Ideia: representação mental; representação abstrata e geral de um objeto ou relação; conceito; juízo; noção; imagem; opinião; maneira de ver; visão; visão aproximada; plano; projeto; intenção; invenção; expediente; lembrança. Dicionário de Língua Portuguesa da Texto Editora
domingo, 30 de junho de 2013
Crónica de um sequestro não anunciado - 2ª parte
Campus da Justiça, Parque das Nações, Lisboa. 10h00.
226 pessoas em fila para entrar. Os primeiros foram para uma sala no 1º andar. As condições eram de tal forma que houve uma pessoa que se sentiu mal. De acordo com as testemunhas, foi difícil convencer o tribunal a chamar a ambulância. Mas veio. Em protesto, as restantes pessoas desceram para a entrada ou ficaram nas escadas.
De tal forma que, quando chegou a minha vez, depois de tomarem nota da minha presença, já me enviaram para fora esperar.
Cá fora, familiares e amigos. Jornalistas, televisões claro. E Garcia Pereira e Vasco Marques Correia, Presidente do Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados, incansáveis a prestar declarações. (O meu obrigada aos dois). Felizmente também José Preto e outros advogados estiveram presentes.
Estes advogados conseguiram o "milagre" de não ficarmos lá o dia todo. Finalmente, todos tínhamos que dizer "Presente!" ao chamamento do nosso nome para ficarmos notificados que o julgamento será no dia 12 às 09h30. A carta segue depois.
A todos os que solidarizaram Muito Obrigada. No dia 12 é precisa mais um um pouco de solidariedade.
Grande notícia: "Doença de Alzheimer revertida pela primeira vez"
sexta-feira, 28 de junho de 2013
Crónica de um sequestro não anunciado
Ontem fiz greve!
Ontem fui à manifestação do Rossio a São Bento convocada pela CGTP.
Ontem fui sequestrada pela polícia:
Cerca das não sei bem que horas, talvez 16:30, indo a subir a Rua de São. Bento, em Lisboa, começou a passar uma manifestação, tanto quanto sei hoje, espontânea. Encontrei vários amigos e juntei-me. Chegados ao Largo do Rato, os acessos à esquerda e à direita estavam cortados pela polícia. Não houve qualquer ordem de dispersão ou qualquer aviso de que a dita manifestação não poderia continuar. Ao contrário, a polícia indicou o caminho em frente.
E o caminho foi a Rua Dom João V. Tal como anteriormente, todos os acessos à esquerda ou à direita estavam cortados pela polícia.
Passando a zona das Amoreiras, apercebi-me que o único acesso disponível seria o acesso à autoestrada. A certa altura, comecei a ouvir a palavra de ordem "a ponte é nossa". Ora, face a estas duas circunstâncias, e como não estou interessada em cortar o trânsito na ponte 25 de abril, em qualquer circunstância, resolvi abandonar a manifestação. Mas, extraordinariamente, fui impedida: o Sr.agente à minha direita impediu-me e disse: a Srª não pode sair, já para dentro! Isto é, não sou livre de sair de uma manifestação e circular.
O percurso continuou até chegar debaixo do viaduto Duarte Pacheco. À nossa espera estavam cerca de 30 polícias de choque com cães; ao nosso lado, posicionaram-se, à esquerda e à direita, não sei quantos; atrás a mesma coisa. Estava sequestrada!
Após cerca de 1 hora de espera (nem vale a pena falar da aflição de muita gente), tivemos ordem de voltar para trás. Sempre com o mesmo quadrado de agentes à nossa volta.
Antes da bomba de gasolina da Galp, enfiaram-nos para o "curral" onde estivemos até às 2 horas da manhã. Entretanto, todos foram identificados, revistados e apalpados. Não havia casa de banho e quem quisesse utilizava o WC das "hortas". Água... só com muito custo... finalmente alguns amigos conseguiram convencer um polícia a aceitar a entrada dessa perigosa substância. Advogado (a)? Foram precisos cerca de 20 minutos para que, esse direito essencial fosse compreendido pelas forças de segurança, e uma advogada pudesse lá entrar e falar com os detidos (estava em causa a assinatura de documentação de que ninguém sabia do que se tratava).
Finalmente, 30 a 40 agentes, nas piores condições de trabalho, foram obrigados a preencher 3 impressos por pessoa, em pé e sem luz (a minha homenagem a estes trabalhadores).
Conclusão: 226 pessoas tiveram que comparecer hoje no tribunal às 10h00.
O que se passou aí fica para outra crónica.
Finalmente, uma pequena opinião sobre a posição da CGTP sobre este acontecimento:
Tal como para o PCP, para a CGTP manifestações e acontecimentos de que não sejam o líder são "contrários" aos interesses dos trabalhadores. Para a CGTP, o direito de manifestação em dia de Greve Geral é só dela. Lamentável!
quinta-feira, 27 de junho de 2013
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Assim vai a Europa! - "UE : la vie privée contre l’envie de Facebook"
terça-feira, 25 de junho de 2013
Assim vai a Europa! - "La macchia umana sull'Europa"
Cartoon de Falco
Numa altura em que as condições de vida dos gregos não param de se degradar e que a gestão da crise pela troika está a ser posta em causa, as instituições europeias continuam a olhar para outro lado. Mas está na altura da Comissão prestar contas sobre esta assustadora tragédia.
Artigo original aqui.
Vale a pena lutar!
Nem sempre se ganha, mas quando não se luta, perde-se sempre.
Ministério e sindicatos de professores não chegaram a acordo mas assinaram uma ata de negociação que permite restabelecer a normalidade nas escolas, anunciou o secretário-geral da Fenprof.
segunda-feira, 24 de junho de 2013
A Publicidade do século XXI - 29 - "Dá o teu nome à Liberdade"
Dá o Teu Nome à Liberdade é o filme da mais recente campanha da Amnistia Internacional Portugal, que esta semana venceu o Act Responsible, em Cannes.
A luta no Brasil - algumas das coisas que estão em causa
Temos assistido nos últimos dias a grandiosas manifestações em dezenas de cidades no Brasil.
As manifestações começaram devido ao aumento dos transportes em São Paulo e no Rio de Janeiro e o Movimento Passe Livre mobilizou as pessoas contra esse aumento. O que é o Movimento Passe Livre?
O Movimento Passe Livre (MPL) é um movimento social autônomo, apartidário, horizontal e independente, que luta por um transporte público de verdade, gratuito para o conjunto da população e fora da iniciativa privada.
Mesmo após o recuo dos Prefeitos quanto ao aumento dos transportes, as manifestações continuaram. O protesto passou a ser mais político, pôs em causa as opções políticas e económicas do governo, indignou-se com os gastos com os eventos desportivos que vão decorrer em 2014 e 2016 no país. Apareceram reivindicações relativas ao PEC 33 e ao PEC 37. Mas o que são estes PEC?
O que está em causa com o PEC 33: decisões do Supremo Tribunal Federal submetidas ao Congresso.
E com o PEC 37? A concessão às polícias federal e civil o monopólio das investigações criminais, retirando essa atribuição do Ministério Público.
Aparece também como revoltante a PDC 234/2011. Nada mais do que a autorização para profissionais de psicologia oferecerem uma cura para a homossexualidade.
O Conselho Federal de Psicologia emitiu este Comunicado sobre o assunto.
domingo, 23 de junho de 2013
São João
Noite de S. João
Noite de S. João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.
Alberto Caeiro, in Poemas Inconjuntos
Heterónimo de Fernando Pessoa
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.
Alberto Caeiro, in Poemas Inconjuntos
Heterónimo de Fernando Pessoa
Curiosidades da língua portuguesa - "Andar com o credo na boca"
Significado: Sentir medo de correr perigo.
Origem: A expressão está ligada ao sofrimento do povo judeu e da criação da Santa Inquisição no século XVI, em Portugal, pelo rei D. João III. Quando este poderosíssimo tribunal católico iniciou a sua perseguição, muitos judeus fizeram-se passar por cristãos (e quem os censura?). Para que o disfarce fosse eficaz, decoravam a oração mais importante de então, o “Credo” (“Creio” em latim), e debitavam-na à frente dos carrascos e dos santos padres da Igreja. Foi assim que vários conseguiram escapar à fogueira…
sexta-feira, 21 de junho de 2013
E agora Dilma?
Espero que já tenho percebido que o povo não é burro.
Espero que tenha percebido que o povo já percebeu que o crescimento económico não é distribuído.
Espero que já tenha percebido que o pessoal prefere escolas e hospitais a estádios de futebol.
Espero que já tenha percebido que não se podem desalojar pessoas sem motivo.
Espero que já tenha percebido que o crescimento está a desacelerar.
Espero que já tenha percebido que a inflação está a subir.
Espero que já tenha percebido que lugares internacionais em organizações internacionais não dão de comer.
Espero que já tenha percebido que o povo não é burro.
quinta-feira, 20 de junho de 2013
"Tanzania: Police Abuse, Torture, Impede HIV Services"
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Assim vai a Europa! - "Zona euro. A "solidariedade" que enriquece os ricos e empobrece os pobres"
Um excelente artigo de Filipe Paiva Cardoso no i de hoje
Assim, e olhando para a evolução dos diferentes poderes de compra dos europeus de 2009 até 2012, os dados mostram que o Norte e o Centro da moeda única enriqueceram nestes anos, ao passo que os menos ricos, sobretudo situados no Sul, ficaram ainda mais longe dos padrões de vida a norte. O resultado choca com os discursos de solidariedade entre estados, mas resulta em parte dessa suposta solidariedade de Bruxelas, Berlim e demais instituições.
Segundo os dados de ontem do Eurostat, a zona euro fechou 2012 com um PIB per capita equivalente a 108% da média da UE27. Em 2009, a zona euro apresentava uma média de 109% face à média dos 27. Contudo, olhando em detalhe para cada um dos países da moeda única, notam-se evoluções completamente opostas: os países afogados em austeridade e em juros impostos pelos pacotes de "ajuda" estão em queda livre em termos de PIB per capita, ao passo que os países que "ajudam" estão a enriquecer.
Os portugueses, por exemplo, passaram de um PIB per capita de 80% da média da UE27 em 2009 para 75% em 2012; na Grécia a queda foi ainda mais abrupta, com um recuo de 94% para 75%, estando agora ao nível português. Em Itália e Espanha, sem pacotes de ajuda mas entre os "maus da fita" do Sul, as quedas foram idênticas: de 104% e 103% para 98% e 97%, respectivamente. Já fora do Sul, os alemães reforçaram o poder de compra de 115% da média da UE27 para 121%; os austríacos de 125% para 131%; os holandeses recuaram ligeiramente mas persistem acima dos valores alemães; na Finlândia o PIB per capita cresceu de 114% para 115% e no Luxemburgo o valor subiu para 271%.
Se é certo que opções, erros e más políticas dos governos dos últimos anos de Portugal ou Grécia, por exemplo, são os grandes responsáveis pela queda destes países em recessão, também é cada vez mais evidente que os países ricos da zona euro souberam pôr a desgraça alheia a render em seu proveito: os pacotes de "ajuda" impostos aos países em dificuldades asseguraram uma enorme margem de lucro para estes, através dos juros cobrados aos países "irmãos" do euro, que, não fossem os elevadíssimos custos dos juros suportados pelos empréstimos "solidários", estariam já mais longe do caos: Portugal gasta por ano 4,4% do seu PIB em juros - 7,2 mil milhões de euros -, valor que sai directamente dos bolsos dos contribuintes e dos trabalhadores portugueses para dezenas de cofres de Estados e bancos europeus.
terça-feira, 18 de junho de 2013
"Recep Tayyip Erdogan a-t-il un jour cru à une Turquie européenne?"
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Filme Recomendado - "Searching for Sugar Man"
Se não viu este filme, vá ver.
Vale a pena conhecer um compositor e cantor extraordinário, um homem que nos dá uma lição de vida: Sixto Rodriguez
Uma interpretação dos acontecimentos na Turquia - "Turkey’s Class Struggle"
"Renegociar já, mas não como os credores querem"
Com as intervenções da troika, uma parte importante da dívida grega e portuguesa passou de mãos dos credores privados, internos e externos, para a de credores oficiais – o FMI, o BCE e os fundos da União Europeia. Para isso serviram os resgates: para transferir dívida pública tóxica do sector privado para o sector público. Quem agora o reconhece, com a mais desavergonhada candura, é o FMI no relatório sobre a Grécia que recentemente veio a público: “Uma reestruturação à partida teria sido melhor para a Grécia, apesar disto não ser aceitável pelos parceiros do euro. Uma reestruturação atrasada também criou a janela para os credores privados reduzirem a sua exposição e mudarem a dívida para as mãos de credores oficiais (FMI, BCE e instrumentos europeus). Esta mudança ocorreu numa escala significativa e limitou um bail in (resgate envolvendo os detentores de títulos de dívida)… deixando os contribuintes e os Estados com a responsabilidade de pagar”.
Compreende-se assim que, “à partida”, os banqueiros não quisessem nada com a reestruturação da dívida. “Temos de evitar a reestruturação da dívida o mais possível porque se fizermos perder dinheiro àqueles que nos emprestaram dinheiro, esses não vão voltar a emprestar outra vez”, disse José Maria Ricciardi, segundo o jornal Sol, no dia 27 de Dezembro de 2011.
E compreende-se também que a opinião agora comece a mudar. “Se até 2014 a economia não crescer, vai ser necessário reestruturar a dívida”, disse o mesmo Ricciardi em entrevista ao Jornal de Negócios na semana passada.
Não era difícil perceber o que devia ser feito em 2010 na Grécia e 2011 em Portugal — Grécia e Portugal deviam ter desencadeado uma renegociação da dívida tendente à sua reestruturação. Mas a reestruturação atempada da dívida teria feito “perder dinheiro àqueles que nos emprestaram dinheiro” e isso era inaceitável para quem condicionava e acabou por determinar as decisões políticas do momento — os bancos e os fundos de investimento.
A situação agora é outra. Agora, perante os resultados da austeridade, interessa aos banqueiros garantir a cobrança de alguma coisa antes que as vítimas da austeridade se tornem incapazes de pagar o que quer que seja. Por isso falam de reestruturação da dívida.
Será que isso significa que a renegociação da dívida e a sua reestruturação já não interessa aos povos da Grécia e de Portugal? É claro que interessa. Só a renegociação, acompanhada de uma moratória, e a reestruturação, com anulação de uma parte do valor da dívida, redução das taxas de juro e alongamento das maturidades, pode reduzir o peso dos juros na despesa pública, evitar o colapso da provisão pública de bens e serviços e libertar recursos para o investimento e a criação de emprego.
Mas a reestruturação de que Portugal e a Grécia precisam não é a dos credores. Aos credores interessa aliviar o fardo para que o “animal” continue a ser capaz de puxar a carroça. Aos povos grego e português interessa alijar a carga para caminhar em frente, sem condições impostas pelos credores.
A renegociação tendente à reestruturação da dívida de que precisamos tem de ser conduzida em nome do interesse nacional, contra o interesse dos grandes credores e salvaguardando os pequenos aforradores. O Estado português tem de tomar a iniciativa e conduzir todo o processo. Mas o Governo português, o Presidente da República e a maioria dos deputados da Assembleia da República fingem não perceber. Estão sentados à espera que os credores mandem. Em contrapartida, cresce na sociedade a compreensão da necessidade de agir.
A Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida (IAC), que desde a sua fundação em Dezembro de 2011 tem vindo a trabalhar para conhecer e dar a conhecer a dívida pública (ver o Relatório “Conhecer a dívida para sair da armadilha”), lançou, em conjunto com outras organizações, a campanha Pobreza não paga a dívida: renegociação já!
Responde esta campanha à necessidade sentida pela IAC de complementar o trabalho de estudo e análise da dívida pública, que prosseguirá, com mais debate público sobre as causas e as consequências da dívida e mobilização pela sua renegociação com a participação dos cidadãos.
A campanha envolve uma petição dirigida à Assembleia da República, instando-a a pronunciar-se pela abertura urgente de um processo de renegociação da dívida pública, pela criação de uma entidade para acompanhar a auditoria à dívida pública e o seu processo de renegociação e pela garantia de que nestes processos existe isenção de procedimentos, rigor e competência técnicas, participação cidadã qualificada e condições de exercício do direito à informação de todos os cidadãos e cidadãs.
Trata-se de fazer ouvir em S. Bento uma opinião e uma vontade que acreditamos ser maioritária na sociedade portuguesa.
É certo que quando tudo está a arder uma petição parece pouco. No entanto, com um número pouco usual de assinaturas, a petição terá força. Confrontando os membros da Assembleia da República com as suas responsabilidades, poderá acordá-los para a necessidade de não fazer o que os credores querem.
A petição pode ser subscrita online em http://pobrezanaopagaadivida.info/subscrever-peti-o.html
José Maria Castro Caldas no Público de hoje
Lei das Rendas - A luta continua!
MOÇÃO
Inquilinos, na sua grande maioria reformados, reunidos no dia 3 de Junho de 2013 na Escola Eugénio dos Santos, manifestam a sua profunda indignação pelas intenções do Governo de sobre eles criar novos impostos sob a camuflada designação de “taxas” e de considerar simultaneamente a hipótese de retroagir sobre as pensões de reforma da Caixa Geral de Aposentações.
Prossegue assim o Governo uma política de duvidosa constitucionalidade, com medidas que, cumulativamente com os sucessivos aumentos no IRS, provocam uma severa erosão dos rendimentos dos reformados e pensionistas e de outros grupos sociais.
No caso dos contratos de arrendamento habitacional anteriores a 1990, o conjunto de todas as medidas agravará sobremaneira a probabilidade de incumprimento por parte de numerosas famílias, com as consequentes e muito lamentáveis acções de despejo.
Aprovada por unanimidade
domingo, 16 de junho de 2013
A propósito da greve dos professores
Realiza-se amanhã uma greve de professores.
Os objetivos da greve estão expressos nos pré-avisos
entregues:
· Em defesa do horário de trabalho e da sua matriz pedagógica e contra o eventual aumento para as 40 horas semanais;
· Contra os cortes salariais;
· Contra medidas que visam destruir postos de trabalho;
· Pela humanização da escola, pela valorização do currículo e pela redução de alunos por turma;
· Contra os cortes orçamentais na Educação, Ensino e na Investigação Científica;
· Pela qualidade do ensino e pelo futuro dos nossos alunos;
· Em defesa da Escola Pública e das demais funções do Estado.
Esta é uma greve justa. Estão em causa aspetos
importantíssimos para o futuro da educação em Portugal e, consequentemente,
para o futuro do país.
Tal como todos os portugueses, os professores são vítimas da
política de austeridade do governo, das medidas da troika, do ataque aos
direitos dos trabalhadores, do esbulho aos rendimentos dos cidadãos, do corte
de direitos no trabalho, etc., etc..
Mas, neste caso particular, não é só isso que está em causa.
É também uma forma de encarar o futuro de um país.
Um professor é alguém que, para além de exercer a sua
profissão, tem uma função formativa que pode marcar o futuro de um país. O
professor não é mais nem menos do qualquer outro cidadão, mas dele depende muito
do desenvolvimento da nossa juventude.
Os ataques à estabilidade profissional e pessoal de qualquer
professor põe em causa a qualidade do ensino que ministra.
Aqueles que argumentam, como o governo, que esta greve põe
em causa os direitos e a estabilidade dos estudantes são imediatistas e não
percebem que, o que está em causa, é o futuro.
É evidente que nenhum aluno será prejudicado. Não faz exame
amanhã? Faz noutro dia. É melhor do que, num amanhã próximo, poder não ter um
ensino que se possa chamar ensino.
Quantos dos professores que amanhã farão greve têm filhos
que não vão fazer exame? Milhares com certeza. E são piores pais do que os
outros?
David Mourão-Ferreira - m. 16/06/1996
Crepúsculo
É quando um espelho, no quarto,
se enfastia;
Quando a noite se destaca
da cortina;
Quando a carne tem o travo
da saliva,
e a saliva sabe a carne
dissolvida;
Quando a força de vontade
ressuscita;
Quando o pé sobre o sapato
se equilibra...
E quando às sete da tarde
morre o dia
- que dentro de nossas almas
se ilumina,
com luz lívida, a palavra
despedida.
sexta-feira, 14 de junho de 2013
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Fernando Pessoa - 125 anos
Livro do Desassossego, 1919
Santo António
SANTO ANTÓNIO
Nasci exactamente no teu dia —
Treze de Junho, quente de alegria,
Citadino, bucólico e humano,
Onde até esses cravos de papel
Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir...
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!
Santo António, és portanto
O meu santo,
Se bem que nunca me pegasses
Teu franciscano sentir,
Católico, apostólico e romano.
(Reflecti.
Os cravos de papel creio que são
Mais propriamente, aqui,
Do dia de S. João...
Mas não vou escangalhar o que escrevi.
Que tem um poeta com a precisão?)
Adiante ... Ia eu dizendo, Santo António,
Que tu és o meu santo sem o ser.
Por isso o és a valer,
Que é essa a santidade boa,
A que fugiu deveras ao demónio.
És o santo das raparigas,
És o santo de Lisboa,
És o santo do povo.
Tens uma auréola de cantigas,
E então
Quanto ao teu coração —
Está sempre aberto lá o vinho novo.
Dizem que foste um pregador insigne,
Um austero, mas de alma ardente e ansiosa,
Etcetera...
Mas qual de nós vai tomar isso à letra?
Que de hoje em diante quem o diz se digne
Deixar de dizer isso ou qualquer outra coisa.
Qual santo! Olham a árvore a olho nu
E não a vêem, de olhar só os ramos.
Chama-se a isto ser doutor
Ou investigador.
Qual Santo António! Tu és tu.
Tu és tu como nós te figuramos.
Valem mais que os sermões que deveras pregaste
As bilhas que talvez não concertaste.
Mais que a tua longínqua santidade
Que até já o Diabo perdoou,
Mais que o que houvesse, se houve, de verdade
No que — aos peixes ou não — a tua voz pregou,
Vale este sol das gerações antigas
Que acorda em nós ainda as semelhanças
Com quando a vida era só vida e instinto,
As cantigas,
Os rapazes e as raparigas,
As danças
E o vinho tinto.
Nós somos todos quem nos faz a história.
Nós somos todos quem nos quer o povo.
O verdadeiro título de glória,
Que nada em nossa vida dá ou traz
É haver sido tais quando aqui andámos,
Bons, justos, naturais em singeleza, Que os descendentes dos que nós amámos
Nos promovem a outros, como faz
Com a imaginação que há na certeza,
O amante a quem ama,
E o faz um velho amante sempre novo.
Assim o povo fez contigo
Nunca foi teu devoto: é teu amigo,
Ó eterno rapaz.
(Qual santo nem santeza!
Deita-te noutra cama!)
Santos, bem santos, nunca têm beleza.
Deus fez de ti um santo ou foi o Papa? ...
Tira lá essa capa!
Deus fez-te santo! O Diabo, que é mais rico
Em fantasia, promoveu-te a manjerico.
És o que és para nós. O que tu foste
Em tua vida real, por mal ou bem,
Que coisas, ou não coisas se te devem
Com isso a estéril multidão arraste
Na nora de uns burros que puxam, quando escrevem,
Essa prolixa nulidade, a que se chama história,
Que foste tu, ou foi alguém,
Só Deus o sabe, e mais ninguém.
És pois quem nós queremos, és tal qual
O teu retrato, como está aqui,
Neste bilhete postal.
E parece-me até que já te vi.
És este, e este és tu, e o povo é teu —
O povo que não sabe onde é o céu,
E nesta hora em que vai alta a lua
Num plácido e legítimo recorte,
Atira risos naturais à morte,
E cheio de um prazer que mal é seu,
Em canteiros que andam enche a rua.
Sê sempre assim, nosso pagão encanto,
Sê sempre assim!
Deixa lá Roma entregue à intriga e ao latim,
Esquece a doutrina e os sermões.
De mal, nem tu nem nós merecíamos tanto.
Foste Fernando de Bulhões,
Foste Frei António —
Isso sim.
Porque demónio
É que foram pregar contigo em santo?
Fernando Pessoa
quarta-feira, 12 de junho de 2013
"Luta de classes"
A cultura é usada como símbolo de status por alguns, alfinete de lapela, botão de punho. A raridade é condição indispensável desse exibicionismo. Só pertencendo a poucos se pode ostentar como diferenciadora. Essa coleção de símbolos é descrita com pronúncia mais ou menos afetada e tem o objetivo de definir socialmente quem a enumera.
Para esses indivíduos raros, a cultura é caracterizada por aqueles que a consomem. Assim, convém não haver misturas. Conheço melhor o mundo da leitura, por isso, tomo-o como exemplo: se, no início da madrugada, uma dessas mulheres que acorda cedo e faz limpeza em escritórios for vista a ler um determinado livro nos transportes públicos, os snobs que assistam a essa imagem são capazes de enjeitá-lo na hora. Começarão a definir essa obra como "leitura de empregadas de limpeza" (com muita probabilidade utilizarão um sinónimo mais depreciativo para descrevê-las).
Este exemplo aplica-se em qualquer outra área cultural que possa chegar a muita gente: música, cinema, televisão, etc. Aquilo que mais surpreende é que estes "argumentos", esta forma de falar e de pensar seja utilizada em meios supostamente culturais por indivíduos supostamente cultos, e só em escassas ocasiões é denunciada como discriminadora do ponto de vista sexual ou social.
Isso são livros de gaja, dizem eles. Às vezes, para cúmulo, há mesmo mulheres que dizem: isso são livros de gaja.
A raiz da minha cultura não pertence ao elitismo. Tenho orgulho das minhas origens, do meu avô pastor, do meu pai carpinteiro, como outros têm orgulho dos seus longos nomes compostos.
Depois de um trabalho que encerre convicções profundas, que tenha em conta os princípios da sua área artística, que seja consciente da história dessa área e que faça uma proposta coerente e inovadora, acredito na divulgação o mais ampla possível.
Esconder uma obra em tiragens de 300 exemplares não lhe acrescenta um grama de valor artístico. Quando essa falta de divulgação resulta de uma escolha, pressupõe, quase sempre, falta de consideração pelo público, a crença de que um público mais vasto seria incapaz de entender tamanha sofisticação.
Acredito que a poesia pode ser publicada em caixinhas de fósforos, escrita com trincha ou spray nas paredes, impressa em t-shirts, afixada no facebook. Em qualquer um desses lugares, será diferente, mas em todos continuará a ser poesia.
É ridícula a ideia de que a divulgação deturpa. A banalização é sempre tarefa de quem banaliza e não do objeto banalizado. Quem não for capaz de convocar os seus sentidos e a sua razão para apreciar uma determinada obra, apenas por acreditar que se encontra muito difundida, tem problemas graves ao nível do espírito crítico e da isenção mais básica. Esse é um daqueles casos em que se aconselha a lavagem de olhos. É aí que reside a deturpação.
Admiro o povo ao qual pertenço. Não o povo mitificado, admiro o povo quotidiano. Gosto de ir a feiras. Gosto de comer frango assado com as mãos. Devo tanto à cultura deste povo como devo a Dostoievski Há alguns meses, a personagem de uma telenovela citou um poema escrito por mim. Toda a gente da minha rua viu e ouviu. A minha mãe ficou orgulhosa e eu também.
Chamo-me José ou, se preferirem, Zé. Desprezo o elitismo. O verbo não é exagerado, adequa-se bem ao que sinto.
Hei de sempre divulgar o meu trabalho na máxima dimensão das minhas capacidades. Devo esse esforço à convicção que tenho naquilo que escolhi dizer. Fico feliz se vejo os meus livros disponíveis em supermercados, estações de correios, bombas de gasolina ou bibliotecas públicas.
Aquilo que faço não existe sozinho, precisa de alguém que lhe dê sentido, o seu próprio sentido e interpretação pessoal. Se uma árvore cair sozinha na floresta, sem ninguém por perto, será que faz barulho? Por esse motivo, o esforço de divulgação é também uma mostra de respeito para com essas pessoas, é um sinal da minha crença nelas e no seu valor. Exatamente como estas palavras, que existem porque estás a lê-las.
Escrevo romances, a minha força de vontade é enorme. Tenho 38 anos, conto estar por cá durante bastante tempo. Tenho ainda muito por fazer.
Habituem-se.
Não tenho medo.
Daqui
terça-feira, 11 de junho de 2013
O "Big Brother" - Como os norte-americanos espiam os europeus
Cartoon de Burthard Mohr
Revelado pelos jornais The Guardian e The Washington Post, a cibervigilância alargada exercida pela NSA é apenas um dos aspetos da intrusão dos serviços secretos norte-americanos na vida privada dos europeus. E os seus governos têm dificuldade em oporem-se – e muitas vezes são eles próprios que a consentem.
Daqui
Artigo do The Guardian: Edward Snowden: the whistleblower behind the NSA surveillance revelations
segunda-feira, 10 de junho de 2013
domingo, 9 de junho de 2013
"Casario" - um poema sobre Lisboa de Vasco Graça Moura
© Paula Cabeçadas
Casarioem lisboa eu prefiro o casario
que se narcisa visto da outra banda
no espelho às vezes turvo deste rio
na limpidez do rio às vezes branda
é entre o mar da palha e o bugio
que o renque das fachadas se desmanda
em tons de porcelana ao desafio
em cada patamar, cada varanda
e a luz de água e azul a derramar-se
vem envolver-lhe o vulto reflectido,
dar-lhe o contraste de uns ciprestes, dar-se
como um banho lustral e desmedido
é véu de gaze leve o seu disfarce
mas é tão ténue e frágil o tecido
que pode acontecer que ainda o esgarce
um voo de gaivotas esquecido
então seu corpo sob o véu rasgado
terá uma outra luz densa e leitosa
translúcida nudez do compassado
coração da cidade branca e rosa
Vasco Graça Moura
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