© Paula Cabeçadas
Casarioem lisboa eu prefiro o casario
que se narcisa visto da outra banda
no espelho às vezes turvo deste rio
na limpidez do rio às vezes branda
é entre o mar da palha e o bugio
que o renque das fachadas se desmanda
em tons de porcelana ao desafio
em cada patamar, cada varanda
e a luz de água e azul a derramar-se
vem envolver-lhe o vulto reflectido,
dar-lhe o contraste de uns ciprestes, dar-se
como um banho lustral e desmedido
é véu de gaze leve o seu disfarce
mas é tão ténue e frágil o tecido
que pode acontecer que ainda o esgarce
um voo de gaivotas esquecido
então seu corpo sob o véu rasgado
terá uma outra luz densa e leitosa
translúcida nudez do compassado
coração da cidade branca e rosa
Vasco Graça Moura
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