: Espanha: Eurogrupo prevê ajuda financeira de 100 mil ME.

Mas esta ajuda é para um país de 1ª. De acordo com o que ouvi ontem, a grande diferença é que Portugal, Grécia e Irlanda são países de 2ª; daí que as condições, ao que tudo indica, serão bem diferentes. De tal forma que nem se chama resgate; chama-se ajuda financeira.

10 de junho

O 10 de junho começou a ser particularmente exaltado com o Estado Novo, o regime instituído em Portugal em 1933 sob a direcção de António de Oliveira Salazar. Foi a partir desta época que o dia de Camões passou a ser festejado a nível nacional.

Durante o Estado Novo, o 10 de junho continuou sendo o Dia de Camões. O regime apropriou-se de determinados heróis da república, não no sentido laico que os republicanos pretendiam, mas num sentido nacionalista e de comemoração colectiva histórica e propagandística.

Até ao 25 de Abril de 1974, o 10 de junho era conhecido como o Dia de Camões, de Portugal e da Raça, este último epíteto criado por Salazar na inauguração do Estádio Nacional do Jamor em 1944. A partir de 1963, o 10 de junho tornou-se numa homenagem às Forças Armadas Portuguesas, numa exaltação da guerra e do poder colonial.
Com uma filosofia diferente, a Terceira República converteu-o no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em 1978.
Infelizmente, continua a ser um dia de distribuição de condecorações. A maior parte, na minha opinião, muito duvidosas. Como as deste ano mais uma vez.
A Joana Lopes, felizmente, recorda-nos no seu Brumas como era. E é bom que ninguém esqueça.

sábado, 9 de junho de 2012

Intervenção de Slavoj Zizek no comício do Syriza

José Gomes Ferreira - 09/06/1900


Choro!

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
as crianças violadas
nos muros da noite
úmidos de carne lívida
onde as rosas se desgrenham
para os cabelos dos charcos.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
diante desta mulher que ri
com um sol de soluços na boca
— no exílio dos Rumos Decepados.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
este sequestro de ir buscar cadáveres
ao peso dos poços
— onde já nem sequer há lodo
para as estrelas descerem
arrependidas de céu.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
a coragem do último sorriso
para o rosto bem-amado
naquela Noite dos Muros a erguerem-se nos olhos
com as mãos ainda à procura do eterno
na carne de despir,
suada de ilusão.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
todas as humilhações das mulheres de joelhos nos tapetes da súplica
todos os vagabundos caídos ao luar onde o sol para atirar camélias
todas as prostitutas esbofeteadas pelos esqueletos de repente dos espelhos
todas as horas-da-morte nos casebres em que as aranhas tecem vestidos para o sopro do
silêncio
todas as crianças com cães batidos no crispar das bocas sujas
de miséria...

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro...

Mas não por mim, ouviram?
Eu não preciso de lágrimas!
Eu não quero lágrimas!

Levanto-me e proíbo as estrelas de fingir que choram por mim!

Deixem-me para aqui, seco,
senhor de insónias e de cardos,
neste ódio enternecido
de chorar em segredo pelos outros
à espera daquele Dia
em que o meu coração
estoire de amor à Terra
com as lágrimas públicas de pedra incendiada
a correrem-me nas faces
— num arrepio de Primavera
e de Catástrofe!

quarta-feira, 6 de junho de 2012

"The Dangers of Obedience"

Ray Bradbury - (22/08/1920-05/06/2012)

Morreu ontem, aos 91 anos, o escritor americano Ray Bradbury, autor de Farenheit 451. Nos seus mais de trinta livros, o escritor foi do horror à ficção científica - género no qual se tornou uma referência, com narrativas de teor político. Publicou também clássicos como As Crónicas Marcianas, histórias espaciais escritas nos anos 50.



"Um Sonho"

Curiosidades da língua portuguesa - "Tirar o cavalo da chuva"


Significado: desistir.

Origem: Quando o cavalo, era um meio de transporte comum, era costume amarrá-lo na frente da casa. Amarrá-lo sob a varanda ou nalgum lugar protegido do sol era indício de que o visitante pretendia demorar-se, o que se considerava uma indiscrição pouco desculpável.

Quando este esboçava o ensejo de partir, o dono da casa dizia logo: “Pode tirar o cavalo da chuva“, ou seja, pode desistir dessa pressa de partir.

Tirar o cavalo da chuva seria amarrá-lo na varanda ou nalguma outra proteção, para que o visitante se pudesse demorar.

A ampliação de sentido para desistir de alguma coisa, ou simplesmente desistir, é uma consequência do uso muito frequente da expressão.

Dia D - 6 de junho de 1944





D Day Memorial